O sistema de aplicação de multas do Grande ABC mais uma vez é colocado em dúvida por motoristas da região. Desta vez, condutor de Mauá foi autuado por dirigir a 153 km/h na Avenida Capitão João, 810 (sentido bairro/Centro). A infração, aplicada no dia 8 de setembro de 2015, poderia ser só mais uma não fosse pelo fato de ter sido registrada em uma terça-feira, às 19h43, em uma das vias mais congestionadas da cidade, segundo a própria Prefeitura.

“Quando recebi a multa, fiquei surpreso. Na minha cabeça aquilo era um erro de calibragem do radar, ao invés de registrar 53 km/h, marcou 153 km/h. Nunca tinha levado nenhuma multa na minha vida. Sem contar que o trecho em que o radar está localizado é impossível andar em uma velocidade dessa, mesmo sem congestionamento”, diz o eletricista Raphael Henrique dos Reis Almeida, 23 anos.

A suposta infração, cujo valor cobrado foi de R$ 574,61, além de custar sete pontos na carteira do eletricista, trouxe outros transtornos. “Como é considerada gravíssima, recebi notificação do Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo) para suspensão do meu direito de dirigir por algo que não fiz. É revoltante”, desabafa Almeida.

Inconformado, o motorista chegou a apresentar em outubro defesa de autuação na Jari (Junta Administrativa de Recursos de Infração) de Mauá. Entretanto, o processo foi indeferido pelo órgão no mês seguinte sem nenhuma justificativa para argumentar a decisão.

“Gostaria de saber qual foi a base da decisão. Eles foram no local calibrar o aparelho? Levantaram quantas multas foram aplicadas pelo radar naquele dia? Eu posso ter procurado o Diário para me ajudar, mas podem ter muitos outros motoristas que pagaram a infração e não questionaram”, relata Almeida.

A transparência na atuação das Jaris já havia sido alvo de questionamentos por profissionais da área. No mês passado, em entrevista ao Diário, a advogada especialista em Mobilidade Urbana Lilian Regina Gabriel Pires, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirmou que o órgão deveria ter uma regulamentação especifica. “Não sabemos se a pessoa que avalia os recursos é qualificada para isso.”

Esta é a terceira vez que o Diário relata erros cometidos pelo sistema de fiscalização de Mauá. Em junho de 2012, condutor de um carro foi autuado por estar de capacete sem viseira na Avenida Papa João XXIII, altura do número 887. No mesmo ano, motociclista foi notificado por dirigir sem cinto de segurança na mesma via.

Em nota, a Prefeitura disse que o processo de autuação do eletricista Raphael Henrique foi encaminhado para revisão pela Secretaria de Mobilidade Urbana de Mauá. Uma nova decisão deve ser emitida nos próximos dias. Entretanto, a administração municipal não pontuou quantas multas foram aplicadas pelo radar citado no dia da infração nem o pico de congestionamento registrado na ocasião.