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Há 5 anos, todos os dias são iguais, diz mãe de Eloá

Ana Cristina Pimentel disse que vive só, sai pouco de casa e cultiva boas lembranças da filha

Cadu Proieti
Do Diário do Grande ABC
19/10/2013 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Espalhar fotos da filha por toda a casa. Essa foi a maneira que Ana Cristina Pimentel, mãe de Eloá Pimentel, encontrou para manter-se próxima da jovem, morta aos 15 anos pelo ex-namorado Lindemberg Fernandes Alves após cerca de 100 horas de cárcere privado no Jardim Santo André, em Santo André. O caso completou cinco anos ontem, mas, para Ana Cristina, o tempo não passou. Desde a tragédia, a rotina dela é a mesma.

“Você nunca conta por data ou dia, só sabe que perdeu a pessoa e ela não vai voltar mais. Tento conviver com essa perda. Já faz um tempo, mas, para mim, todos os dias são iguais, sempre a mesma coisa. A saudade não vai desaparecer nunca. Em tudo que faço lembro dela. Tenho mais dois filhos e um netinho, mas ninguém substitui ninguém, isso não existe. Onde eu estava a Eloá ia comigo. Éramos muito dedicadas uma à outra. Então, é algo que não tem reparação.”

Na manhã de ontem, Ana Cristina foi ao Cemitério Santo André, Vila Progresso, visitar a sepultura da filha, acompanhada de uma amiga. Ela levou dois vasos de flores, rezou alguns minutos ajoelhada e foi embora. A visita ao túmulo é feita a cada dois meses e em datas marcantes, como o aniversário de Eloá ou o dia em que a garota foi morta. Essas são as raras ocasiões em que Ana Cristina sai de casa. A tragédia fez com que ela se isolasse do mundo.

“Às vezes, chego a pensar que nada disso aconteceu. Saio do trabalho, volto para casa pensando que vou chegar no meu apartamento, pequeninho e ajeitado, com toda a minha família lá. Isso nunca mais aconteceu. E já se passaram cinco anos. Meus filhos me chamam para sair, mas não tenho vontade, levo minha vida muito só. Trabalho, vou na igreja e saio para pagar minhas contas. Não faço mais nada além disso. O episódio mudou toda a minha vida”, comentou Ana Cristina. “A gente não fazia mal nem para uma mosca. De repente, isso veio de um jeito que desestruturou nossa vida”, completou.

O vazio no coração da mãe é confortado pelas fotos de Eloá. Durante a entrevista ao Diário, Ana Cristina relatou quando e como foi o momento de cada um dos retratos da garota espalhados pela casa. Sempre com sorriso no rosto. Ela afirmou que prefere lembrar somente dos momentos felizes que teve junto da filha.

“A gente era muito apegada. Como não tenho família aqui (em São Paulo), éramos só nós duas. Chegava em casa do trabalho e ela estava tomando café com as amigas. Essa cena me marca bastante. Às vezes ligava do serviço chamando-a para ir ao shopping comprar uma roupa que ela precisava. Isso é o que mais me dá saudade. Foi filha, irmã e amiga. Não tínhamos segredo uma com a outra”, disse.

A única imagem que Ana Cristina faz questão de esquecer é uma das que mais marcaram o episódio: Eloá na janela do apartamento com Lindemberg atrás dela fazendo-a de refém. “Dá uma tristeza muito grande quando vejo aquela foto. Tento nem lembrar disso. Achei que ela iria descer naqueles lençóis amarrados. Chamei-a para fora e a Eloá disse: ‘Calma, mãe’. Foi a última vez que a vi.”

Uma das poucas felicidades de Ana Cristina nestes cinco anos foi ter ajudado pessoas com a doação de sete órgãos de Eloá. Hoje, ela é militante da causa. “Isso foi algo que mexeu muito comigo. O rapaz que recebeu o rim e o pâncreas (Emerson Gentil Dardi, 29 anos) fala que eu ganhei um filho mais velho”, comentou.

‘Não quero encontrar com o Lindemberg nunca mais’

Ao saber da notícia publicada pelo Diário na edição de ontem, sobre a previsão da advogada Ana Lúcia Assad – defensora de Limdenberg Alves Fernandes – de conseguir regime semiaberto para o condenado em cinco anos, Ana Cristina Pimentel foi categórica ao comentar o assunto: “Só quem perde é quem morre. Ele não nasceu lá e vai ter que sair um dia. Só espero nunca mais encontrar com o Lindemberg.”

A mãe de Eloá disse que quer distância do ex-motoboy porque ficou muito decepcionada com o reencontro que teve com o rapaz no dia do julgamento dele, em fevereiro do ano passado. “Pensei que ele iria olhar para mim arrependido, e ele não olhou. Achei que Lindemberg iria se arrepender do que fez, mas não senti isso dele. Vi outra pessoa nele”, comentou. “Tomara que quando ele estiver perto de sair eu não esteja mais morando aqui”, completou.

Ana Cristina revelou que sofreu muito durante os quatro dias de audiência que definiram a sentença do assassino de Eloá. Ela relatou que nessa época dormia somente com a ajuda de remédios. “Falaram muita mentira. E isso me deixou triste demais. Ele falou como se estivesse discursando numa faculdade. O Lindemberg nunca falou daquele jeito. Ele disse que conheceu minha filha no pagode. Isso nunca aconteceu. Sou evangélica e minha filha só saia comigo.”

A mãe de Eloá relatou que tinha relação muito boa com Lindemberg enquanto ele namorava sua filha. “Não guardo mágoas. Tinha ele como um filho e não imaginava que fosse capaz de fazer uma coisa dessas. Lindemberg vivia na minha casa, só não dormia lá porque a Eloá era muita nova e a gente nunca permitiu. O que ele não tinha na casa dele, achava na minha”, comentou.

Outra coisa que decepcionou Ana Cristina foi o fato de a família de Lindemberg não a ter procurado depois do crime. “Nunca mais falaram comigo. O dia em que encontrei a mãe dele, ela fugiu de mim como se fosse fugir de um bicho. Fiquei muito sentida com isso. Achei que ela fosse parar e conversar. Nunca mais me procuraram.”




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