Os trabalhadores do Grande ABC ainda estão em dúvida se o Dia do Trabalho merece ser comemorado. Certamente os 128 demitidos da Cross Hueller, de Diadema, ex-controlada da gigante Thyssen Metal Cuting e hoje de propriedade da igualmente poderosa Mag Industrial Automation Systems, tem certeza de que a festa não será boa.

Nesta semana, os funcionários da Cross passaram quatro dias acampados em frente à fábrica na tentativa de receber os direitos trabalhistas que lhes foram negados. A justificativa da empresa é de que a crise derrubou suas vendas.

Mas, ao contrário dos trabalhadores de Diadema, a Thysen foi alvo ontem de elogios do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente visitou as obras do complexo siderúrgico, na cidade de Santa Cruz (RJ), que a empresa realiza. Para tanto, a companhia recebeu financiamento de cerca de R$ 1,5 bilhão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O complexo é um dos maiores investimentos privados do no País e faz parte do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

O slogan da companhia para o evento foi: "A TKC (Thyssen Krup) comemora o Dia do Trabalho gerando empregos". Lula foi o ator principal da cerimônia, com a entrega do crachá funcional de número 30 mil a um trabalhador recém-admitido pela empresa nas obras do complexo.

Mas se a companhia é heroína no Rio, é mais uma das vilãs no Grande ABC. Junto com a ex-controlada da Thyssen, dezenas de empresas da região foram responsáveis pela demissão de mais de 6.000 trabalhadores apenas do setor automobilístico, que se juntaram aos cerca de 18 mil dispensados em todos os setores de atividade na região.

Contra as tradições de resistência da região, os sindicatos, a título de defesa do emprego, negociaram diversos acordos de redução de jornada e salários. A iniciativa serviu de exemplo para o País.

Diante da nova realidade, perdeu força a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que institui a redução da jornada de trabalho no País, mas sem diminuição dos salários, que hoje tramita no Congresso Nacional.

O analista político Marcos Verlaine, do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), voltou suas críticas às vozes que se levantaram contra a aprovação da PEC. "Até os aliados da proposta estão assimilando a lógica patronal, que com ou sem crise são contrários a aprovação da PEC. Agora, a tese patronal está ancorada na crise para justificar a posição divergente dos empregadores", criticou Verlaine.

Grupo é acusado de desrespeitar meio ambiente e trabalhadores

O grupo alemão Thyssen responde a ações judiciais por desrespeito às legislações trabalhista e ambiental no Brasil pela construção do complexo siderúrgico da CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico).

Uma das ações movidas pelo Ministério Público do Trabalho contra a empresa está relacionada à contratação irregular de 120 chineses, que foram encontrados por fiscais trabalhando como pedreiros na construção da siderúrgica.

Outras ações cíveis reparatórias estão na Justiça Estadual e exigem indenizações de mais R$ 300 milhões pelos impactos causados nas comunidades locais com cerca de 8.000 pescadores.

ONGs e associações de pescadores da Zona Oeste do Rio reuniram-se em outubro de 2008 na sede do BNDES com o intuito de cancelar o financiamento de R$ 1,48 bilhão destinado ao empreendimento. Porém, na ocasião, o banco afirmou que a suspensão de qualquer crédito só pode ser feita mediante decisão judicial contra a empresa. Movimentos sociais farão hoje manifestação na entrada do canteiro de obras da siderúrgica. (Emerson Coelho)