O líder comunitário do Jardim Oratório, João Lopes, o João de Mauá (PSDB), autor de denúncia encaminhada ao MP (Ministério Público) sobre o uso irregular dos carros oficiais da Câmara de Mauá, tem sido pressionado pelo partido a não ir adiante no caso. O tucano cogita pedir afastamento da legenda.
"Tornei-me não confiável para eles", ressalta João, que teme que o seu desejo de se candidatar a vereador em 2012 seja barrado pela cúpula tucana da cidade.
Mas os executores da pressão tendem a não ser apenas os tucanos, representados no Legislativo por seu presidente municipal, Adimar José Silva, o Edimar da Reciclagem. Isso porque a acusação coloca contra a parede todos os 17 vereadores.
Edimar foi nomeado na segunda-feira um dos três integrantes da sindicância criada pelo presidente da Casa, Rogério Santana (PT), para apurar a denúncia - os outros são Rômulo Fernandes (PT) e Alberto Pereira Justino, o Betão (PSB) - leia reportagem abaixo.
O mandatário do PSDB na cidade não esconde que João poderá sofrer represálias do partido. "O novo presidente verá o que fará com ele", alerta. A convenção que definirá os novos integrantes do diretório e da executiva municipal do partido está marcada para o dia 13.
A postura de Edimar considera as pretensões de João. "Uma coisa é denúncia de quem não está na política, outra é a de quem quer estar aqui", atenta. "Denunciar ato falho da Câmara é legítimo, desde que seja a verdade. Se não, já cria clima ruim com pessoas que ele pretende que sejam seus colegas de trabalho", analisa o vereador.
LENTIDÃO
O primeiro ato da investigação será na quinta-feira, somente 11 dias após a publicação da sindicância, que vigorará inicialmente por 60 dias - o prazo poderá ser estendido caso não haja resultado satisfatório. Está agendada reunião dos integrantes do grupo com João de Mauá após a sessão ordinária.
Apesar da criação da sindicância, corre no Legislativo a sensação de que nada será feito para coibir o uso dos carros oficiais para a prática de atos assistencialistas e eleitoreiros.
A denúncia encaminhada por João de Mauá ao Ministério Público tem sido conduzida com cautela, mas também com desprezo, pelos parlamentares. Apesar de não admitirem publicamente, é consenso entre os pares e funcionários do Legislativo de que, mesmo sob regulamentação, dificilmente os veículos deixarão de ser utilizados para a prestação de favores a moradores.
"Mesmo com as situações partidárias, há combinado na Câmara de um vereador não ferrar com o outro. São corporativistas", lamenta o denunciante. O cenário só mudará perante amplo processo de fiscalização, o que está fora de cogitação pela presidência da Câmara.
Líder do governo e um dos integrantes da sindicância, Rômulo Fernandes, apesar da descrença alheia, projeta ouvir, "em 30 dias", todos os envolvidos.
João de Mauá protocolou a acusação na promotoria da cidade há duas semanas. Além de alertar para o uso dos carros oficiais para práticas assistencialistas, há um flagrante envolvendo o vereador Ozelito José Benedito, o Irmão Ozelito (PSB). Carro a serviço de seu gabinete foi fotografado transportando material de sua campanha para deputado estadual, em 2010. O socialista se diz vítima de armadilha arquitetada por um ex-assessor.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.