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Lojas de armas queimam estoques
William Glauber
Do Diário do Grande ABC
16/10/2005 | 07:49
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As três lojas de comercialização de armas de fogo e munição do Grande ABC adotam estratégias distintas enquanto aguardam o referendo nacional do próximo domingo. Dois pontos de venda – Armamec, em Santo André, e Terra Aquarium, em São Caetano – eliminaram os estoques até agosto para evitar prejuízos em caso de vitória do voto ‘sim’, que proibiria a venda no país. A Isa, em São Caetano, no entanto, oferece os produtos para garantir aos clientes o cumprimento da legislação vigente que permite a comercialização.

Embora esperassem resultado favorável à proibição da venda dos produtos, os comerciantes da região ainda acreditam que o resultado pode ser revertido. Pesquisa Ibope divulgada anteontem dá novo fôlego a esses empresários (ver quadro nesta página). O levantamento apontou empate técnico entre as duas respostas, dando vantagem ao “não” (49%) sobre o “sim” (45%).

Os três empresários argumentam que a campanha em favor da proibição da comercialização de armas de fogo no país começou bem antes do início da propaganda na televisão e no rádio. Segundo o sócio-proprietário da Isa, Clóvis Aguiar Júnior, o período de campanha estabeleceu igualdade na apresentação dos argumentos.

“A virada foi rápida, e a população teve acesso as informações”, diz Júnior. “Isso vai possibilitar ao lojista, que sempre arcou com impostos e esteve na legalidade, manter o negócio, criar empregos e gerar riqueza para a economia do país”, destaca o empresário.

Na Isa, independentemente da expectativa, as vendas continuam, e a procura por armas de fogo e munição duplicou nos últimos três meses. “Se tivéssemos o dobro de armas, venderíamos”, explica Júnior. Por questões de segurança, a loja mantém quantidade limitada de armas e munição para pronta-entrega.

A compra de munição é feita por cotas desde a regulamentação do Estatuto do Desarmamento, aprovado em dezembro de 2003. O cidadão civil comum tem direito de consumir 50 munições por ano e os demais portadores podem adquirir até 300. “Quem tinha esquecido, correu agora para comprar. Munição acabou no estoque e já pedimos a reposição às fábricas”, diz o sócio-proprietário da Isa.

Segundo Júnior, a loja mantém a venda de armas porque hoje qualquer cidadão pode solicitar a compra legal de uma arma. “É um direito que temos de preservar até o último dia”, diz. Caso uma arma seja adquirida, e o comprador não receba o registro, a loja garante a devolução do dinheiro.

No mercado desde 1992, a venda de arma e munição para cidadão civil comum representa apenas 5% do faturamento com armas da Isa. A empresa de São Caetano é distribuidora oficial da Imbel (empresa de fabricação de armamento do Exército) e participa de licitações públicas para abastecer polícia, guardas municipais, empresas de segurança.

Atentos à mudança de mercado, os proprietários da Isa, que também abriga clube de tiro, agregaram serviços de esportes de aventura à loja. Atualmente, arma de fogo e munição correspondem a 20% do faturamento. “Não abrimos mão das armas, apenas aumentamos o mix para manter faturamento”, conta Júnior.

Estoque zero – Embora tenha aumentado a procura por arma de fogo e munição na Armamec de Santo André, o proprietário Araripe Basílio São José resolveu não repor os estoques. “Poderia ficar tudo parado. Depois não teria para quem vender”, diz São José, no caso de vitória do ‘sim‘. “A loja não tem tempo hábil para dar entrada na documentação”, acrescenta São José. Uma pistola 380, a mais comum, tem preço médio de R$ 1,7 mil, o registro custa em torno de R$ 700 e pode levar 90 dias para ser liberado.

A loja vendia cinco armas por mês antes da aprovação do Estatuto do Desarmamento e viu os números caírem para apenas uma ao mês recentemente. Há 15 anos no segmento, São José não descarta a possibilidade de encerrar a atividade e partir para outras áreas. “Vou ter de correr atrás do prejuízo: trabalhar em empresa de segurança ou fazer manutenção de armas”, lamenta o empresário.

Pet Shop – A Terra Aquarium, de São Caetano, também liquidou os estoques para não amargar prejuízo. “Tudo o que tinha para entregar já foi resolvido. Caso dê ‘sim’, não terei nada pendente”, afirma. “Parei de vender porque a exigência com a documentação é muito alta”, justifica-se Roque Camargo, proprietário da loja.

Camargo conta que até 2003 vendia mensalmente entre cinco e seis armas. Com o Estatuto, o comércio caiu para apenas uma unidade ao mês. “Se o movimento continuar assim, o mercado não sobrevive. Se der ‘sim’, eu fecho”, lamenta o empresário. A Terra Aquarium tinha até o ano passado três funcionários, mas atualmente apenas um empregado atua na loja e está em aviso-prévio. Os setores de aquário, pescaria e pet shop são alternativa de sobrevida do comércio.




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