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Sabe onde encontrar uma doméstica?
Bruna Gonçalves
Do Diário do Grande ABC
20/02/2011 | 07:37
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Orlando Filho/DGABC


 

Essa pergunta deve ser feita todos os dias por muitas mulheres do Grande ABC que estão à procura de uma empregada doméstica, profissão cada dia mais rara nos grandes centros urbanos do país. O acesso à informação e a qualificação profissional têm feito com que essas profissionais busquem outras áreas ou até mesmo exijam melhores salários e direitos trabalhistas que até há um tempo eram impensáveis.

Consequentemente, encontrar uma empregada no mercado é um desafio que requer tempo e paciência.

A consultora Simone Serrano, 38 anos, há quatro meses busca uma empregada. "No começo queria pelo menos três vezes na semana, agora pode ser uma vez ou até a cada dez dias", explica a moradora de Santo André, que vive com a filha de 14 anos e o marido.

Para ela, as maiores dificuldades são a indisponibilidade de dias da empregada ou até mesmo o questionamento do salário. "Quando encontro, ela não tem dia disponível. E outras questionam o salário e dizem que só saem do local de trabalho se for para ganhar mais", explica.

Simone trabalha de segunda a sexta-feira, período integral, em São Paulo. A cada 15 dias faz MBA na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e aos domingos dá aula na igreja. O tempo que sobra é dedicado aos afazeres domésticos, como passar e lavar e limpar a casa.

"Nos fins de semana meu marido ajuda bastante, mas moramos em um sobrado, tenho cachorro e não dá para deixar a casa de lado. Não consigo me desligar, puxei minha mãe para a limpeza."

Para o presidente do Sindicato dos Empregados Domésticos do ABC, Jorge Ednar Francisco, o Jorginho, a profissão não vai acabar.

"O que temos hoje é um perfil diferente. Temos desde jovens até adultos. Aquelas que não conseguem emprego ou se recolocar no mercado, como as mais velhas. Além disso, muitas que trabalham na área buscam se qualificar e mudar de profissão. Além disso, diminui o número de empregadas que dormem no trabalho. Isso porque buscam construir família, se divertir e também ter mais liberdade."

Para ele, referência e indicações são os meios mais usados de se buscar a profissional. "Hoje, as pessoas querem pessoas de confiança dentro de suas casas, principalmente porque estarão sozinhas."

Essa é a maior preocupação da diretora artística Liliana Gonçalves, de São Bernardo. Ela confessa que está quase desistindo. Ela já teve empregada por oito anos, mas hoje está em São Paulo.

"Tive outras experiências que não deram certo. Uma abusou da liberdade, por eu estar fora de casa, e usava a internet. Cobro responsabilidade e comprometimento."

Mãe de dois filhos, uma de 22 e um de 17, para ela o mais importante é alguém que possa preparar as refeições. Ela trabalha das 11h às 23h30 e não consegue dar conta.

"Preciso de alguém todos os dias, principalmente, para fazer a comida. A limpeza dou um jeito. Chego do trabalho e já dou uma arrumada, lavo roupa. Não gosto de deixar a casa bagunçada."

 

Profissionais contam experiência e dizem gostar do que fazem

 

O que Maria Anésia Souza Rocha, 61 anos, e Adenilza Andrade de Oliveira, 33, têm em comum? Elas estão entre as poucas profissionais que fazem o que gostam e conseguem se dedicar à própria casa: são domésticas.

Adenilza, pode-se dizer, é raridade no mercado. Desde os 20 anos, quando saiu de Ribeirópolis, em Sergipe, para São Paulo em busca de trabalho, é empregada doméstica.

Ela começou a trabalhar na casa do patrão de um tio e permaneceu durante cinco anos morando na residência. Ela conta que sempre tinha que estar à disposição da família.

"Levantava cedo e mesmo assim trabalhava até tarde. Isso quando não inventavam alguns almoços de domingo."

Mas teve muitas experiências boas. Ela viajou para três países com a família. "Em Portugal, fui ajudar os pais da minha patroa; na Inglaterra, fui para ajudar a filha e, na Espanha, acompanhei a família na viagem de verão", conta.

Depois, passou por uma residência em São Bernardo, onde, às vezes, trabalhava também no fim de semana, quando iam para a praia, até ser indicada para trabalhar na atual família, há cinco anos, no mesmo município.

No apartamento moram três pessoas: o pai e as duas filhas, de 12 e 15 anos. "Adoro trabalhar aqui, tenho liberdade e me dou bem com todos. Pareço a irmã mais velha das meninas. "

Ela dorme no apartamento três vezes na semana, e sua rotina começa cedo com o preparo do café da manhã, às 6h30 para as meninas irem para a escola. Depois realiza uma hora de caminhada, passeia com a cachorra e volta para os afazeres de casa, prepara o almoço e conclui a limpeza.

Quando não está no apartamento, divide uma casa com uma amiga na cidade, mas quer ter uma família e voltar para Sergipe.

"Pretendo fazer curso de cabeleireira e montar um salão em Sergipe. Agradeço muito a oportunidade que tive em todas as casas, mas quero construir uma família e seguir a vida", afirma Adenilza, que é registrada e ganha R$ 750.

 

DOM

Maria Anésia trabalha desde os 14 anos como empregada, quando chegou de Minas Gerais. Trabalhou dois anos em casa de família e depois passou a ser diarista.

Também trabalhou em restaurante e empresa. Hoje cuida de três casas, em Santo André, e só tem o domingo de folga. O salário é de R$ 1.100.

"Adoro ser diarista, gosto de conviver com outras pessoas. O salário melhorou, mas precisa gostar muito da profissão. Faço tudo na casa e, inclusive, se tiver faltando algo eu compro, costuro as roupas (ela é costureira desde os 12 anos). E ainda arrumo tempo para deixar minha casa arrumada. Nasci com esse dom. Só vou parar quando não aguentar."

 

Mercado muda e atinge mulheres entre 18 e 60 anos

 

Para a sociaproprietária da agência de emprego Viritas, especializada no setor, Daniela Chaves, o mercado mudou muito nos últimos cinco anos. Quem está nessa profissão são mulheres desde os 18 aos 60 anos.

"Antes não havia qualificação, as empregadas trabalhavam com salários menores e até dormiam nas residências. Hoje a realidade é outra, pedem salários maiores, buscam se aperfeiçoar em cursos na própria área."

Para ela, a única coisa que não mudou foi o preconceito. "Ser doméstica é uma profissão como outra qualquer, mas tem gente que ainda olha torto", conceitua.

Daniela avalia que muitas domésticas buscam outras áreas acreditando que a remuneração será melhor. "Elas têm essa ilusão e voltam a ser domésticas."

Para o presidente do Sindicato dos Empregados Domésticos do ABC, Jorge Ednar Francisco, os salários para quem trabalha três vezes na semana fica entre R$ 560 e R$ 800. Uma diarista cobra entre R$ 70 e R$ 80 por dia.

 

REALIDADE

Há cinco anos, 70% das vagas de empregadas eram para dormir nas residências. Hoje, cerca de 80% são para oportunidades que não exigem que a profissional durma no local.

"O que notamos é que as pessoas querem construir uma família, e também querem trabalhar determinado tempo. O que não acontece com quem dorme no local, uma vez que sempre terá o que fazer", afirma Daniela.




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