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Peça ‘4.48 Psicose’ impõe questões do cotidiano em SP
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
17/10/2003 | 19:48
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Em suas cinco peças, a inglesa Sarah Kane (1971-1999) apresentou um olhar diferenciado sobre o nosso tempo que provocou impacto nos meios teatrais. 4.48 Psicose é o último texto da autora, que se suicidou pouco tempo depois. A primeira montagem brasileira da peça estréia neste sábado no Sesc Belenzinho, em São Paulo. Luciana Vendramini e Luiz Päetow atuam sob a direção de Nelson de Sá. Laerte Mello assina a tradução do texto.

“A peça fala sobre o colapso psicótico que acontece na mente quando não se sabe diferenciar a realidade da vida em sonho, sobre depressão, ansiedade, angústia, falta de amor e de amor próprio, a imperfeição do amor”, afirma Luciana. A atriz, no entanto, evita associar à autora qualquer tipo de doença: “É uma extrema lucidez”.

Sarah enxergava com nitidez questões contemporâneas e seus textos se abrem para diversas interpretações. “Ela fala sobre como está nossa mente hoje, sobre as guerras da nossa cabeça, sobre como a tecnologia influencia a gente e como nos moldamos a ela”, diz Luciana.

Pressões da sociedade que tende a rotular as pessoas também estão entre os alvos do texto. “Você pode ser tachado de louco se não estiver dentro de restrições sociais, se não seguir regras moralistas”, afirma a atriz. A dificuldade de reagir a isso está exposta em cena.

As guerras do cotidiano são outro tema abordado pela autora. “A sociedade que torna você infeliz fornece drogas para eliminar essa infelicidade. Há muitos remédios para ver o mundo cor-de-rosa, pois é difícil aceitar a nossa condição precária, tentamos mascarar conflitos, dúvidas, inseguranças. A peça fala sobre nossa alma, nossa cabeça, e as pessoas têm medo de tocar nesse assunto”, diz. Há, portanto, uma perspectiva crítica, de contestação.

Um tanque de cerca de 12m de diâmetro configura o espaço cênico. “O espectador fica a 1m do ator. O espetáculo fica mais íntimo, as pessoas se envolvem”, afirma. Projeções de imagens se ajustam ao trabalho de interpretação. O texto não é linear.

A atriz francesa Isabelle Huppert esteve em São Paulo, em fevereiro, para três apresentações de 4.48 Psychose, cujos ingressos se esgotaram em poucas horas. Luciana, que há dez anos não estréia uma peça, não viu. “Foi bom, porque não gosto de assistir às coisas que outras atrizes já fizeram”, diz.




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