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'Às vezes o PT é arrogante', diz Cardozo
Cristiane Bomfim
Do Diário do Grande ABC
28/06/2009 | 07:17
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Secretário-geral do diretório nacional do PT e deputado federal no segundo mandato, José Eduardo Cardozo mostra insatisfação com o partido. Diz que a sigla precisa se revitalizar, trazer de volta antigos companheiros e abrir diálogo com outros setores da sociedade. O parlamentar vai mais fundo e afirma que o partido é arrogante no tratamento com aliados, pois muitas vezes impõe suas vontades.

Para mudar este quadro, Cardozo lançou sua candidatura à presidência do PT pela corrente Mensagem ao Partido. A ideia inicial era apoiar Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas, diante da recusa do pleiteante em concorrer ao comando do partido, o deputado resolveu participar em novembro do PED (Processo de Eleição Direita). Seu principal adversário é José Eduardo Dutra, presidente da BR Distribuidora e candidato pela CNB (Construindo um Novo Brasil), grupo que dirige a sigla atualmente.

Independentemente do vencedor do PED, Cardozo diz que o PT tem de unir forças em torno da candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para a sucessão de Lula sem deixar de lado as eleições estaduais, que servirão de suporte para o pleito presidencial.

DIÁRIO - Como está sua candidatura à presidência do PT?
JOSÉ EDUARDO CARDOZO A Mensagem ao Partido, a corrente a qual pertenço, decidiu que lançará candidato a presidente e escolheram meu nome. Mas a decisão não elimina o diálogo com outras correntes.

DIÁRIO - Isso significa que há chances de o senhor retirar sua candidatura?
CARDOZO - Ou os outros candidatos retirarem as candidaturas para nos apoiarem.

DIÁRIO - A renúncia do Gilberto Carvalho (chefe de gabinete do presidente Lula) muda o cenário?
CARDOZO - Se o Gilberto saísse candidato nós o apoiaríamos. Havia essa condição e, inclusive, participei de uma reunião com o presidente Lula e expressei a minha opinião. O Gilberto apareceria com uma candidatura supratendências. Todos concordavam com a candidatura dele. Ele teria o papel de sintetizar as forças políticas do PT na perspectiva de uma união partidária.

DIÁRIO - O José Eduardo Dutra, candidato do Lula pela CNB (Construindo um Novo Brasil) é o mais forte?
CARDOZO - O CNB tem uma situação mais favorável porque é a corrente que tem dirigido o partido por todos esses anos. Agora é óbvio que uma disputa sempre apresenta mudanças e pode apresentar reviravoltas. Achamos que temos condição de nos credenciar com uma candidatura que possa demonstrar a necessidade de renovação. Há um elemento diferencial nessa eleição que tem de ser levado com muito cuidado por todas as forças políticas. Temos um projeto em 2010 que está sendo construído. Tudo leva a crer que a nossa candidata seja a ministra (da Casa Civil) Dilma Rousseff e esse projeto representa um embate importante para o País e para o partido e tem de ser feito a partir de uma coesão partidária.

DIÁRIO - Será uma disputa mais amena?
CARDOZO - Do ponto de vista da forma, talvez. Do ponto de vista do conteúdo, não. Temos de ter cuidado e tratar todas as correntes como companheiros e não apenas dizer que somos companheiros quando nos chamamos uns aos outros. Nesse momento temos de pensar na renovação. Temos de ter na direção uma afirmação de mudança que permita dialogar com setores da sociedade que hoje não dialogamos. Permitir diálogo com pessoas que se afastaram do partido. Permitir a revitalização do PT e da militância.

DIÁRIO - Como o senhor imagina que possa ser priorizado o projeto 2010 de continuidade do governo Lula sem deixar que as disputas estaduais fiquem em segundo plano?
CARDOZO - Essa combinação é muito importante. Embora nossa política seja nacional e nossa prioridade seja a eleição da Dilma, não podemos subestimar o papel que as campanhas estaduais e as eleições de senadores e deputados federais possuem. Para que possamos ter um projeto em 2010 forte e uma governabilidade com condições boas para Dilma, temos de ter o maior número de governadores possível e bancadas fortes.

