Diarinho Titulo D+
Espantando o porco!

Todo mundo está cansado de ouvir falar sobre o vírus, mas já reparou em que a pandemia mudou sua vida?

Por Marcela Munhoz
09/08/2009 | 07:15
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Não pode espirrar ou tossir sem ser fuzilado. Não pode abraçar nem apertar a mão. Não pode beijar o rosto, dar selinho, muito menos beijar de língua. Não pode ir ao estádio ver o time do coração. Não pode ir ao cinema. Não pode dividir o lanche nem o refrigerante. Não pode ir à escola. Não pode dançar pertinho nem distante. Não pode se benzer com água benta nem dar as mãos. Não pode, não pode não.

Desde que a tal gripe suína ou gripe A (H1N1) apareceu pela primeira vez lá no México em 24 de abril, cada vez mais os não podes estão tomando força e ganhando espaço. "Só gostei que as férias foram adiadas, mas está um saco ter de ficar em casa no computador e videogame. Deixamos de ir até no Hopi Hari", desabafa Bruno Húngaro, 13 anos, de Santo André.

O garoto conta que a mãe vive perguntando se ele está espirrando, tossindo, com febre e dor no corpo. "Ela está tão neurótica que não deixa a gente fazer nada. Nunca lavei tanto as mãos e tomei tanto suco de laranja na minha vida. Mesmo sendo chato, acho que no fundo ela está certa."

A mãe de Bruno e de Henrique, 8, Ana Cristina Húngaro, 38, confessa que está realmente preocupada. "É melhor pecar pelo excesso do que pela falta. Tenho medo que meus filhos se contaminem. É coisa de mãe", diz Ana Cristina, que até tenta esquecer o assunto, mas não dá. "Em todos os lugares que vou, todo o canal de televisão que ligo, todo jornal e revista que abro, só se fala nisso. Não vejo a hora que essa gripe acabe. Está complicado viver assim."

INSEGURANÇA - Na casa de Jaqueline Trivitera, 13 anos, de São Bernardo, a mais preocupada é ela. "Me previno ao máximo. Deixei de ir com as amigas ao cinema e shopping. Não divido mais refrigerante nem lanche. Lavo a mão várias vezes ao dia. Minha mãe comprou gel, mas não achou máscara. Não sei se adianta, mas estamos tentando", fala a garota que só sai de casa para ir ao treino de nado sincronizado. "Na maior parte do tempo estou no computador. Não sei como vai ser quando as aulas voltarem no dia 17."

A mãe da menina, Aparecida Trivitera, 42, conta que, assim como as filhas (Jaqueline tem irmãs gêmeas de 9 anos), também está preocupada. "O complicado dessa história é que ninguém - nem o governo nem os especialistas - sabe direito a gravidade da gripe. Cada um fala uma coisa e enquanto isso, estamos fazendo nossa parte."

Para o infectologista do Hospital Albert Einstein, Hélio Bacha, o que vale mesmo é lavar bem as mãos com bastante água e sabão, e usar o álcool gel. "Não há nenhuma prova de que as máscaras contenham o vírus, e vitamina C faz bem, mas não evita a gripe", fala o médico que lembra: "o vírus se propaga muito mais rápido pelo ar do que pelo contato."

Até que ponto é neurose?

Dá para perceber que o pânico está se espalhando por aí. Mas, até que ponto é exagero? Segundo os especialistas, apesar de ser uma doença que ataca jovens saudáveis, ser transmitida rapidamente, evoluir com agressividade e carregar o risco de uma mutação mais violenta, não é para ter medo porque o pânico só piora a situação.

Segundo o médico Hélio Bacha, apenas 5% dos casos se tornam graves, sendo que 98% dos infectados vão se recuperar sem nenhum tratamento. Ele lembra que a gripe comum mata entre 250 mil e 500 mil pessoas por ano no mundo.

"Acreditamos que 10% da população vai ter a gripe suína e que o número de casos vai crescer mais (principalmente nas próximas duas semanas), porém ainda não dá para saber como esse vírus vai se comportar no futuro", alerta o médico, que explica que cada organismo tem uma reação diferente. "Por isso é importante ficar atento para os sintomas."

Para o diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, David Uip, a melhor maneira de driblar a gripe é evitar o contato com muita gente em lugares fechados. "Provavelmente morreram muitos jovens porque eles estavam mais expostos. Por isso, recomenda-se que evitem aglomerações, baladas, dividir o copo e também beijar na boca de desconhecidos. Infelizmente conceitos precisam ser revistos."

Nem beijar pode!

O avanço da gripe está dando brecha para recomendações curiosas. Na Alemanha, o ministro da Saúde aconselhou fãs que curtem shows a evitar abraçar, beijar e dar as mãos.

A Televisa, o maior canal de televisão do México, suspendeu as cenas de contato físico nas novelas. Segundo Nicandro Díaz, produtor da novela Mañana es para siempre, as cenas de beijo foram vetadas. O produtor alega que todos têm o direito de proteger a saúde.

Apesar de estar preocupado, Juliano Bueno, 14 anos, de Santo André, não parou de beijar nem de fazer uma coisa que adora: ver o Corinthians jogar. "Isso não dá, né? Mas tomo todo cuidado", conta o garoto que está lavando as mãos mais do que nunca e deu umas amenizada nas saídas. "Antes ficava fora todo dia, agora no final de semana. Abandonei shopping e cinema. Estou no computador e videogame."

Juliano tomou essas atitudes depois que o pai de uma amiga dele, de São Caetano, morreu em decorrência do vírus. "Fiquei assustado porque ele era jovem. Está cada vez mais comum todo mundo conhecer alguém que morreu. Mas quero pensar que isso vai passar logo. Torço para que o verão chegue o mais rápido possível e a gripe fique menos perigosa."




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