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'Desh' mostra a história de Bangladesh
17/10/2014 | 08:00
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O bailarino e coreógrafo Akram Khan já tinha pensado em um espetáculo de tema pessoal, mas estava fugindo da criação. Foi o cenógrafo chinês Timmy Yip - responsável pelas premiações no Oscar 2001 de melhor fotografia e melhor direção de arte para o longa O Tigre e o Dragão (de Ang Lee) - que sugeriu que Khan falasse sobre suas origens. O bailarino questionou a razão de fazer um espetáculo sobre Londres, mas Yip se referia a outro local. "Bangladesh não é anterior à sua origem, mas parte dela", disse Yip. Assim começou a surgir Desh, que, após estrear em setembro de 2011, em Leicester, na Inglaterra, chega nesta sexta-feira, 17, a São Paulo como integrante da 11.ª Temporada de Dança do Teatro Alfa - em curtíssima temporada.

Nascido em Londres, Khan é filho de bangladeshianos. Em casa, as conversas eram sempre em bengali - idioma oficial do país. Na infância e adolescência, o coreógrafo viajava a Bangladesh uma ou duas vezes por ano, sempre por motivos familiares: nascimentos, casamentos, sepultamentos. Ainda assim, sua relação com o local não era tão intensa. "Eu nunca soube o que significa ser de Bangladesh e ainda não sei, nunca fui muito patriota", diz Khan. "Se eu não tivesse parentes lá, provavelmente eu nunca teria voltado." Esse posicionamento gerava um desgosto por parte do pai, que desejava que o filho fosse mais próximo à cultura oriental. Khan se define ao lembrar as palavras da bailarina indiana de kathak Kumudini Lakhia: "Não levanto bandeira para país nenhum, preciso das minhas mãos livres para dançar".

Para criar Desh, então, foi necessário fazer uma pesquisa: Khan levou toda a sua equipe de criação para uma incursão de dez dias em Bangladesh. Lá, conversaram com ativistas, políticos, músicos, fazendeiros, pescadores. "Coletamos memórias visuais, som, aromas, toques, sentimentos. De volta a Londres, pensamos no que fazer com toda essa informação."

O resultado é um espetáculo extremamente pessoal. No palco, o bailarino executa movimentos essencialmente contemporâneos, que têm influências de folk, kathak - ritmo indiano pesquisado por Khan - e até referências ocidentais, como os passos de Michael Jackson. Há, ainda, toques de teatro: desenhando um rosto na parte superior de sua cabeça, Khan incorpora seu próprio pai, que fala firme com o filho, contando sobre sua vida.

Durante a experiência em Bangladesh, Khan percebeu que não poderia deixar de falar sobre as crianças. "É nelas que se apoiam a força e a criatividade", diz. Vem daí a cenografia do espetáculo, que tem uma perspectiva infantil. Na cena da foto ao lado, por exemplo, o coreógrafo se senta sobre uma imensa cadeira. Ele explica que a inspiração veio do fato de que a maioria das coisas é feita para adultos e é nessa dimensão que as crianças enxergam o mundo.

Também no universo infantil, uma bela projeção mostra desenhos de uma floresta bangladeshiana conhecida por seus mitos. "Brincamos com realidade e ilusão. Na infância, ambas andam juntas. Quando crescemos, somos condicionados a parar de sonhar." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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