Cultura & Lazer Titulo
Santo André é seu Jaçanã
Ademir Médice
01/08/2010 | 07:01
Compartilhar notícia


João Rubinato, o Adoniran Barbosa, viveu em Santo André entre 1924 e início da década de 1930, na sua fase de adolescência. Deixou a cidade para dedicar-se à carreira artística, mas seus descendentes aqui continuam até hoje.

No período em que morou em Santo André realizou vários serviços. O trem marcou sua vida. Apanhava o subúrbio aqui para trabalhar em São Paulo. Mais tarde, quando compôs Trem das Onze, retratou a sua família, as suas viagens de trem, os amores primeiros, o ir e vir daqui a São Paulo. Ocorre que Santo André não rimava com... amanhã! Daí, o Jaçanã. Licença poética clara.

Nascido em Valinhos, criado em Jundiaí, chegou a Santo André, com a família. Tinha 14 anos. Foi tecelão. E também pintor, encanador, serralheiro. Eram serviços que exigiam demais. Daí porque resolveu ser mascate, vender meias e retalhos pelas ruas andreenses.
"Nunca aprendi a fazer negócio. Comprava um par de meias por dez mil réis, vendia por oito, para acabar logo com a mercadoria e me mandar pra casa. Não dava pé, nem meia, muito menos lucro", disse ele certa vez, em uma das tantas entrevistas.

Ainda Rubinato, Adoniran trabalhou como garçom na casa de Pandiá Calógeras, que foi ministro da Guerra e que, no fim dos anos 1920, viveu em Santo André, para onde veio contratado para a instalação de uma fábrica, a Conac, semente da atual Pirelli. Adoniran ia à casa do Pandiá às 7h. Tomava café na casa, ia buscar o carro do patrão na Estação de Santo André, em um novo ofício.

Os pais, italianos, Fernando Rubinato e Ema Richini Rubinato. Irmão caçula de um total de seis. Falava com carinho da família. Referia-se a um irmão serralheiro como verdadeiro artista, ‘na profissão dele'. O irmão Ângelo. Um segundo irmão, homem, pedreiro no Rio de Janeiro. E três irmãs.

Moço em Santo André, o Adoniran namorador, mulherengo incorrigível. "Só aceitava os namoros pra valer. Não gostava quando as meninas tiravam minha mão do lugar", disse ele em entrevista ao Diário, em 1974.

A música ele descobriu em Santo André. Tocava bateria no Jazz Band Simão, grupo do barbeiro Cantamessa, andreense. Depois tocou caixa na Banda Nova. Ou flauta, no Clube Germânia, da Vila Gilda.

No futebol, foi o bandeirinha de um time chamado Carlos Gomes, numa das raras fotos em aparece com amigos da juventude em Santo André.

Nos anos 1950, a participação em filmes da Cia Cinematográfica Vera Cruz, entre os quais o premiado O Cangaceiro.

Em Santo André, residiu na Rua Cesário Mota e foi lanterninha do Teatro Carlos Gomes. Pelo menos três homenagens foram prestadas a ele pelo Grande ABC: em 1978, foi tema da escola de samba Estação Primeira de Utinga.

Em 1985, homenageado com a peça O Último Trem das 11, de Carlinhos Lira e Claudino Lucca, do grupo MCTA, de São Caetano. No pós-morte, o nome dado a um espaço cultural ao lado da Catedral do Carmo, do qual ninguém mais lembra.

Ano passado, a página Memória produziu uma exposição de fotos antigas de Santo André, a pedido do Primeiro de Maio FC, em que Adoniran foi homenageado. Título: De João Ramalho a Adoniran Barbosa, a formação da Santo André Capital do Trabalho. Durante mais de um ano a mostra circulou pela cidade que o recebeu e que não rima com ‘amanhã'.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;