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Futurologia

Na semana passada, foi realizada em Las Vegas a CES 2014

Carlos Ferrari
Do Diário do Grande ABC
15/01/2014 | 07:00
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Na semana passada, foi realizada em Las Vegas a CES 2014 (Consumer Eletronics Services), uma das maiores feiras de tecnologia do mundo, caracterizada principalmente por apontar tendências e inovações que farão parte da vida das pessoas no futuro.

Televisores, celulares com telas flexíveis, carros com sistemas operacionais integrados foram algumas das novidades que começaram a chegar de lá. Digo ‘começaram’ porque creio que muito ainda será discutido em cima do que já foi publicado ou mesmo em relação a outras possibilidades ainda não anunciadas.

Pessoalmente, ainda não encontrei notícias significativas relacionadas a tecnologias assistivas e soluções inovadoras de acessibilidade. Isso não significa que nós, pessoas com deficiência, devíamos ficar decepcionados com o evento. Pelo contrário. Creio que a cada notícia já possamos fazer nossos exercícios de futurologia com base no que já temos de recursos tecnológicos.

Notem, por exemplo, que carros com sistemas operacionais integrados, já ricos em acessibilidade, como o iOS da Apple e o Android da Google, que cada vez avançam um pouco mais neste sentido, podem sinalizar um novo mundo para pessoas com diferentes limitações.

Não é impossível imaginar que, em um futuro próximo, tais veículos poderão ser controlados por pessoas com movimentos comprometidos quase que na totalidade, apenas por direcionamento dos olhos ou, quem sabe, até por comando de voz. Pessoas cegas já podem atualmente identificar, com seus Smartphones, rótulos de bebidas, cores de roupas e nível de luminosidade do ambiente. Esta tendência, somada às novidades anunciadas, nos permitiram vislumbrar que logo poderão também, com certeza, identificar indivíduos, sabendo seu nome e detalhes de expressão facial ou corporal, que sinalizarão, por exemplo, informações relacionadas ao nível de humor.

Cabe dizer que realizar prognósticos sobre o futuro não pode ser uma ação irresponsável. Penso que um exercício dessa magnitude só se pode efetivar na medida em que temos claro que nossa realidade atual se viabilizou graças a tentativas semelhantes experimentadas por outros no passado.

Um programa de grande audiência, apresentado aos domingos à noite, trouxe a possibilidade real de pessoas amputadas terem próteses extremamente eficientes produzidas a partir de impressoras 3D. A matéria focou principalmente em mãos biônicas e afirmou que uma solução de milhares de dólares poderá em breve chegar ao usuário por pouco mais de US$ 500.

Quando vi a notícia, além de comemorar a boa nova, fiquei pensando: quantas pessoas têm ideia do que é de fato uma impressora 3D? Talvez seja próximo de zero o percentual da humanidade que hoje já vislumbre o impacto dessa tecnologia em seu futuro. São poucas as pessoas que já se imaginam recebendo, por exemplo, um óculos por e-mail e imprimindo em casa ou mesmo em uma autorizada localizada no próprio bairro.

Pensar o futuro nos permite visualizar um novo modo de vida. Novas possibilidades de convívio, de troca, de produção, de entretenimento, e até de empoderamento político cidadão. Como disse uma vez o francês Sihan Felix, o futuro é o passado em construção, logo, porque não, cada um de nós exercitarmos nossa capacidade de erguer essa edificação, aos moldes do que acreditamos e sonhamos.

Para tanto, não é necessário ser um gênio da mecatrônica, ou um iluminado do mundo das TIS, basta olhar para o lado e passar a imaginar que tudo que existe pode ser bem melhor se for pensado para todos que existem.

Ron Mace chamou isso de desenho universal. Pessoalmente, acredito tratar de algo bem maior e transformador, o que chamo, em última instância, de democratização do acesso ao mundo dos vivos, mas isso já é assunto para um outro texto. Até lá.

* Carlos Ferrari é presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), faz parte da diretoria executiva da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil) e é atual integrante do CNS (Conselho Nacional de Saúde).
 




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