Deve ser excelente viver em cidade idealizada pelo prefeito Luiz Marinho (PT), que hoje administra São Bernardo. Bastante diferente, diga-se, de morar em município governado por ele. É que existe distância gigantesca, como a da Terra para a Lua, entre o que o petista promete e o que efetivamente cumpre. Tome-se como exemplo o caso do Hospital de Clínicas, entregue com toda pompa e circunstância em dezembro de 2013, com as presenças de petistas ilustres, como a presidente Dilma Rousseff e o antecessor Luiz Inácio Lula da Silva.

No discurso da solenidade de inauguração do complexo hospitalar, com a verve e a arrogância que lhe são peculiares, o prefeito prometeu à população promover a cada mês 1.500 cirurgias, o mesmo número de internações e 10 mil consultas com médicos especialistas. De seu habitat natural, o palanque, saiu aplaudido de forma bastante entusiasmada.

Decorridos dois anos daquela festa, todavia, a comunidade são-bernardense é obrigada a conviver com estrutura hospitalar subutilizada. Entende-se por que Luiz Marinho faz de tudo para manter escondidos os números relacionados ao Hospital de Clínicas – os quais a equipe de reportagem deste Diário obteve somente após recorrer à Lei de Acesso à Informação, em trabalho primoroso do editor de Política, Raphael Rocha. Eles jogam por terra o discurso fácil do prefeito.

A quantidade de cirurgias realmente realizadas na instituição de saúde equivale a 12,3% da divulgada inicialmente. Foram registrados 4.243 procedimentos no período em que deveriam ter sido verificados 34,5 mil. Os demais compromissos assumidos pelo petista também foram todos desrespeitados. Internações atingiram 20,1% do total, enquanto as consultas chegaram a 16,16%.

A única meta original que Luiz Marinho está próximo de bater é a dos gastos. Mesmo com boa parte da estrutura às moscas, o Hospital de Clínicas torrou R$ 124 milhões dos cofres públicos, 77% do orçado. Não é que faltam doentes em São Bernardo; o que sobra na cidade é gestor cara de pau.