Nas entrelinhas das folclóricas rixas sul-americanas, os chilenos garantem que a rivalidade que têm com os argentinos é a maior do continente. Seja nas lutas territoriais de outros tempos, na autenticidade das empanadas ou no futebol.

Neste aspecto, os andinos confiam o destino da seleção na Copa da África justamente a um treinador portenho: Marcelo Bielsa.

A boa fase na competição (duas vitórias em dois jogos, sobre Honduras e Suíça) e a possibilidade concreta de garantir a classificação às oitavas como líder do Grupo hoje, contra a Espanha, já fazem muitos chilenos repensarem as diferenças com os hermanos.

A família Molina, de São Caetano, é uma delas. Para eles, o futebol chileno ainda não pode ser equiparado em questões técnicas - com o brasileiro -, mas também nunca teve vergonha de ser contundente quando necessário.

O estilo tradicional sempre funcionou em um meio-termo que o novo comandante soube condensar de forma eficiente. "Ele (Bielsa) equilibrou o padrão do grupo e gosta de jogo ofensivo. Mas o grande diferencial foi a confiança que trouxe de volta para a seleção", afirmou o funcionário público Egídio Molina, 31 anos.

"Em 1998, o Chile tinha uma baita dupla de ataque (Salas e Zamorano). Mas só isso. O resto era apenas retranca e receio. Hoje é tudo muito mais homogêneo", concluiu.

Seu pai, o engenheiro Juan Bautista Molina, 64 anos, que migrou de Santiago para São Paulo há mais de 30 anos, teria tudo para ter uma versão mais purista. Mas o ponto de vista é igualmente otimista ao do filho. "No futebol não tem importância de onde vem o técnico, e sim o resultado que ele consegue atingir", endossou.

A renovação do elenco chileno e o esquema tático ousado utilizado pelo comandante argentino (3-4-3) também foram fatores importantes e apontados como diferenciais por ambos. "Futebol precisa sempre de gente jovem. O Chile tem jogado bem como há anos não jogava", disse Juan. "O Bielsa poderia ser técnico da Seleção Brasileira que não faria feio", completou Egídio.