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Promotor: 'tenho convicção da participação de Sérgio'
Do Diário do Grande ABC
17/01/2004 | 16:30
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O promotor do Grupo de Atuação Especial para Prevenção e Repressão do Crime Organizado (Gaerco) de Santo André José Reinaldo Guimarães Carneiro é uma das únicas pessoas que acompanharam o caso Celso Daniel desde seu início como protagonista. Ele esteve presente nas primeiras investigações feitas pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), assistiu às reconstituições do seqüestro e deu início às investigações do Ministério Público, por solicitação da família do prefeito assassinado, que não se conformava com a hipótese de crime comum.

Guimarães Carneiro acreditava na tese de crime comum, depois mudou de idéia e hoje está convicto da participação do empresário Sérgio Gomes da Silva como mandante do crime. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Diário – Qual foi a primeira pista importante que o Gaerco de Santo André obteve?
Guimarães Carneiro – Chegou a informação que o Ailton Feitosa – aquele preso que tinha fugido de helicóptero com o Dionísio de Aquino Severo – possuía revelações sobre o caso. Fomos ouvi-lo e ele contou que participou de duas reuniões: uma na casa dos familiares de Dionísio; e outra em um apartamento, no Jardim Maria Sampaio, em Taboão da Serra, onde o grupo do Dionísio foi acolhido pelo casal Teco e Carina. Nos dois encontros, tratou-se do seqüestro do prefeito.

Diário – O que Feitosa dizia de mais importante?
Guimarães Carneiro – O fundamental da declaração dele foi ter presenciado, nesse apartamento de Taboão da Serra, o acerto final do que viria a ser o arrebatamento do prefeito Celso Daniel. As duas declarações dele – de que haveria facilitação do arrebatamento por parte do empresário (Sérgio Gomes da Silva) e de que o prefeito seria morto como queima de arquivo – foram confirmadas.

Diário – Qual é a prova técnica que liga o Dionísio à quadrilha da favela Pantanal?
Guimarães Carneiro – A prova é um cartãozinho, que mostra uma conexão entre o grupo do Dionísio e a quadrilha da favela Pantanal. O cartão tinha dois telefones – um era o telefone do bar do Gabriel, que é uma referência dentro da favela, e o outro, do Itamar (Messias Silva dos Santos, membro da quadrilha da favela Pantanal). Então, tínhamos o Feitosa e uma prova de que ele falava a verdade.

Diário – Quem escreveu os números dos telefones?
Guimarães Carneiro – Foi Carina – dona do apartamento cedido para o Dionísio – que escreveu os números de telefones no cartão. A princípio, ela negou, depois que apresentamos um laudo pericial, que dizia que a letra era dela mesma, contou que o Teco fez os contatos com o pessoal da favela Pantanal.

Diário – Como vocês conseguiram esse cartão?
Guimarães Carneiro – A Carina e o Teco foram presos, por causa de tráfico de drogas. A polícia pegou todas as coisas que tinham sido encontradas na casa, durante a diligência, e guardou. O delegado Maurício Correali, de Taboão, embalou tudo direitinho. Mais tarde, quando ele soube da nossa investigação e do possível envolvimento do casal, mandou toda a documentação apreendida para a gente em Santo André. O (promotor) Amaro (José Thomé Filho), pesquisando esses documentos, encontrou o cartão com os telefones. Essa foi a grande sorte da nossa investigação: ter conseguido recuperar esse cartãozinho. Essa descoberta confirmou o depoimento do Feitosa.

Diário – Dizem que desde que o Feitosa ajudou a promotoria ele está sendo bem tratado na prisão.
Guimarães Carneiro – O Feitosa está em RDD (regime disciplinar diferenciado) na Casa de Custódia de Taubaté. Ele nunca pediu nenhum privilégio. Ele só pediu para não morrer. Ele é jurado de morte e nós temos a responsabilidade de zelar pela sua integridade física.

