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População batalha para manter bosque em Utinga

Área vem sendo revitalizada desde o início do ano por moradores, que temem boato de que espaço dará lugar a uma rua

Aline Melo
26/07/2018 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 “Sabe do que mais gosto aqui? Do barulhinho que faz quando piso nas pedras e nas folhas crocantes.” Essa frase simples e cheia de beleza reflete os sentimentos da pequena Maria Venâncio Matsumoto, 5 anos, que mora ao lado de uma grande área pública localizada na altura no número 1.971 da Avenida Utinga, em Santo André. 

Ao lado do Cras (Centro de Referência em Assistência Social), o terreno que até o início do ano era apenas grande área com árvores, muito mato e dois bancos de concreto – um deles, quebrado – vem se transformando em um oásis verde pela atuação voluntária do professor de ioga Giancarlo Tola, 36, e de vizinhos. “Moro bem próximo e já usava o espaço para meditar perto das árvores. Em março cortaram mais o mato e vi a possibilidade de melhorar o local e fiz um primeiro caminho de pedras”, relatou.

Aos poucos, outras pessoas foram se unindo ao trabalho voluntário e hoje o “bosque”, como é conhecido o local pelos vizinhos, foi ganhando cuidados e mais visitantes. “Tiramos mais o mato, abrimos trilhas. Mas já há bastante tempo existe o boato de que a Prefeitura vai abrir uma rua, ligando a Avenida Utinga com a Avenida dos Estados. Nunca conseguimos confirmar, mas todo mundo já ouviu sobre essa história”, explicou.

Moradora do condomínio ao lado do bosque, a atriz Ligia de Campos Correa, 36, costuma ir com o filho e outras crianças – entre elas, Maria – e também se preocupa com a possibilidade de haver uma intervenção no local. “Era só um terreno e foi sendo cuidado aos poucos. Fizeram os caminhos de pedras, o balanço de pneu, tudo de forma voluntária. Não podemos e não queremos perder tudo isso”, declarou.

A munícipe afirmou que, além de não permitir a obra, seria importante que a Prefeitura auxiliasse a conservação do espaço. “Nem precisa de muita coisa. Não precisa de iluminação, de equipamento de ginástica, nada disso. Gostamos daqui do jeito que está”, pontuou. “Já achamos aqui uma colmeia de abelha, um ninho de pássaros. Precisamos preservar e não perturbar essa natureza”, concluiu. Também vizinha do bosque, a dona de casa Erotilde Martins, 57, lembrou que, após as intervenções, o local parou de ser utilizado para o consumo de drogas. “Cortaram o mato e a gente até se sente mais segura”, afirmou. Foi Erotildes quem doou o carrinho de mão que hoje serve como canteiro de mudas e vasos de suculentas. “Emprestamos para o transporte de pedras e, como estava muito velho, o Gian e os amigos dele nos doaram outro.”

Antes de a equipe do Diário ir embora, Maria fez questão de mostrar o “tesouro” que foi encontrado no dia anterior: um varal com tsurus, pequenos pássaros de papel. Na cultura japonesa, os tsurus simbolizam saúde, sorte, felicidade, longevidade e fortuna.

A Prefeitura de Santo André informou, por meio de nota, que o terreno encontra-se desocupado, é público e será vistoriado ainda nesta semana para que sejam tomadas as medidas cabíveis quanto aos serviços de manutenção. A administração informou, também, que não há definição, neste momento, para a destinação do espaço.




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