"Do jeito que a sociedade anda, é capaz que no final os quatro durmam juntos", aponta uma senhora. Do outro lado, uma jovem diz: "Mas depois de toda a revolução nos costume e maior liberdade ainda há quem rejeite fazer sexo com o Dalton Vigh?". "Acho que até eu toparia", respondeu o homem que a acompanhava.

Os três falavam de Vamos?, comédia em cartaz no Teatro Imprensa, na Capital. Pelo andor das confissões já é de se esperar que nem no palco as coisas se diluiram de forma homogênea. Amor, sexo e amizade, nem meio nem consequência para todos, mas a representação de variantes na importância e no sentimento de cada um.

Dois seres, A e B, que durante a peça são representados como heterossexuais e homossexuais, variando entre caça e caçador, se desejam. Um deles quer transar com o amigo, que não cede fácil, com medo de que a amizade perca o sentido.

Dalton Vigh se reveza com Rachel Ripani no papel dos caçadores, enquanto Tania Khalill e Alex Gruli dão voz aos passivos.

Sem metafísica na relação entre os sexos, tudo é só sacanagem e palhaçada. Conquista pelo riso fácil, e não passa daí. Não há quem não flagre um pouco de si em alguns dos personagens, se encaixando entre os que são duro de se dar ou os se dão livre e muito assiduamente.

A encenação encanta pelas soluções. Afinal, de quatro atores, só dois permanecem no palco, sempre se revezando com os que ficam de fora. Enquanto um foge da cena o outro aparece em seu lugar de maneira muito original. Mas não é regra. Os quatro, em algum momento, desvirtuam essa ordem, como se deixassem clara a mensagem de que nada é lei entre o que pode acontecer entre a gente e o outro e que não existe melhor maneira de acontecer.

A surpresa, para quem vai ao teatro ver globais, é perceber que Rachel e Gruli roubam a cena sem caricatura.

Vamos? - Teatro. No Teatro Imprensa - Rua Jaceguai, 400, São Paulo. Tel.: 3241-4203. 6ª, às 21h30, sáb., às 21h e dom., às 19h. Ingr.: R$ 40 (6ª e dom.) e R$ 50 (sáb.). Até 28 de novembro.