Mais cansaço, menos dinheiro no bolso e muito tempo perdido no trânsito. Assim pode ficar a vida de grande parte das 250 mil pessoas que se utilizam de ônibus fretados a partir de 27 de julho caso entre em vigor a portaria do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), que restringirá a circulação dos fretados na Capital. Essa modalidade de transporte público é responsável por 2% dos deslocamentos na Região Metropolitana, quatro vezes a demanda dos táxis, por exemplo. O governo espera retirar 1.300 veículos - 650 pela manhã e 650 à tarde - , do minianel viário definido agora como ZMRF (Zona Máxima de Restrição a Fretados).

O Grande ABC vai ter sérios problemas
Para chegar em seus destinos, os usuários da região terão de descer no Terminal Sacomã e usar o transporte público, ou optar por carro próprio. Com a restrição agora imposta, os passageiros terão de pegar outras conduções para chegar ao local de trabalho, além dos gastos adicionais por pagarem o fretado e mais o transporte público adicional. Esta medida prejudica também os não-usuários de fretado, pois serão milhares de pessoas e carros a mais brigando por espaço nas ruas, ônibus e metrô.

Prova de incoerência
O que polui mais? Um ônibus ou 40 carros? O que causa mais trânsito? Um ônibus ou 40 carros? É mais fácil colocar filtros de emissão de poluentes em um ônibus ou em 40 carros?

 Ao contrário de resolver o problema da poluição com a retirada dos ônibus, vai haver um agravamento do problema. Além do aumento dos carros, outro impacto possível poderá ocorrer se quatro ou cinco pessoas alugarem uma van, que vai ter impacto muito maior no trânsito do que os ônibus. O trânsito na Grande São Paulo certamente irá piorar!

O ônibus fretado tem a imagem de ser um serviço adotado apenas por pessoas de alto poder aquisitivo. Pesquisa Origem/Destino do Metrô, porém, apontou queda na renda média do usuário do serviço entre 1997 e 2007.

Solução
A alternativa para esses problemas seria fixar normas rígidas como aprovação prévia detalhada de rotas, paradas, horários e fiscalização. Entre os principais problemas dos fretados estão as paradas desordenadas para embarque e desembarque em vias saturadas e a existência de muitos veículos e rotas clandestinas, sem autorização do município.

Em vez de parar dez vezes numa determinada avenida para embarcar e desembarcar usuários, os fretados poderiam ser obrigados a parar somente em um ou dois pontos da mesma via ou só em outra menos saturada. O caminho da regulamentação é melhor que o da restrição. Deve ser fiscalizado pela prefeitura e, se for regulamentado, poderá também gerar receita ao poder público. Portanto, ao invés de sofrer restrições, o serviço dos fretados deveria ser estimulado.

O que o Consórcio pode fazer?
É de se esperar que os prefeitos do Grande ABC se unam para defender a população da Região. Espero que o Consórcio Intermunicipal seja um viabilizador dos desejos dos moradores da região que trabalham e estudam em São Paulo. Milhares de pessoas serão discriminadas. Para finalizar, a regularização desse tipo de transporte deveria ser feita com ampla participação da sociedade na discussão.