Setecidades Titulo A saga de Adaumirton
Ex-morador de rua de São Bernardo
está a caminho de casa, na Paraíba

Rapaz embarcou ontem para Bonito de Santa Fé; são três dias de viagem

Francisco Lacerda
Do Diário do Grande ABC
05/01/2021 | 00:01
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Celso Luiz/DGABC


O agora ex-morador de rua Adaumirton Maravilha Queirós, 26 anos, enfim retorna ao lar. Ele deixa a praça da Igreja Santa Filomena e vias adjacentes no Centro de São Bernardo, onde viveu desnorteado por mais de um mês, rumo a Bonito de Santa Fé, na Paraíba, sua cidade natal. Tinha vindo à região na tentativa de se recuperar de traição da ex-mulher, com quem foi casado por nove anos e teve dois filhos. Mas havia sido roubado ao chegar à cidade do Grande ABC, perdeu tudo e se perdeu na vida, passando a perambular, em situação de vulnerabilidade social, infelizmente, condição comum a muitos seres humanos ‘invisíveis’ na região.

O regresso para o lar ocorreu ontem pela manhã no Terminal Rodoviário do Tietê. E ele tem pressa. Agora sorridente, quer rever familiares e, principalmente, Sabrina, 8, e José Fabrício, 7, os filhos. Não tinha condições de voltar, já que os bicos não eram suficientes para custear a passagem, de R$ 591. Trabalhou, se esforçou, foi enganado, não recebeu em alguns, mas prosseguiu.

Após exposição em reportagem neste Diário (Invisíveis, dia 27), foi agraciado, segundo ele, pela providência divina, que colocou em seu caminho aposentado – que prefere não revelar o nome por medo da violência, já que um dos filhos sofreu sequestro relâmpago – de São Bernardo, que, comovido com a história, cedeu a ele a quantia necessária para o regresso. Também deu-lhe celular, chip, carregador e o dinheiro para alimentação na viagem.

Recuperado dos traumas, Adaumirton quer, enfim, realizar outros sonhos. “Chegando lá vou, em primeiro lugar, procurar minha família, porque a saudade é muito grande. Depois vou procurar emprego e recomeçar minha vida. Não penso em casar de novo, não tão cedo. Casar agora só o dia em que eu tiver a minha casinha construída, tiver meu pé de vida (sic) feito.”

A viagem de São Paulo ao município desse bonitense (gentílico dos nascidos em Bonito de Santa Fé) tem duração, de ônibus. São 3.800 quilômetros, percorridos em três dias. São incontáveis paradas, tanto para alimentação quanto para banho e troca de motorista.

BONITO
Bonito de Santa Fé foi elevado a município em 15 de novembro de 1938, quando se separa de Jatobá, cidade na região de Cajazeiras, a 468 quilômetros de João Pessoa, Capital da Paraíba, no Nordeste do País. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), há na cidade 10.804 habitantes.

Segundo o site da prefeitura do município de Adaumirton, com a expulsão de grupos de cangaceiros no fim do século XIX pela família Timóteo de Souza, tradicional na época, moradores locais construíram uma capela em homenagem a Santo Antônio. Foi em torno dessa pequena igreja que cresceu o povoado com nome de Santa Fé, mais tarde alterado para Bonito de Santa Fé. Um dos filhos famosos da cidadezinha é Luiz Ramalho, que compôs as canções Roendo Unha, Daquele Jeito e Retrato de um Forró, interpretadas na voz do Rei do Baião Luiz Gonzaga (1912-1989). 




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