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Internet cria 'novo português'
Rita Norberto
Do Diário do Grande ABC
04/10/2003 | 18:15
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“Ae, cmo vc tah? Fmz? Pq vc naum foi lah em ksa? Já viu meu blog hj?”. Não, não é um idioma estrangeiro. É um diálogo em português só compreendido pelos iniciados no mundo do ICQ (junção de letras que, em inglês, tem a mesma pronúncia da frase I seek you, ou eu procuro você), um programa de envio e recebimento de mensagens instantâneas pela Internet. Na nova forma de comunicação, um detalhe preocupa: as abreviaturas usadas no ICQ estão sendo transportadas para as salas de aula e surgem em provas e redações, preocupando pais e professores. Em tempo, os códigos acima são palavras abreviadas e blog é um diário virtual que as pessoas criam e mantêm na Internet.

Para entrar neste mundo, o importante é entender seu ponto de partida: “a linguagem de ICQ tem um princípio, ser prática”, decreta Thiago Ricardo, 14 anos, oito meses de ICQ. Vale tudo para tornar a comunicação mais rápida: acentos, pontuações e ç simplesmente são esquecidos. Letras são eliminadas: muito vira mto; como, cmo; também é tb, porque é pq. Outras são escritas pelo som: kd, ksa, kblo. “É porque assim é mais rápido. Pode parecer pouco tirar uma letra, mas na frase toda faz diferença”, conclui Ricardo. Entre as vantagens, afirmam os usuários, o ICQ é “muito melhor e mais pessoal” que as salas de bate-papo, é rápido e substitui a conversa por telefone, mais cara”.

Com tantas horas em frente ao micro, usar a linguagem do ICQ na sala de aula acaba sendo automático. Um exemplo é a aluna do 3º colegial do colégio Arbos, de Santo André, Dáphine Tironi, 17 anos. Mesmo sendo uma aluna aplicada, ela teve a prova de português corrigida por usar as abreviações. “Não sou viciada em ICQ, mas peguei a mania. É automático, porque é muito mais rápido para escrever. Na prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) escrevi várias abreviações, mas percebi e corrigi. No vestibular, não vou errar”, promete.

Segundo Maria Alice Banin, professora de português do colégio, Dáphine não é a única. “Não são todos, mas alguns fazem e cabe a nós, professores, alertarmos que isso não pode ocorrer.”

Para o estudante Roger Alati Niero, 16 anos, que cursa o 2º colegial e usa ICQ há dois anos, dá para separar as linguagens. “Eu consigo, mas já vi amigos tendo a prova descontada porque usaram abreviações do ICQ”, disse. Roger conta com os alertas da mãe, Maria Niero, 47, professora de português. “Como mãe acho engraçado, porque não entendo, mas como professora, digo que não está correto.”

Veterano em ICQ, Bruno Teixeira, 16 anos, há sete usuário do programa, diz que a mania é nova. “No início só algumas pessoas usavam, agora todo mundo só conversa assim.”




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