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Billings vira ninho da canoagem brasileira
Anderson Fattori
Do Diário do Grande ABC
05/09/2010 | 07:42
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São Bernardo foi abençoado com 96 dos 127 quilômetros quadrados de extensão da Represa Billings, maior reservatório de água da Região Metropolitana de São Paulo. Seu clima quente e úmido se aproxima com o encontrado no verão europeu. Essas características transformaram a cidade na capital brasileira da canoagem e foram decisivas para que a Confederação Brasileira da modalidade elegesse o município para receber o primeiro centro de desenvolvimento do País.

Há algum tempo, o Parque Estoril, onde será erguida a infraestrutura, respira ares da canoagem. A abundância de água fez com que vários atletas usassem as raias para treinos. Agora, porém, é oficial e a partir de novembro o local receberá investimentos de R$ 4,1 milhões, com a construção de 62 alojamentos, auditório, salas de fisioterapia e imprensa, hangar e refeitório. A previsão é que em um ano as obras estejam concluídas. "São Bernardo está cedendo o espaço e o investimento virá do governo federal, por intermédio do Ministério dos Esportes", explica o secretário de Esportes, José Luiz Ferrarezi.

A intenção é hospedar as seleções brasileiras masculina e feminina que ficarão permanentemente no local, treinando visando, entre outras competições, os Jogos de Olímpicos de 2012 (Londres) e 2016, no Rio de Janeiro. "Vamos ter excelente estrutura. Além dos principais atletas do País, nosso foco é oferecer vagas nas escolinhas para inicialização de jovens na modalidade", ressalta Ferrarezi.

A iniciativa é vista com bons olhos por aqueles que há muito tempo possuem a canoagem como profissão. Entre eles, o argentino, naturalizado brasileiro, Sebastián Cuattrin, que encerrou a carreira em 2008 e hoje atua como coordenador da Seleção Brasileira. "É uma excelente notícia para a modalidade. Sempre tive dificuldade por muitas vezes treinar sozinho, não tinha aquela motivação. Tendo a nata do esporte reunida, todos treinarão juntos e um acaba puxando o nível do outro. A tendência é termos uma grande evolução na canoagem", projeta.

Cuattrin carrega nas costas 24 anos de canoagem, participação em quatro olimpíadas, 11 medalhas nos Jogos Pan-americanos, 22 vezes campeão sul-americano, além de 103 títulos brasileiros. Hoje ele usa a experiência na garimpagem de novos talentos. "Temos ótimos atletas, principalmente no feminino, e boas condições de chegar à Olimpíada. Acho até que dá para sonhar mais alto. Essa notícia sobre o centro de desenvolvimento veio em ótima hora para o esporte e deu ainda mais motivação para que continuemos trabalhando pela valorização da modalidade. Estou muito feliz e confiante", completou o ex-atleta que fixou residência em São Bernardo e hoje disputa algumas provas náuticas, apenas como hobbie.

Escolinha revela fera na modalidade

Regiane Sarango de Souza. Anote esse nome. Segundo especialistas em remos, essa são-bernardense de 20 anos é uma das jóias lapidadas nas águas da Billings e que hoje ocupa lugar de destaque na canoagem brasileira. Atual campeã sul-americana, ela surge com força para representar o Brasil na Olimpíada de Londres, em 2012 e está sendo preparada para assumir condição de favorita no Rio de Janeiro, em 2016.

Tudo começou com simples cartaz fixado no mural da escola. "Tinha 14 anos, vi o anúncio da escolinha e resolvi me inscrever, mas nem sabia nadar. Alguma coisa dizia que precisava participar e tomei coragem", lembra Regiane. "Pela primeira vez meu pai foi à reunião da escola, no dia que apresentaram o projeto", completa.

O início não foi fácil, mas foi divertido. "Não tinha muita noção, nunca imaginava que fosse dar certo. Encarava como brincadeira", conta a atleta, que viu o foco mudar um ano depois. "Ganhei os Jogos Regionais em 2005. Na canoagem todo mundo é conhecido, de repente surge uma menina que ninguém nunca tinha visto e ganha", recorda.

Foi o cartão de visitas para entrar de vez no cenário da modalidade. Mas como todos grandes esportistas, Regiane teve de conviver com duras críticas. "Teve técnico que dizia que eu não levava jeito. Pensei várias vezes em desistir, abandonar tudo, mas graças aos meus amigos e familiares tive forças para continuar. Devo muito aos técnicos Pedro Sena e principalmente o Ákos (Angyal, húngaro que é o atual treinador da Seleção Brasileira) que me ensinaram tudo que sei", agradece.

Espiritualista, Regiane faz questão de ressaltar as coincidências que movem sua vida. Mesmo superando os obstáculos inicias, aos poucos a atleta foi se desmotivando, principalmente por conta da parte financeira que começava a apertar. "Não achava que tinha futuro, mas quando decidi parar surge a notícia do centro de treinamento em São Bernardo. Pensei: ‘virá gente do Brasil inteiro e eu que sou daqui vou deixar essa chance escapar?' Junto com a notícia veio apoio financeiro da Prefeitura e hoje tenho condição de dizer que vivo da canoagem", orgulha-se.

Com a cabeça voltada apenas para a competição, aflorou o talento natural de Regiane para o esporte. Hoje, ao lado de Ana Paula Vergutti, Nayane Fragoso e Bruna Gama forma o quarteto de ouro da canoagem brasileira. "São os grandes destaque que temos. A Regiane é uma lutadora e tem potencial incrível. Confio nela para conseguir vaga tanto na Olimpíada de 2012 como de 2016", avalia o coordenador da Seleção Brasileira, Sebastián Cuattrin.

Sem graça com o elogio, Regiane mostra humildade. "Sinceramente, penso no hoje para não me decepcionar. Se for merecedora vou estar lá, mas não sonho com isso.Quero fazer meu trabalho e deixar que Deus interceda por mim", finaliza.




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