Especialistas alertam para risco de retorno de circulação de doenças ainda não erradicadas
Dados do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde trazem preocupação às autoridades da área. Isso porque a vacinação de crianças menores de 1 ano teve seu menor índice de cobertura em 16 anos. Nos últimos dois anos, a meta de ter 95% da população-alvo protegida não foi alcançada no País. Na região não é diferente. A queda na procura pelo serviço gratuito alerta para os riscos de retorno de doenças ainda não erradicadas, como é o caso da poliomielite (paralisia infantil) e do sarampo.
No ano passado, somente a vacina da BCG (contra a tuberculose) teve índice satisfatório em âmbito nacional, com 91,4% de cobertura. Na região, entretanto, apenas Santo André e São Bernardo se aproximaram da meta de 95% da população-alvo, com 89,57% e 81,74%, de crianças imunizadas, respectivamente. Em São Caetano, a vacinação atingiu 79,62%; Diadema, 76,81%; e, em Ribeirão Pires, o índice foi ainda menor: 55,31%.
Na cidade andreense, a vacina contra a poliomielite, cuja cobertura vacinal do público infantil em 2001 era de 84,76%, em 2017 teve queda para 72,52%. Além disso, no ano passado a vacinação conjugada contra meningococo C, que previne uma das formas mais graves de meningite bacteriana, atingiu apenas 71,9% das crianças na cidade.
São Bernardo dispõe de dados a partir de 2006 e, na comparação com o ano passado, a vacina que registrou a maior queda foi contra a poliomielite, passando de 99,3% para 84,41%. Em São Caetano, a menor adesão em 2017 foi da vacina meningocócica C, com 73,11% de cobertura.
Diadema forneceu os dados a partir de 2013. Na comparação daquele ano até 2017, as quedas mais significativas foram na imunização da tríplice viral (caxumba, sarampo, rubéola), passando de 104,31% para 83,26%; poliomielite, de 99,86% para 82,91%; e meningocócica conjugada C, de 100,84% para 83,81%. Em Ribeirão Pires, a imunização que mais teve queda nos dois últimos anos foi a de meningite – de 87,25% para 82,05%.
Para o vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri, o cenário acende alerta. “Muitas das doenças que já conseguimos controlar e eliminar foram graças às elevadas coberturas vacinais, mas como no mundo nem todas foram erradicadas – existe polio na África, sarampo na Venezuela, por exemplo –, corre o risco de (as doenças) serem reintroduzidas por indivíduos que viajam, chegam aqui doentes e encontram campo fértil, podendo ter a circulação novamente dos agentes”, salienta.
Para o especialista, a baixa adesão se dá justamente pelo fato de a nova geração de pais não ter vivenciado os problemas causados por essas enfermidades. “Eles não viram difteria, sarampo, paralisia infantil. Acabam não reconhecendo os perigos e riscos e não entendem que a situação para controlar o surto é muito mais difícil do que as ações preventivas”, frisa.
Prefeituras destacam intensificar busca
Preocupadas com a realidade da cobertura vacinal, as prefeituras da região afirmam que têm intensificado a busca daqueles que não estão com a carteira de vacinação em dia.
Em Santo André, a administração diz que dentre os trabalhos de sensibilização estão a parceria com as creches para o monitoramento das cadernetas de vacina das crianças e divulgação nas redes sociais sobre a importância da questão para a prevenção de doenças.
São Bernardo informa que foi solicitado às UBSs (Unidades Básicas de Saúde) a atualização das cadernetas.
Em São Caetano, a secretária de Saúde da cidade, Regina Maura Zetone, destaca que o reforço das campanhas tem sido feito pelas redes sociais e também pelo aplicativo Portal Saúde 24h, que contém todas as orientações sobre o tema. “A estratégia de Saúde da Família orienta, casa a casa, sobre a importância da vacinação”, acrescenta.
O Executivo de Diadema fala que a questão tem sido discutida em todas as instâncias e que as UBSs têm intensificado as ações de busca ativa e sensibilização da comunidade.
Em Ribeirão Pires, a sensibilização é realizada especialmente nas unidades de Saúde e nas creches municipais.
O Ministério da Saúde ressalta que é necessário “desmistificar a ideia de que a vacinação traz malefícios”. “As vacinas são seguras e passam por rígido processo de validação. É no momento de calmaria, quando não há surtos de doenças, que a população deve se vacinar”, pontua a Pasta.
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