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Projeto social busca combater a pobreza menstrual em Sto.André

Iniciativa vai distribuir 750 absorventes reutilizáveis para meninas e mulheres

Thaina Lana
19/12/2021 | 05:01
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André Henriques/DGABC


Na luta contra a chamada pobreza menstrual, condição vivenciada por meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade durante o ciclo menstrual, o projeto Fluxo Sustentável conquistou nesta semana o financiamento necessário para promover diversas ações no Jardim Santo André, região periférica do município. A iniciativa distribuirá, entre janeiro e fevereiro, cerca de 750 absorventes de tecido durante as oficinas de educação menstrual que serão promovidas na comunidade. 

Ao todo, serão entregues 150 kits, contendo cinco absorventes reutilizáveis e material didático para manter a conservação do item, que possui durabilidade de até três anos. A produção dos absorventes em tecido busca diminuir o impacto ambiental, já que uma mulher pode acumular cerca de 200 quilos de lixo somente em absorventes descartáveis, produto feito de plástico, material que demora mais de 400 anos para se decompor na natureza, segundo dados do Instituto Akatu. 

Maria Lucicléia Maia de Almeida, 34 anos, que será uma das beneficiadas pelo projeto, luta a cada mês contra a falta de acesso a itens básicos de higiene durante seu ciclo menstrual e da filha mais velha. Mãe de quatro filhos, Lucas (15), Luana (15), Layane (8) e Lais, de apenas oito meses, ela conta que já teve que escolher entre comprar comida ou absorvente. “Entre comprar um absorvente para mim ou leite para os meus filhos, não penso duas vezes em escolher a comida. Já usei pano, roupa e até fralda da minha bebê durante a menstruação. Não me importo em passar dificuldades, passo por isso desde adolescente, mas minha filha não está acostumada, então fico sem para dar para ela”, desabafa a mãe solteira. A ideia de receber absorventes de tecido animou Lucicléia, como prefere ser chamada. “A menstruação não é uma escolha, é uma necessidade, e por mais barato que seja o item, tem pessoas que não têm dinheiro nem para comprar o pão do café da manhã. Achei genial a ideia do projeto, porque agora vamos poder lavar o absorvente e usar de novo. Vai economizar muito aqui em casa”, finaliza. 

PRODUÇÃO LOCAL 
A escolha do material reaproveitável também busca estimular a economia solidária no bairro, por meio da geração de renda para costureiras da própria comunidade, que receberão treinamento para fabricação dos produtos. A idealizadora do projeto e educadora sexual Amanda Abreu, 34 anos, acrescenta que a escolha pelo absorvente reutilizável é por oferecer maior durabilidade, o que ajudará as mulheres que serão contempladas. 

“O absorvente descartável não iria garantir a segurança menstrual por muito tempo. Sem contar que acredito na potência do território, então faz total sentido aproveitar a mão de obra local para fabricar os produtos de tecido e, assim, estimular a autonomia financeira das costureiras”, explica Amanda, que nasceu e cresceu no bairro.

Para poder mudar a realidade de quem vivencia a pobreza menstrual na comunidade, o projeto contou com o financiamento coletivo de pessoas que se identificaram com a causa. Em 20 dias de campanha, foram arrecadados R$ 30 mil, valor que irá cobrir os custos do material e confecção dos absorventes, além da produção das oficinas que serão ministradas pela prórpia educadora. A arrecadação vai até amanhã na plataforma Benfeitoria, e os valores adicionais serão revertidos para fabricação de mais unidades de absorventes.  

Educação menstrual: caminho para autonomia

Com ampla experiência na área, Amanda Abreu formou-se em administração de empresas em 2008 e, após dez anos na profissão, decidiu começar pós-graduação em educação sexual. No fim de 2017 passou a atuar como educadora menstrual e em sexualidade no Jardim Santo André, em ONGs, espaços culturais e instituições, conhecendo de perto  as vulnerabilidades de cada região e ensinando a outras meninas e mulheres sobre a autonomia dos seus próprios corpos. 

A educadora reforça a importância da educação para o combate à pobreza menstrual. “Falar sobre educação menstrual é uma luta por equidade de gênero, com foco no questionamento nas narrativas que geram opressão sobre meninas e mulheres, desconstruindo os tabus e assim naturalizando o tema para uma vivência mais leve”, conta Amanda, que ainda explica que nas oficinas que serão ofertas na comunidade Jardim Santo André também serão abordados temas sobre os direitos sexuais e reprodutivos da mulher.

“Nas periferias de todo País temos um índice de gravidez na adolescência muito alto. Muitas pessoas pensam que essas meninas têm acesso à informação, porém será que isso é feito de maneira correta? Precisamos falar sobre todas as oportunidades disponíveis para que ela se previna e consiga conquistar sua autonomia”, finaliza.

Os cursos serão ministrados pela própria Amanda e devem ocorrer no próximo mês em espaços culturais do bairro. A programação com as datas, horários e endereço estarão disponíveis na página do projeto no Instagran (@sustentavelfluxo).




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