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Tom Zé mendiga amor das mulheres
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
30/03/2005 | 12:20
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Homens, tremei. O cantor e compositor Tom Zé, que já bradou versos antiBush e antiFMI, volta sua poesia e música contra as crueldades cometidas contra a mulher em Estudando o Pagode na Opereta Segregamulher e Amor (Trama, preço sugerido R$ 28,90).

O álbum, como o próprio nome indica, é uma espécie de opereta inacabada, cantada em três atos: Mulheres de Apenas, Latifundiários do Prazer e Amor Ampliado para o Teatro e para o País. Tudo com direito a trama, personagens, “diálogos” e ares de tragédia grega – pois há, em Ave Dor Maria, as argumentações do coro dos acusadores e das mulheres – e a inevitável culpa que recai sobre os ombros dos algozes masculinos.

Segunda-feira, Tom Zé apresentou a nova criação à imprensa. Entrou em uma das salas da Trama maltrapilho, acompanhado dos integrantes de sua banda, igualmente mal vestidos, e outros participantes. Símbolos do “homem mendigando o amor da mulher”, como explica o artista.

Tom Zé contou que seu sonho era fazer um disco-escola, que incentivasse jovens a recriar em cima do CD, cantando em duas vozes. Para isso, até colocará no site www.tomze.com.br músicas cifradas com uma harmonia bem mais simples que a original.

“Para o disco não virar uma elucubração das que faço, construí uma prisão para mim”. Essa “prisão” foi o processo de criação, que submeteu o repertório ao crivo de dois adolescentes, Fernanda Del’Uomo e Pedro Luiz, ambos de 16 anos, e à mulher de Tom Zé, Neusa. Os jovens fizeram poucas mudanças. Pedro Luiz disse que a princípio achava o ritmo um pouco lento. Não gostava muito das letras, porque “não era muito entendível”.

O resultado é que, embora traga como base musical o samba, ou o pagode, em suas mais variadas formas, o disco passa longe do gênero que se tornou símbolo de vulgaridade e pobreza musical. Não é um rompimento com o bom gosto, como o artista define, mas sim “uma sofisticação de sua estética”. Tom Zé continua injetando doses cavalares de criatividade em seu trabalho. “Tocou” folhas de figo (enroladas, como instrumentos de sopro), inseriu o relincho orgástico de um jegue (feito por Luciana Paes de Barros), pôs uma Suzana Salles gritando impropérios contra os homens.

E a história é deliciosamente divertida, irônica e poética. Do pagode, herda o jeito direto de tratar do assunto. Há toda uma provocação à mulher. Começa com o coro dos acusadores, em Ave Dor Maria, cantando: “Mulher é o mal/ Que Lúcifer bota fé/ Quando achou/ Primeiro ovo do Cão/ Ela chocou”. Elas se defendem: “Assim será o quê, seu vagabundo?/ Primeiramente esse seu tititi de politicamente pro eleitorado: E que diabo de cachaça/ Tem a saia com a calça?”, canta Luciana Mello em Quero Pensar (A Mulher de Bath).

Tom Zé ainda abriu espaço para a comunidade gay na dançante Elaeu – a qual gostaria que fosse logo para as rádios. É um “bate-papo” entre dois homossexuais, interpretados por Tom e pelo andreense Edson Cordeiro. E as músicas caem bem, mesmo escutadas à parte, ainda que se perca o sentido do todo.

“Estou jogando um anzol para ver se as pessoas se interessam por um tipo de música mais graciosa”, diz Tom Zé. Uma boa oportunidade para conferir o trabalho, além do CD, é assistir ao show, nos dias 1º, 2 e 3 no Sesc Pinheiros, em São Paulo. A produção é de Jair Oliveira, do qual Tom Zé afirma: “Se tiver beleza (no CD), aí está o dedo do Jairzinho”.



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