Diário – Alguém viu o Dionísio em Santo André?
Guimarães Carneiro – Ouvimos pessoas ligadas à Prefeitura de Santo André, para saber se o Dionísio tinha ligações com o Sérgio. O advogado que defendeu Dionísio no passado encontrou-se com ele saindo do prédio da Prefeitura de Santo André. Dionísio usava terno e gravata e disse para o advogado que agora “estava trabalhando sério”. O vice-prefeito (José Cicote) também confirmou que o Dionísio fez a segurança do Celso, em algum momento.

Diário – O sr. não acha mirabolante essa história: o preso foge da cadeia de helicóptero, em um dia arma um falso seqüestro, contrata uma quadrilha...
Guimarães Carneiro – A idéia do Sérgio era passar por vítima, sem imaginar que haveria toda essa repercussão. As explicações que ele apresentou para a polícia – explicações que qualquer vítima apresentaria com tranqüilidade – é que são mirabolantes. O que Sérgio disse foi integralmente desmentido pela polícia.

Diário – O que dizem as testemunhas que presenciaram o arrebatamento?
Guimarães Carneiro – As testemunhas dão conta da colaboração do Sérgio na ação do arrebatamento do prefeito. Existe uma prova técnica que demonstra a ocorrência de disparos, quando Sérgio estava fora do veículo.

Diário – O Copom não forneceu para a promotoria a seqüência das gravações daquela noite. Isso pode atrapalhar a busca de provas?
Guimarães Carneiro – Não tem problema que a gente não tenha as seqüências das gravações. Nós ouvimos uma testemunha falando no Copom e no fundo os disparos. Bastava para a gente saber em que momento foi feita a comunicação para a polícia. São duas testemunhas, na realidade. O marido estava no banho, quando acontece a primeira série de disparos. Ele se enxuga, coloca uma bermuda e sai na varanda de sua casa. Ele vê o Sérgio, com o revólver na mão, fora do veículo. Fora do veículo! O carro abandonado. O prefeito já tinha sido arrebatado. Essa testemunha volta para dentro de casa e pede para a mulher dele ligar para a polícia. A mulher faz a ligação, diz que tinha uma Blazer abandonada na rua – ela confunde a Blazer com a Pajero – e quando ela está encerrando sua comunicação ouvem-se mais disparos. O fato é que o Sérgio estava fora do veículo, quando ocorrem esses novos disparos. Não tem como refutar. É uma prova técnica.

Diário – Que disparos são esses, uma vez que o prefeito já não se encontrava no local?
Guimarães Carneiro – Essa é uma resposta que a gente quer ouvir do próprio Sérgio.

Diário – Um jornal disse que esses disparos referiam-se a um assalto contra um motoqueiro, ocorrido naquele local.
Guimarães Carneiro – Acho inacreditável que alguém venha dizer que esse disparo tenha a ver com a morte de um motoqueiro. Tivemos notícia da morte de um motoqueiro, próximo dessa rua, alguns dias antes do arrebatamento. Alguns dias antes, e não no mesmo momento!

Diário – Pode surgir um fato novo que possa provar a inocência do empresário Gomes da Silva? Qual é a pena, se ele for condenado?
Guimarães Carneiro – Tenho absoluta convicção na participação de Sérgio. A pena mínima de condenação por homicídio qualificado é de 12 anos.

Diário – O deputado Luiz Eduardo Greenhalgh disse que se consegue o que se quer de um preso. O que o sr. acha dessa declaração?
Guimarães Carneiro – Pessoas que têm um histórico na defesa de direitos humanos tratam presos como se fossem lixo. O depoimento do preso deve ser colhido e confirmado. Apenas isso. Os ataques do deputado Greenhalgh têm passado da medida. Só que ele esqueceu que foi ele que ouviu primeiro os presos da favela Pantanal. Então, fica aí uma pergunta: os presos dele têm mais valor que os nossos?




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