A Avenida Piraporinha, na divisa entre Diadema e São Bernardo, é um dos piores exemplos da dificuldade que é cruzar os municípios do Grande ABC nos horários de pico. Além dos 11 cruzamentos em nível, o trânsito na via é prejudicado pelo excesso de veículos - que se dividem em apenas duas faixas de rolamento por sentido.

A equipe do Diário levou uma hora e dez minutos para percorrer, em direção a São Bernardo, os 4,5 quilômetros da avenida, que liga o Corredor ABD à Via Anchieta, atravessando vias importantes como Ulysses Guimarães, Casa Grande, Robert Kennedy e Álvaro Guimarães. O tempo total corresponde à velocidade média de 3,8 km/h.

Os pontos com maior congestionamento ficam em Diadema. No cruzamento com a Ulysses Guimarães, há semáforo apenas para os veículos que irão seguir pela Piraporinha - a conversão à direita é livre. No entanto, não há espaço para o acesso à via transversal. Dessa forma, é comum ver motoristas cortando caminho pelo estacionamento de uma churrascaria, gerando risco de colisões e atropelamentos. Não há farol para pedestres.
Próximo à Parada Nogueira do trólebus, ainda em Diadema, o carro da equipe de reportagem ficou parado por dez minutos. No pico da manhã, os congestionamentos ocorrem no sentido contrário.

A observação da via exclusiva do trólebus demonstra má gestão do espaço. Enquanto ônibus municipais e fretados permaneciam  no engarrafamento, foram contados, em cinco minutos, apenas cinco coletivos utilizando o corredor segregado, que estava livre.

Após a chegada a São Bernardo, o trânsito flui melhor, mas ainda com bastante lentidão. Agentes de trânsito de ambos os municípios foram vistos na divisa. Os congestionamentos na Piraporinha provocam reflexos em outras vias de São Bernardo, como a Lucas Nogueira Garcez e no trevo do km 18 da Via Anchieta.

Sem dar detalhes, a Prefeitura de Diadema informa que estuda realizar projeto para a construção de via na divisa entre as duas cidades. O departamento de Trânsito do município diz que as operações com agentes são feitas das 6h às 9h e das 16h às 20h. Por enquanto, não há previsão de modificações nos semáforos.

A Prefeitura de São Bernardo estuda construir viaduto para eliminar o cruzamento com a Robert Kennedy. Outra obra que deve diminuir a demanda na via será a avenida paralela ao Ribeirão dos Couros, que fará ligação com o Corredor ABD. A secretaria de Transportes e Vias Públicas mantém 14 agentes de trânsito nos principais cruzamentos, além de disponibilizar dois guinchos.

Motoristas demonstram irritação e temem assaltos

Além do estresse e da perda de tempo, motoristas que passam pela Avenida Piraporinha nos horários de pico demonstram medo de serem alvos da criminalidade. "Ficamos parados, vulneráveis a qualquer tipo de ação por parte dos bandidos. Nunca fui vítima, mas já vi vários assaltos por aqui", revela o frentista Daves Rodrigues da Silva, 24 anos. Ele sugere que as prefeituras proíbam a passagem de grandes caminhões pela via. "Aqui é estreito. Se fizessem isso, iria melhorar o trânsito", acrescenta.

O auxiliar de enfermagem Antônio Palma, 56, reclama contra a falta de alternativas. "Não tem por onde fugir. Tem que esperar mesmo. E quando tem acidente ou carro quebrado, a situação é ainda pior", critica.