O amor é uma constante na vida de Paulo Carvalho. Tão constante que um dia, enquanto se apresentava na Espanha, o paulista - também psiquiatra - percebeu que era algo do qual não podia escapar. Seu segundo disco, ‘O Amor É Uma Religião', que ele apresenta em show na sexta, no Sesc Santo André, é o seu principal acerto de contas com o assunto. A evolução do seu olhar como artista sobre um tema que só o tempo, os encontros e a inspiração puderam lapidar.

"No CD impera a ideia do amor estar acima de todas as coisas. Logo no meu primeiro trabalho (‘De Longe'), comecei com composições amorosas sobre encontros e desencontros. Falava de romantismo, da perda, da busca por um amor ideal, mas de maneira ingênua e inconsequente. Isso agora vem de forma mais madura", revela Carvalho, que vê nas duas profissões que tem um apreço pelo valor da palavra.

"Meu universo é envolto de palavras. Comecei com poemas, depois migrei das palavras da poesia para a das canções e em seguida me formei médico. Essa relação nunca desliga, é do contato com as pessoas que dizem essas palavras que eu me alimento."

Produzido por Regis Damasceno e Yuri Kalil, do Cidadão Instigado, o álbum, de apelo pop, carrega leque de influências que vão da bossa nova à Jovem Guarda, passam pelo rock e trazem bom diálogo entre o orgânico e as programações. "Ultimamente, estava ouvindo algumas coisas do Radiohead e prestando atenção no preciosismo de detalhes no trabalho deles, no sentido de cada nota, cada inserção, serem todas calculadas. Queria algo igual no meu disco, coisas limpas e colocadas no devido lugar."

Além das composições próprias, de algumas parcerias, o trabalho conta com ‘Solando no Tempo' (Luiz Melodia) - de onde foi retirada a frase que dá nome ao disco - e ‘Aeroplanos' (Jorge Mautner e Rodolfo Grani Junior). No show, além de mostrar ‘O Amor É Uma Religião', Carvalho resgata algumas canções de seu primeiro trabalho e faz alguns covers, "para mostrar esse lado cantor, o instrumento com o qual eu mais trabalhei nos últimos anos", diz ele, dono de um timbre doce e afinado.

A respeito do amor que já foi cantado - e desancado - em outros períodos musicais, Paulo Carvalho crê que hoje, e a despeito de toda a pieguice, o sentimento precisa ser encarado. "Vemos que amar é uma questão que fica em segundo plano hoje, principalmente porque as pessoas estão vivendo experimentações sexuais diferentes, com encontros mais rápidos e menos planejados."

Paulo Carvalho - Música. Sexta, às 21h. No Sesc Santo André - Rua Tamarutaca, 302. Tel.: 4469-1200. Ingr.: R$ 5 a R$ 20.