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Cartunista andreense apresenta obra

É no cenário de uma cidade de Interior que os traços do cartunista se esparramam pelas páginas para contar a história de Alcebíades

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
06/01/2020 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


É no cenário de uma cidade de Interior que os traços certeiros do cartunista Gilmar se esparramam pelas páginas para contar a história de Alcebíades, senhor que, quando jovem, fez um acordo com o diabo, por amor, e precisa dar um calote na dívida. A comédia fictícia, cujo roteiro é assinado por Lillo Parra, pode ser apreciada no livro O Cramulhão e o Desencarnado (138 páginas, R$ 48), obra independente realizada com recursos do Proac (Programa de Ação Cultural).

No momento em que Alcebíades fez o pacto, já pensava em como poderia enganar o dono do contrato, para que não levasse sua alma. Quando ele morre, sua neta, Maria Izabel, volta à sua cidade natal para o enterro do avô. O que ela nem imagina é que teria de ajudar o falecido a driblar o cramulhão para que sua alma não tenha o destino pré-combinado. E para tentar fazer o plano dar certo, terá ajuda do tio e do primo.

Da parte do roteiro, entre a ideia inicial e o texto final, foram cerca de 14 meses de dedicação. E Gilmar, que é de Santo André, na obra, aposta no processo ‘antigo’, lápis, papel e cor no Photoshop. “(É) Trabalho braçal que foi verdadeiro desafio. Minha experiência é de desenho para o dinamismo da imprensa, então, imagina passar 14 meses para concluir o projeto”, afirma.

Além de cuidar dos traços, Gilmar participou do andamento da história. Ele acredita que a labuta em parceria, para se ter bom resultado, tem que permitir a intervenção, os pitacos. “Isso foi feito. Inicialmente o Lillo sugeriu que a história se passasse em um prédio. Achei que seria mais legal em uma cidadezinha do Interior. E assim foi feito. Dessa maneira correu todo o projeto”, explica.

“De Norte a Sul do País, sempre tem alguém que jura que viu outrem falando que o sobrinho da tia do cunhado de seu irmão fez um pacto com o diabo. Há quem diga até que viu o cramulhão dentro da garrafa. Na própria novela Renascer (da Globo, 1993), a personagem de Antonio Fagundes dá uma receita para se obter um desses diabinhos. Isso é folclore e está em todas as regiões do Brasil. Nos baseamos nessa lenda para criarmos a história”, conta Gilmar.

Ele diz que a trama é uma farsa e foi concebida para não ser levada a sério. “A rigor, podemos classificá-la como uma comédia”, explica. Mas mesmo em se tratando de uma obra criada a partir de uma lenda, ela coloca seus questionamentos na mesa.

Segundo o artista, o cramulhão do livro é personagem que fala bonito, é machista, misógino, cruel e, supostamente, parece possuir fetiche por fardas. Por outro lado, a protagonista é mulher e guardiã do principal segredo da história. “E, ao contrário de boa parte das produções audiovisuais, ela não está ali como ‘escada’ ou ‘interesse amoroso’ de um protagonista masculino. Então, apesar do tom farsesco, existe mensagem e ela é bastante clara.”

Para Gilmar, as motivações e a maneira como Alcebíades tenta trapacear o diabo são o grande lance da história. “E a mensagem que fica tem muito mais a ver com resistência do que com consequência”, encerra.

Artista faz vaquinha virtual para outra obra

Assim que terminou de trabalhar no livro O Cramulhão e o Desencarnado, o cartunista Gilmar já se debruçou em outro projeto, Brasil 2019 em Charges. Segundo o artista, a ideia é que essa obra registre de maneira crítica, e por meio do humor, alguns dos principais acontecimentos políticos do País no ano passado.

A maior parte das charges escolhidas foi publicada nas redes sociais do cartunista, “principalmente no Instagram (@cartunista_das_cavernas), que tem um feedback mais dinâmico, e em alguns jornais que colaborei durante o ano”, diz.

Serão cerca de 100 páginas, com uma charge para cada folha. Segundo ele, trata-se de uma seleção das mais importantes produzidas por ele ao longo do ano. Há situações envolvendo indígenas, educação, violência.

“As charges desenvolvidas durante 2019, e que pretendo publicar no livro, são essencialmente críticas e foram trabalhadas a partir da minha necessidade de expressão emocional a partir de toda a indignação que vivi diariamente acompanhando os fatos políticos do Brasil nesse ano de 2019”, revela.

E para realizar a obra, o artista lançou um financiamento coletivo por meio da plataforma Catarse (www.catarse.me). A ideia é alcançar valor de R$ 18,5 mil – até agora ele já conseguiu cerca de R$ 10,5 mil. O prazo para participação encerra dia 13.

A ideia é lançar em fevereiro. É possível colaborar com diversos valores. A primeira opção é R$ 20 (para receber o livro digital). Quem contribuir de R$ 35 até R$ 44 garante um exemplar físico autografado, com marcador de página e frete. Há o valor de R$ 100 também, que inclui o livro impresso, print de uma charge com moldura 33 cm x 33 cm, outra obra do cartunista (Mistifório), marcador de páginas e adesivo. O valor máximo é R$ 3.200, voltado para entidades. 




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