Setecidades Titulo Especial
Mãe de juiz de futebol sofre dentro e fora do campo

Em ano de Copa do Mundo, progenitoras de juizes da região garantem no seu dia que o jeito é levar as provocações das torcidas na esportiva

Vanessa de Oliveira
11/05/2014 | 07:20
Compartilhar notícia
André Henriques/DGABC


Todo dia é dia de lembrar daquela que tem o dom de dar a vida. No entanto, não é todo tipo de lembrança que é bem vinda para algumas mães, que comemoram hoje o seu dia. Nas partidas de futebol, o ataque verbal dos torcedores nos momentos de insatisfação com o juiz é quase sempre direcionado à progenitora do mediador do jogo. Em ano de Copa do Mundo no Brasil, então, os xingamentos serão somados ao nervosismo na busca pela vitória.

Mas, para as mães dos arbítros, a fúria da torcida ocasiona duplo sofrimento: pelo xingamento clássico e pelo medo de os filhos serem agredidos em campo.

A comerciante Maria José de Souza Santana, 50 anos, de São Bernardo, sabe bem o que é isso. Juiz há 13 anos pela Associação de Árbitros do ABC, o filho Denis de Souza Santana, 30, já recebeu um tapa no rosto de um jogador enfurecido. “Cheguei em casa e, ao contar para a minha mãe, ela chorou”, lembra o profissional.

É por essas e outras que Denis prefere não levá-la à nenhuma partida que apita. “Tenho medo que ela sofra alguma agressão verbal e física. O pessoal fica à flor da pele durante o jogo e tenho receio que minha mãe se sinta ofendida, afinal, torcedores e jogadores falam muitos palavrões e a mãe do juiz é uma das vítimas preferidas.”

Maria José pactua da argumentação do filho e nunca assistiu a um jogo conduzido por ele. “Se eu participasse, não iria gostar de ser tão xingada. Acho que se estivesse presente no dia em que o jogador o agrediu, teria partido para cima para defendê-lo”, diz ela, que criou Denis e mais duas filhas sozinha.

Acompanhando de longe, o grande coração de mãe se torna pequeno de tanta angústia. “Quando aconteceu essa agressão, até perguntei para ele se não era melhor parar com a carreira, mas ele quis continuar. Então, peço a Deus que o proteja e só fico tranquila quando sei que chegou na casa dele.”

XINGAMENTOS

Assim como a mãe de Denis, a ajudante geral Maria Regiane Torres da Silva, 45, também de São Bernardo, não acompanha nenhuma partida apitada pelo filho, Lucas Torres Lino, 23. “Só assistia quando ele atuava como jogador. Agora, pergunto: ‘E aí, me xingaram muito hoje?’”, fala, aos risos.

Lucas diz que xingar a mãe do juiz é algo que faz parte da tradição futebolística. “Está na cultura do futebol. É um meio de colocar pressão, na tentativa de que, em um outro lance, o juiz seja favorável.”

Por essa razão, a mãe até concorda com a exaltação da torcida. “Sei que é um momento de nervosismo. Quando o Lucas era jogador, eu também xingava o juiz”, recorda.

Maria Regiane pode não estar por perto no momento da partida, mas Lucas a leva para dentro de campo mesmo assim. “Tenho muito o gênio dela, personalidade e opinião forte, e isso me ajuda na hora de apitar uma partida. Tenho que me impor, senão os jogadores querem fazer o meu papel de árbitro”, ressalta.

COMEMORAÇÃO

Hoje, Dia das Mães, Denis e Lucas estarão nos gramados. Será que a data especial amolecerá o coração da torcida? As mães dos árbitros acham que não. “Deveriam não xingar, mas xingam, fazer o quê? Sempre foi assim e sempre vai ser”, afirma Maria José. O jeito então, é levar, literalmente, na esportiva.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;