Diarinho Titulo História de vida
Ninguém é irrecuperável
Do Diário do Grande ABC
02/08/2009 | 14:00
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Caçula entre dez irmãos, o mineiro Roberto Carlos foi levado à Febem pela mãe com 6 anos porque, segundo as propagandas de TV na década de 1980, a instituição preparava crianças e adolescentes para serem médicos, advogados e engenheiros. Não demorou para que o garoto enxergasse a real e quisesse fugir de lá.

Dos 7 aos 13, fez 132 vezes o caminho Febem-rua, rua-Febem. Assaltou, usou drogas, apanhou, foi estuprado, quis se matar. Todos diziam que era irrecuperável, até que a pedagoga francesa Margherit Duvas resolveu escutar o que ele tinha para contar. Tudo mudou. Sua vida virou filme.

"O Contador de Histórias" (clique aqui para ver galeria de foto), que estreia nesta sexta (7), é baseado na trajetória de Roberto Carlos, que narra a própria história. Hoje, é pedagogo, um dos dez maiores contadores de histórias do mundo (saiba mais no wwws.br.warnerbros.com/ocontadordehistorias) e adotou 13 meninos de rua ‘irrecuperáveis', como ele.

"Lembro do dia em que conheci Margherit. Ela se abaixou e falou duas palavras, que em 13 anos de vida nunca tinha ouvido de ninguém: por favor e com licença", conta Roberto, que acredita que não há pessoas irrecuperáveis. "Há apenas pessoas mal-amadas, incompreendidas e sem oportunidade."

HISTÓRIA SE REPETE - Fora da tela, casos como o de Roberto Carlos podem se repetir. "O que eles mais querem, quando chegam, é ser ouvidos. Muitos nunca tiveram a chance de desabafar. A gente tenta esquecer o que fizeram e dá atenção ao que querem agora", explica o assistente social Antônio Martim.

Rafael*, 16, chegou à Fundação Casa de Mauá acusado de tráfico de drogas, revoltado, sem estudar. Com a ajuda dos profissionais do Estado, como o professor Elvis Guedes, o garoto pensa em ser médico, escrever poemas e continuar o curso de espanhol que iniciou lá. "Eles passam a descobrir seus talentos", fala Elvis.

O professor fez a diferença na vida de Rafael. "Ele escreve frases que fazem a gente pensar, como a da cobra que quis comer o vaga-lume porque ele brilhava demais. Ninguém tem o direito de apagar o outro. Eu também posso brilhar", afirma Rafael, que confessa nunca ter escutado o que a mãe dizia. "Hoje sinto falta de puxões de orelha." O garoto deve sair logo. "Quero trabalhar e mudar de vida. O dinheiro de um trabalho honesto tem muito mais valor."




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