Os carros populares são os mais comprados pelos brasileiros. Entre os deputados federais eleitos, porém, as preferências – e possibilidades – são outras. Os vários modelos de Gol, da Volkswagen, até aparecem em primeiro lugar na lista de posses, conforme a declaração entregue por eles no início da campanha eleitoral. Mas, em seguida, vêm veículos apenas sonhados pela maioria da população, como o Mitsubishi Pajero e os Toyotas Hilux e Corolla.

No total, os 503 parlamentares analisados (o Tribunal Superior Eleitoral não forneceu dados sobre 10 deles) possuem 1.066 veículos (mais da metade, importados), num valor global de R$ 48,9 milhões – fora os de utilização exclusiva no campo, como tratores. Estão nessa lista os carros de passeio, utilitários, 11 aviões e 30 embarcações. Da lista, 118 declararam não ter veículo. Entre os 385 restantes, cada um possui em média 2,76 veículos, ou R$ 126.885 por deputado – cerca de cinco vezes o valor de um modelo popular.

A série Câmara Bilionária, iniciada ontem, mostra que esses 503 deputados reúnem uma fortuna de R$ 1,25 bilhão, maior que o orçamento anual de Roraima. Os veículos são apenas o quinto investimento mais comum, atrás das empresas, dos imóveis urbanos, imóveis rurais e do dinheiro guardado ou aplicado (em bancos ou ações). Mas ilustram bem o abismo entre as posses dos parlamentares e a da média da população – em boa parte desprovida de qualquer tipo de carro.

Entre os veículos de menor valor estão as três peças de coleção do capixaba Camilo Cola (PMDB), o deputado mais rico do país, avaliadas por ele em apenas R$ 416, R$ 555 e R$ 1,1 mil respectivamente. São automóveis dos anos de 1929, 1946 e 1952. As peças mais caras são os aviões de Odílio Balbinotti (PMDB-PR), o segundo deputado mais rico, um Beech Aircraft de 1988 e um Piper Cheyenne II, de 1980, nos valores de R$ 5,87 milhões e R$ 1,8 milhão.

As embarcações mais valiosas são um Magnum 39, de Edgar Moury (PMDB-PE), declarada por R$ 213 mil, e um Sunseeker Sport e Recreio, ano 2000, de Cláudio Cajado (PFL-BA), de R$ 200 mil. Paulo Bornhausen (PFL-SC) registrou 50% da posse de uma lancha Phantom 290, por R$ 110 mil. Vic Pires (PFL-PA) possui dois jet-ski, de R$ 54 e R$ 50 mil.

No caso dos automóveis, os mais caros são o Pathfinder de Nárcio Rodrigues (PSDB-MG), primeiro vice-presidente da Câmara, no valor de R$ 225 mil, e o Audi de Michel Temer (PMDB-SP), presidente do PMDB, declarado por R$ 219 mil. Apenas o deputado Arolde de Oliveira (PFL-RJ) identificou seu carro, um Toyota de R$ 158 mil, como blindado.

Algumas declarações destacam-se pelo baixo valor. O baiano José Rocha (PFL) possui uma Pajero 2005 no valor de R$ 19,4 mil. Geraldo Resende (PPS-MS), um Apolo 2004 de R$ 14,3 mil. .

POR ESTADO
Os paulistas são os que têm mais veículos, em números absolutos, com 156, numa bancada de 70 deputados. Embora Michel Temer tenha o carro de maior valor, Vadão Gomes (PP) aparece como o quarto deputado do país com mais dinheiro aplicado em veículos: R$ 498 mil.

Na sua frente estão Mário Negromonte (PP-BA), com R$ 509 mil, Chico Rodrigues (PFL-RR), com R$ 534 mil, e, sempre ele, Balbinotti, com mais de R$ 9 milhões (ou R$ 1,4 milhão sem os aviões).

Depois de São Paulo vêm os paranaenses, com 151 veículos. Sozinho, Balbinotti (dono de fortuna de R$ 124 milhões) declarou 55 deles, como 15 caminhonetes, 5 Toyota Hilux e 4 motos. Os mineiros ficam em terceiro, com 112 automóveis. A maior média relativa é a dos 30 parlamentares do Paraná, seguidos dos sul mato-grossenses, 34 veículos numa bancada de oito deputados.

Os fluminenses são os que têm menos veículos (41) que o número de deputados (46). No Estado, 19 parlamentares que disseram não ter carro.

EMPRESÁRIOS
Juntos, 26 parlamentares têm mais de R$ 209 milhões em cotas ou ações de empresas nessa área – mais de um terço do total de R$ 580 milhões declarados em empresas de um modo geral. Eduardo da Fonte (PP-PE), dono de empresa de motores, e Ricardo Barros (PP-PR), de uma locadora de veículos, declararam não ter automóvel.

Essa quantia deve-se principalmente à eleição de Camilo Cola, o dono do império Itapemirim, que soma quase R$ 200 milhões. Eunício de Oliveira (PMDB-CE) tem uma empresa de veículos de R$ 2,6 milhões, e Giacobo (PR-PR), com mais de R$ 1,6 milhão em quatro empresas.

Entre os paulistas se destaca Vadão Gomes (PP), que declarou R$ 1,5 milhão da Vadão Transportes.