Um dia antes do anúncio de medidas de flexibilização, que deve ser feito hoje pelo Estado, ruas do Grande ABC registram grande movimento
Um dia antes de o governador João Doria (PSDB) anunciar plano gradual de reabertura do comércio – o pronunciamento deve ser feito hoje, com implementação a partir do dia 11 –, a taxa de isolamento físico no Grande ABC despencou, registrando queda em seis das sete cidades da região – Rio Grande da Serra não é monitorada pelo Estado. Segundo o último levantamento com base nos sinais de telefonia, realizado segunda-feira, Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá não passaram de 55% de adesão ao confinamento. A exceção é Ribeirão Pires, que alcançou 61% de munícipes isolados, ainda assim distante dos 70%, que são a meta pelo Estado. No domingo os números eram bem mais expressivos positivamente (veja na arte abaixo).
O fluxo de pessoas nas ruas, entretanto, não foi perceptível somente nos números, já que o feriado de Tiradentes – celebrado ontem – deixou praças, supermercados e parques com movimento acima do comum desde que a quarentena foi imposta, há quase um mês. Na tarde de ontem, a equipe de reportagem circulou pelas ruas do Grande ABC e flagrou a população com menos cautela diante da situação, inclusive com menor número de munícipes usando máscaras, sobretudo em áreas periféricas.
Infectologista e professor da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Munir Akar Ayub avalia que, embora as cidades registrem perdas econômicas, ainda não é o momento de o governo anunciar a retomada dos serviços, sobretudo porque o País está “em fase ascendente da pandemia”, justamente pela negligência da população com a quarentena imposta pelo governo. “A infecção pelo novo coronavírus não tem tratamento comprovado até o momento e muito menos vacinas. Portanto, a única medida disponível para contenção da doença ainda é o isolamento social”, pontuou Ayub.
O especialista acredita que o momento exato da liberação das atividades deve ser avaliado dia após dia. “É claro que, como efeito colateral da medida de isolamento físico, existe uma paralisação de toda economia, e não só do comércio, mas também na procura de atendimento médico e realização de exames”, explicou.
Economista e coordenador do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Jefferson José da Conceição também acredita que a liberação dos serviços, mesmo que seja gradual, tem de ser avaliada diariamente. “Observo que o País tem uma desorganização no enfrentamento à Covid-19. Temos um governo federal que vai para um lado, estaduais, para outro, municípios seguem em terceira via, o que gera descoordenação grande, facilitando ainda que a população use de um discurso ou outro para justificar sua própria flexibilização de isolamento”, explicou o especialista.
O economista destaca que a medida tem de ter consenso da medicina. “Me questiono se os médicos estão de acordo com esta liberação parcial (que deve ser anunciada hoje). Não sou contra, mas acho que a área médica tem de nos orientar nesta ação. Se a atividade retomar, sem que os números de infectados, mortes, e estrangulamento do sistema de saúde explodam, teremos uma política bem-sucedida. Ao contrário, vamos ver que foi uma medida incorreta.”
Os prefeitos de Santo André, Paulo Serra (PSDB), e de Diadema, Lauro Michels (PV), anunciaram que também estudam flexibilização (mais informações na página 3 de Política)
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