Hugo Coelho assina a direção. Marcos Daud traduziu o texto. Nove atores compõem o elenco – além de Martins e Coelho, Edgar Castro, que dá aula de interpretação na ELT (Escola Livre de Teatro), de Santo André, também o integra. Martins e Castro fizeram parte da Cia. do Latão.
“Gogol é um dos autores mais ácidos. Com um humor muito refinado, expõe o mal coletivo de forma brilhante. Os Jogadores é uma crítica corrosiva e bem humorada ao enriquecimento ilícito e à falta de ética que passa a ser a tônica dominante nas relações”, diz Martins. “Gogol tem um olhar agudo e, sobretudo, divertido sobre as mazelas sociais. A peça trata de temas dos quais as pessoas estão saturadas: a corrupção, a trapaça, a canalhice elegante”, afirma Castro.
As ações se passam em um vilarejo russo, no século XIX. À procura de um homem rico de quem possa subtrair dinheiro, o jogador de cartas profissional – leia-se trapaceiro – Igarev (Martins) se hospeda numa estalagem. Lá conhece mais três jogadores: Otchelsky (Castro), Krugel (Bartholomeu de Haro) e Choniev (Eduardo Semerjian). Logo se reconhecem. Resolvem, então, aplicar um golpe em Glov (Vicente Latorre), um abastado senhor.
Este, porém, se recusa a jogar – questão de retidão de caráter. As atenções, então, se voltam para o herdeiro de Glov, Alexander (Alexandre Freitas), que se dispõe a uma aventura no mundo das cartas. “É a trama do ladrão que rouba ladrão. Em um momento alguém será golpeado, mas não se sabe quem”, diz Martins. “A trama é muito bem urdida. O público compactua com ela e, de repente, descobre novas coisas”, afirma Castro.
Igarev é o dândi da história – a vaidade é o principal traço de seu caráter. “Tem aspiração à fidalguia, mas pretende ascender na escala social ilicitamente. Quer dinheiro para jantar com arquiduques, sua aspiração é mundana”, diz Martins. Já Otchelsky é o administrador dos golpes da trupe. “Ele tem o pensamento mais ágil, os reflexos em prontidão”, afirma Castro.
Martins destaca a atemporalidade da peça. “Como os jogadores corrompem o tempo todo, a crítica infelizmente é atual”, diz. E também a semelhança do universo cultural russo ao brasileiro: “Temos tipos de pensamento similares, entendemos bem o funcionamento do raciocínio deles, e isso é recíproco”.
Dois fatores levaram Martins – que no ano passado, dirigido por Paulo Autran, atuou em Vestir o Pai, comédia de Mário Viana – a produzir (e protagonizar) a peça. Um é o ineditismo. O outro: “Li Os Jogadores há uns dez anos e me apaixonei. Esperei esse tempo para ter a idade do personagem e a vivência artística necessária. Se você não tiver paixão pela peça, não consegue produzi-la”.
Os Jogadores – Comédia. De Nicolai Gogol. Tradução de Marcos Daud. Direção de Hugo Coelho. Com Otávio Martins, Edgar Castro, Bartholomeu de Haro, Eduardo Semerjian, Hugo Coelho, Robson Nunes, Alexandre Freitas, Vicente Latorre e Fábio Glingani. Quartas e quintas-feiras, às 21h. No Teatro Sérgio Cardoso – r. Rui Barbosa, 153, São Paulo. Tel.: 288-0136. Ingr.: R$ 20. Até 1º de abril.
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