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Diadema tem pobreza, mas não miséria
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
01/12/2004 | 09:22
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Equilibristas. Essa é a melhor definição para 50,8% da população de Diadema, de acordo com o IPVS (Índice Paulista de Vulnerabilidade Social), resultado de estuda feito pela Fundação Seade. Esses 181,3 mil moradores da cidade vivem do esforço de fazer os salários (ou outros rendimentos) durarem até o fim de cada mês, mas não podem ser considerados miseráveis porque conseguem usufruir do direito à educação, à moradia digna e à saúde. Eles estão dentro da chamada faixa de média vulnerabilidade, agrupadas majoritariamente em núcleos habitacionais recém-urbanizados.

É nessa corda bamba predominante na vida dos moradores de Diadema que se enquadram também parte dos moradores de Santo André e Ribeirão Pires, embora nessas duas cidades existam uma parcela importante de moradores dentro das faixas de muito baixa e baixa vulnerabilidade no gráfico do estudo, ou seja, em situação mais confortável.

Por outro lado, quase a totalidade dos 140 mil habitantes de São Caetano desconhece o que é pobreza absoluta: cerca de 82% dos moradores vivem prosperamente, situados no índice que indica muito baixa vulnerabilidade social. No extremo oposto, estão Mauá e Rio Grande da Serra, onde o índice de vulnerabilidade muito alta chega a 15,87% e 13,43% respectivamente. O título de cidade de extremos fica com São Bernardo, cujo IPVS revela 13,09% de moradores com alto padrão de vida e, na outra ponta, 10,48% que experimentam a miséria.

Reurbanização - Em Diadema, bairros como Inamar, Serraria e Jardim Casa Grande substituíram as tábuas dos barracos pelos tijolos baianos, que tingem a paisagem de vermelho. O panorama é resultante dos programas que reurbanizaram 184 das 207 favelas da cidade nas últimas administrações municipais. Foi por causa da nova casa e do esgoto encanado que a dona de casa Aparecida Cristina de Souza, 38 anos, se livrou do convívio com roedores, que foi rotina por 30 anos. "Agora a gente mora com dignidade. Antes, via os ratos correrem para todo lado. Era impossível viver assim", afirma Aparecida, dona de dois cômodos erguidos há sete anos, ainda sem reboco, no Jardim Casa Grande.

Concentrados no Centro da cidade, estão 2,4 mil moradores que não precisam se preocupar com falta de saneamento. Essa faixa corresponde a 0,67% da população. Faz parte dela a dona de casa Soraya Junco, 39 anos, que tem duas filhas adolescentes. Sua casa é amarela e cercada por muros repletos de trepadeiras. "A única coisa que faz falta a minhas filhas é um shopping. Coisa de adolescente".

A experiência da ex-favelada Aparecida, que viu seu padrão de vida melhorar por conta do programa de urbanização, é apontada pela Prefeitura de Diadema como fator primordial para que a faixa de 10,48% de pessoas muito pobres recue no futuro. "Na próxima administração, pretendemos eliminar de vez os barracos de madeira. É o Programa Favela Zero, que engloba ainda a revitalização de áreas urbanizadas há mais tempo", afirma o secretário de Habitação do município, Josemundo Queiroz.

As políticas sociais, aplicadas em conjunto com as de habitação, ainda estão em fase de consolidação, embora 40 mil famílias já tenham se inscrito no cadastro único que deve englobar o Bolsa Família do governo federal e as bolsas já fornecidas pela Prefeitura. De acordo com a secretária de Ação Social do município, Cormarie Gonzales Perez, as famílias devem começar a receber o benefício unificado a partir de janeiro. Na fila está Aparecida, que deve passar a receber R$ 50 mensais para complementar o salário de motorista do marido.




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