DIÁRIO - Mesmo se o governador José Serra não disputar a reeleição, há outros nomes fortes do PSDB em São Paulo. Qual o plano do PT para romper esta hegemonia tucana?
CARDOZO - Tem sido uma característica no Estado o PT lançar um candidato natural para o governo. Desta vez não temos. O que não quer dizer que não temos bons nomes. O PT precisa analisar qual é o melhor. Qual possui condições de trazer consigo forças políticas de outros partidos, aquele que consegue dialogar com setores da sociedade mais amplos e consegue harmonizar o partido da melhor forma possível. Temos duas possibilidades: ou optamos por nomes que já tem consolidação eleitoral e histórica ou podemos optar por construir um nome.

DIÁRIO - Dá tempo de construir um nome?
CARDOSO - Perfeitamente. Estamos há um ano e meio da eleição. Acho que nossos nomes são muito bons, com grande desempenho na vida pública e com potencial eleitoral. O que não podemos é cair na hipótese de disputa interna para escolher esse nome e nem cair na lógica de definir nomes para as disputas eleitorais considerando nossas disputas internas. A razão de ser da nossa existência é a disputa política e ideológica com os nossos adversários que estão fora do PT e por isso precisamos escolher aqueles nomes que melhor atendem as nossas expectativas externas.

DIÁRIO - Quem são esses possíveis candidatos?
CARDOZO - O (deputado Antônio) Palocci é um excelente nome pelo papel que fez como ministro (da Fazenda) e como prefeito de Ribeirão Preto. Posso citar também a Marta Suplicy, que tem grande potencial eleitoral e fez um excelente governo na Prefeitura de São Paulo. O ministro (da Educação) Fernando Haddad, um outro nome que considero excelente, ou o Emídio de Souza, prefeito de Osasco. Resta o partido analisar e escolher o que tem melhor condição.

DIÁRIO - Na sua opinião qual o melhor nome?
CARDOZO - Na minha avaliação, o melhor nome é o ministro Fernando Haddad. É um nome que pode ser construído. Ele fez um excelente trabalho no ministério e pode representar bem aquilo que foi feito no governo Lula. Mas acho temos de colocar todos os nomes na mesa e escolher o melhor. Se o conjunto do partido mostrar que eu estou errado, vou seguir com todos.

DIÁRIO - O Haddad seria uma estratégia para brigar com o Paulo Renato de Souza, secretário estadual de Educação e possível candidato?
CARDOZO - O Haddad não precisa polarizar com ninguém. O trabalho que ele fez como ministro da Educação é excelente, uma coisa que não podemos dizer do governo do Estado. O Haddad fez um ótimo trabalho em um governo muito bem avaliado e em uma parte muito exitosa que é a Educação. Então, fazendo uma análise comparativa do que é o governo Serra e do que é o governo Lula, o Serra tem muita dificuldade para se explicar. Em todas as áreas o governo federal saiu na frente.

DIÁRIO - E a questão do Ciro Gomes concorrer no estado?
CARDOZO - Acho que o PT nunca pode tratar com arrogância seus aliados políticos. Às vezes, cometemos esse erro. Não me agrada essa postura que temos de dizer: ‘quero estar aliado com você, mas meu candidato é este. Se você quiser estar comigo, quero que seja assim'. Acho que esse tipo de coisa é muito ruim. Eles têm total legitimidade para colocar os candidatos, os nomes e fazer sugestões. E acho legítimo que pessoas de dentro do PT achem que devemos indicar nomes de outros partidos. Mas, no contexto atual, temos em São Paulo condições de oferecer candidatos que possam ser construídos. O Ciro Gomes é uma pessoa a qual considero amiga. É um homem brilhante, um governador brilhante. Mas tem de avaliar se é o caso de pedir que ele deixe o Ceará e venha para São Paulo.

DIÁRIO - O PT tem sido arrogante?
CARDOZO - Algumas vezes foi sim. Até pela força política, pela presença no País, às vezes tratamos aliados como forças que nos devem seguir independentemente daquilo que decidirmos. Não os tratamos como parceiros. Aliança não implica em submissão. Parceria é diálogo, respeito recíproco e ouvir o outro.

DIÁRIO - O senhor acha que o Congresso tem deixado a desejar nos últimos anos?
CARDOZO - Sinceramente acho que sim. E aí me incluo. Estamos aquém das expectativas da sociedade. O que não quer dizer que o Congresso não tenha decidido coisas importantes, que lá não se trabalha e não tem pessoas honestas. Fico preocupado com a generalização absurda de que nenhum parlamentar presta. Se o Congresso esteve aquém das expectativas é porque não conseguimos superar certas características da política brasileira, como o a cultura clientelista, patrimonialista e a negação da separação entre o público e privado.




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