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Marília Gabriela: pautada pela coragem
André Bernardo
Da TV Press
17/01/2004 | 16:57
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 Marília Gabriela costuma dizer que adora anos pares. Foi neles que teve os dois filhos, Cristiano e Theodoro, e que conheceu grandes amores, como o ator Reynaldo Gianecchini. Em 2004, a jornalista tem outro bom motivo para festejar: os 35 anos de carreira, iniciados em 1969 como estagiária não-remunerada da Globo. De lá para cá, foi repórter, apresentadora, correspondente internacional e, desde agosto, também produtora independente do De Frente com Gabi, do SBT. “Tenho sempre de ter algo que me faça sentir viva. Essa é uma característica do jornalista: correr riscos, sem precisar cobrir, necessariamente, uma guerra do outro lado do mundo”, diz.

À primeira vista, Marília intimida. Dona de voz grave e de expressivos olhos azuis, ela tem um quê de mulher poderosa. Um analista creditou isso à altura de 1,80 m, já que a maioria das pessoas é obrigada a olhá-la de baixo para cima. Já uma astróloga explicou que o jeito impositivo é conseqüência de seu mapa-astral. “Reconheço que sou impulsiva, grandalhona, quase monstruosa. Mas para sair do interior, onde nasci, e chegar à cidade grande devo ter caprichado na postura agressiva quase que por mecanismo de defesa”, afirma.

A exemplo da jornalista italiana Oriana Fallaci, objeto de admiração na juventude, Marília, 55 anos, já entrevistou grandes estadistas, como Yasser Arafat, Shimon Peres e Fidel Castro. Cobriu importantes datas históricas, como a morte de Perón e a ascensão da viúva dele, Evita, na Argentina. E marcou época ao ancorar o célebre TV Mulher na Globo e mediar o debate entre os presidenciáveis na Band. Irrequieta, se prepara agora para estrear como atriz de novelas, numa participação especial em Dinastia, a próxima trama das nove da Globo, de Aguinaldo Silva. “Gosto de viver ocupada. Até mesmo para poder reclamar que estou ocupada demais”.

Pergunta – Com 35 anos de carreira, como você encarou o desafio de virar co-produtora do De Frente com Gabi?
Marília Gabriela – No começo, me deu medo. Afinal, nunca tinha feito isso. É muito confortável você ser empregada de alguém. Você vai lá, cumpre o seu papel e, depois, recebe no fim do mês. Mas me uni a duas produtoras formidáveis, a Paula Cavalcante e a Ana Sardinha. Fizemos as contas, peguei os meus guardados e investi no programa. E elas também. No segundo programa, ele já se pagou. Ainda não ganho o que ganhava como contratada, mas vou chegar lá.  

Pergunta – Repórter, apresentadora, correspondente, produtora independente... Do que mais você se orgulha de ter feito na televisão?
Marília Gabriela – Eu me orgulho mais é de ter me mantido. De ter conseguido sobreviver com dignidade, com um trabalho inteligente, sensato, dentro de um veículo mutante, complicado. Acho que fiz alguns gols na carreira. Em 1993, por exemplo, estava nos Estados Unidos a passeio quando houve aquele encontro entre o Yasser Arafat e o Shimon Peres, mediado pelo Bill Clinton. Aí, pensei: “Meu Deus, já entrevistei os dois!”.  

Pergunta – Que balanço você faz hoje de sua carreira?
Marília Gabriela – Essa minha carreira teve lá seus altos e baixos. Teve momentos de grande entusiasmo e excitação e momentos de profundo desânimo. Mas foi uma carreira rica em acontecimentos, em projetos e até em desilusões. Mas foi bom. Porque tudo isso me fez aprender.  

Pergunta – Pode-se dizer que o TV Mulher foi um dos momentos mais marcantes?
Marília Gabriela – O TV Mulher foi, indiscutivelmente, o programa que me deu mais notoriedade, o que me tornou nacionalmente conhecida. E num momento que considero muito importante. Porque eu era uma mulher representativa num momento em que as mulheres estavam tentando ser representativas ou bem-representadas. Lembro que fomos capa do The New York Times, a Marta Suplicy e eu, em dia de reeleição de Ronald Reagan. Evidentemente, foi um trabalho marcante. Até hoje, tem gente que lembra de mim do TV Mulher. O próprio Giane, pequenininho, já me via no TV Mulher.  

Pergunta – Você lembra da última vez que ficou nervosa antes de uma entrevista?
Marília Gabriela – Até hoje, às vezes, fico nervosa. Quando não domino um assunto e tenho de fazer uma entrevista muito específica, por exemplo, do tipo economia, eu ainda fico nervosa. Mas, para falar a verdade, já deixei de ficar há muito tempo. Quando comecei como repórter de rua na Globo, eu tremia em todas as reportagens que fazia. Até o dia em que eu encontrei um entrevistado, era algum político, não lembro mais, que tremia mais do que eu. Aí, pensei: “A lógica é essa! Quem deve tremer é o entrevistado”.  

Pergunta – Depois de quase 10 mil entrevistas, existe alguém que você ainda não conseguiu entrevistar?
Marília Gabriela – Eu só quero entrevistar gente que queira me dar entrevista. Houve uma época que eu perseguia loucamente o entrevistado que não quisesse falar comigo. Hoje não. Já não acho mais graça nisso. Respeito é bom e eu gosto. Não quer me dar entrevista, que pena. Mas não faço mais força. Tento uma, duas, três vezes. Não deu. Tchau!




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