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Três menores são apreendidos por dia

No primeiro semestre, 619 jovens cometeram ato infracional e foram para a Fundação Casa na região; juntas, seis unidades têm hoje 359 internos

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
20/08/2016 | 07:00
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André Henriques/DGABC


No primeiro semestre deste ano, 619 adolescentes foram apreendidos no Grande ABC. O número representa média de três jovens envolvidos em atos infracionais por dia. No mesmo período do ano passado, foram 604. Juntas, as seis unidades da Fundação Casa na região – Santo André (duas), São Bernardo (duas), Diadema e Mauá – têm 359 internos.

Cada unidade tem capacidade para abrigar 64 jovens. Em Diadema, há 60 internos e em Mauá, 58. Santo André tem 56 jovens em uma e 60 na outra. Já São Bernardo mantém um prédio com 39 adolescentes e outro com 56.

Para especialistas, uma das soluções para o problema de vagas no limite observado nas unidades da região seria o investimento na ampliação de postos em regime de semiliberdade. Neste caso, os jovens passam o dia fora da Fundação Casa e retornam à noite. Na região, apenas São Bernardo mantém 30 adolescentes neste esquema.

“O único problema é em relação às evasões. Os adolescentes acabam fugindo e deve ser evitado que isso aconteça. De qualquer forma, deveria ter mais postos em semiliberdade do que em internação. No Estado inteiro não temos 2.000 vagas para o regime, enquanto há 10 mil para internação”, disse o coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos e da comissão da infância e juventude da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Ariel de Castro Alves.

Para a coordenadora do curso de Ciências Sociais da Universidade Metodista de São Paulo, Claudete Pagotto, o investimento também deve ser feito nos cursos de capacitação das unidades. “Eles precisam de formação educacional e qualificação de trabalho, e que esse posto de trabalho exista. Temos processo de qualificação para setores na área de serviços, na maioria. Não que não seja importante, mas precisamos de investimento em todas as áreas”, afirmou.

 

VIVÊNCIA

Para um adolescente de 14 anos, interno na Fundação Casa de Diadema, o curso de salgadaria ajudou a enxergar futuro diferente. Ele cumpre medida socioeducativa há seis meses por roubo. “Pensei até em abrir negócio junto com o meu pai, que está fazendo curso de gastronomia. Aprendi a fazer muita coisa aqui, mas o que eu quero é cuidar dos meus estudos daqui para frente.”

Já para outro jovem com 18 anos recém-completados, interno na mesma unidade há quatro meses por roubo de veículos, o sonho é se tornar médico cardiologista. “Sei que tenho que estudar muito, mas eu gosto de ajudar as pessoas. Quero muito me especializar na medicina.”

 

Apenas oito jovens cumprem medida por ter cometido crime hediondo

Do total de 359 jovens apreendidos nas unidades da Fundação Casa do Grande ABC, apenas oito cometeram atos infracionais que se enquadram em crimes hediondos. Quatro cumprem medida socioeducativa por latrocínio, três por homicídio doloso e um por estupro. A maioria dos jovens (199) foi enquadrada em roubo qualificado, seguido de tráfico de drogas, com 87.

“O percentual de jovens que cometem esse tipo de crime (hediondo) é muito pequeno”, falou a coordenadora do curso de Ciências Sociais da Universidade Metodista de São Paulo, Claudete Pagotto, referindo-se ao PEC (Projeto de Emenda Constitucional) 33/2012, que prevê a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos em casos de crime hediondo, que tramita na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.

 




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