Cultura & Lazer Titulo Pequenos músicos
Crianças levam a sério
a paixão pela música

Pequenos ultrapassam a influência dos pais e se
dedicam no aprendizado de instrumentos musicais

Caroline Garcia
Do Diário do Grande ABC
12/10/2013 | 07:00
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Rafael Levi - DGABC


Não é raro encontrar vídeos de crianças, cada vez mais novas, tocando instrumentos por vezes bem maiores que elas. E tocando bem. Prova recente da evolução do interesse dos pequenos pela música foi a participação deles na Expomusic, a maior feira do gênero na América Latina, que ocorreu entre 18 e 22 de setembro, em São Paulo.

Na comparação entre 2012 e 2013, o número de visitantes menores de 12 anos no evento triplicou, saltando de 696 para 2.284. Enquanto o público total teve aumento de pouco mais de 3.300 pessoas.

Esse interesse musical, na maioria das vezes, parte da própria criança, que praticamente já nasce grudada nos fones de ouvido. Com Henrique Beltrame Gutierrez, 11 anos, a situação não foi tão diferente. Mas o pequeno guitarrista de Santo André teve influência desde o berço.

“Meu pai tocou em banda e sempre achei o rock legal. A primeira guitarra foi um presente de Natal, aos 6 anos. Mas comecei a tocar mesmo e fazer as aulas no ano passado, antes eu só brincava”, disse o fã de James Hetfield, do Metallica, Jimmy Page, do Led Zeppelin, e Angus Young, do AC/DC.

Com uma coleção de sete camisetas de bandas do seu gênero preferido, Henrique teve o armário confiscado. “Escondi tudo, porque senão é só isso que ele usa. Ele tem camisetas novas, com etiquetas ainda, e que daqui a pouco não servem mais. Temos uma família grande, então tem sempre alguma comemoração para ir e lá está ele vestindo as camisetas pretas”, conta a mãe, Alcione Beltrame Gutierrez, 41 anos.

O cabelo moicano, no estilo punk, também é motivo de algumas discussões em casa. “Levo uns dez minutos para arrumar do jeito que eu quero. Mas só quando eu saio para algum lugar mais legal. No dia a dia é coisa rápida e nunca tive problemas por isso na escola.”

Mas a mãe não faz só o papel de vilã. Entre os shows que Henrique já foi, levado pela família, estão Raimundos e Detonautas. O primeiro foi aos 9 anos, em um cover do Black Sabbath e AC/DC.

Aprendizado

Com aulas semanais de guitarra, Henrique já vê progresso em seu ritmo, mas ainda acredita que precisa melhorar mais. “Não cheguei onde quero. Agora, que estou mais familiarizado, em dois minutos já consigo pegar o refrão, mas ainda quero aprender a tocar Highway to Hell (do AC/DC).”

Segundo a diretora Sonia Ribeiro, da Usina Brasil – Escola de Música e Arte, em São Bernardo, cada criança possui um ritmo de aprendizado. “Algumas já chegam com uma facilidade e outras desenvolvem a habilidade aos poucos.”

A iniciação das cerca de 50 crianças atendidas na escola começa a partir dos 4 anos. “Até os 7, temos educação musical, que é apanhado de todos os instrumentos, com a parte lúdica bem desenvolvida, percepção musical e canto.”

Depois disso, há um encaminhamento para o instrumento que a criança mais se identificou. As aulas mais procuradas na escola são de piano, canto, guitarra e violão.

“Os menores são como uma esponja. Nós somos mais direcionados para a música popular brasileira, mas a criança absorve qualquer gênero de qualidade. Além de ajudar na concentração, faz bem para a autoestima e melhora a ansiedade”, disse Sonia.

O conselho da diretora, que está à frente da escola de música desde 1994, é praticar o instrumento que for ao menos meia hora por dia. Henrique segue o conselho e aproveita ainda mais quando a mãe sai de casa. “Eu e meu pai ligamos a caixa e deixamos tudo bem alto.”

 

Mercado começa a visar novo público

Com um grande potencial consumidor em vista, o mercado de produtos musicais já se prepara para o novo público mirim. Guitarras, violões e baterias passaram da fase de brinquedos para se tornar verdadeiros instrumentos musicais, mas de pequenas proporções.

“A ideia de que a criança não toca, e sim brinca com o instrumento, vem mudando para melhor. A música só agrega desde pequeno, ninguém tem nada a perder”, contou Rogério Raso, presidente da Santo Angelo, que há 34 anos produz acessórios musicais.

Pensando nesse público infantil, a empresa desenvolveu duas linhas, de cabos e afinadores, com características próprias. Os cabos são mais resistentes e com o plug diferenciado, para evitar desconexões com puxões e tropeços da criança. Além de ter um formato ergonômico, que facilita o manuseio por mãos menores. Os afinadores também são de plástico e coloridos, que estimulam o lado lúdico.

Na loja Metal Music, que existe desde 1984 em Santo André, violões, guitarras e camisetas infantis se misturam com os produtos de adultos. “Sempre tem criança por aqui. Se não é por curiosidade devido aos desenhos exóticos na parede, é porque o pai já frequentava e passou a trazer o filho também, que depois cresce e passa a vir sozinho”, disse o proprietário Jimi Tombolatto Gantines.

Participante de feiras de músicas há anos, Raso tem percebido uma preocupação crescente com a musicalização em países fora do Brasil. “Na Alemanha, antes do início oficial do evento, é montado um pavilhão só para a molecada ter experiência com instrumentos. Colocam roda de carro, madeira, cerâmica, tudo para que eles sintam as diferentes batidas. É emocionante até para quem não gosta de música.”

Segundo o presidente da Santo Angelo, no Brasil, o mercado ainda está caminhando. “Como somos uma empresa de acessórios, vamos, ao poucos, acompanhando essa demanda por aqui. Mas que é ainda algo muito inferior do que poderia ser. Justamente num País tão musical, onde uma caixinha de fósforo vira instrumento musical.”




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