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Sutil abre temporada na Capital
04/02/2009 | 07:00
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Lotada criativa e afetivamente em Curitiba, a Sutil Cia de Teatro escolheu São Paulo para comemorar seus 15 anos de fundação, com uma mostra com três das três peças mais representativas do seu repertório, no Teatro do Sesi. Em dias alternados, de amanhã a domingo, e numa extensa temporada até o dia 5 de abril, o grupo apresenta Avenida sie, Não Sobre o Amor e a Thom Pain - Lady Grey, ainda inédita no circuito comercial.

 "Curitiba é uma doença sem cura", resume o ator e cofundador da Sutil, Guilherme Weber. "A necessidade de se manter lá é criativa, não logística, porque não temos nenhum apoio que nos prenda à cidade. É a cidade que forneceu nossos signos, nossa primeira depuração de repertório artístico." Weber anota que a companhia sofre com o desterro, por ser de todos os lugares e de lugar nenhum. Mas no caso do trio criativo - além de Weber, o diretor Felipe Hirsch e a atriz Erica Migon -, pode-se dizer que o sofrimento é canalizado para o palco, onde se traduzem percepções da condição humana a partir do exílio, um terreno fértil para certo tipo de criação dramática. "É uma linguagem eterna que sempre nos acompanhará. É como em Não Sobre o Amor, quando o personagem de Viktor Shklovsky fala sobre como o Chagall continuou sempre pintando a cidadezinha de Vitebsk para o mundo, durante toda a vida", reflete Hirsch, carioca que se mudou para Curitiba aos 11 anos.

 "Mesmo sendo o mais cosmopolita possível, ele continuava um homenzinho de aldeia. Tolstoi dizia que a gente se torna universal quando mostra um pouco do nosso quintal. É por isso que Curitiba continua na gente. É onde a gente ainda se reúne para criar, onde construímos nossos espetáculos." Dito isso, nada mais apropriado do que abrir a mostra comemorativa hoje (para convidados) com Avenida sie. Montado pela primeira vez em 2005, o espetáculo cria identificação imediata com o público ao transpor para o palco as esquetes da grafic novel do cartunista americano Will Eisner (1917-2005), a partir dos tipos que frequentam as ruas de Nova York - tão reconhecíveis em qualquer grande cidade.

 "É um espetáculo que se criou a partir do momento em que eu percebi que o Eisner estava falando sobre qualquer lugar, não apenas sobre Nova York", conta o diretor, que se prepara para levar a montagem à Espanha, ainda neste primeiro semestre, e à Alemanha, na segunda metade do ano.

 Avenida sie é um dos dois grandes sucessos de público da Sutil. Ao lado dela, está A Vida é Cheia de Som e Fúria, montada no mesmo Sesi, em 2000, e que projetou a companhia para o País - a peça deveria estar nesta mostra, mas houve uma questão intransponível de direitos autorais. Mas há muito mais do que o palatável no seu currículo de 23 criações.

 Por isso, a programação traz também Não Sobre o Amor (2008), texto de Hirsch sobre Letters Not About Love, do dramaturgo russo Viktor Shklovsky (1893-1984). Radical em conteúdo e formato, a montagem foi apontada como um dos melhores espetáculos do ano passado, ao misturar teatro, cinema, literatura e artes plásticas numa investigação sobre a exaustão das palavras. No palco, Leonardo Medeiros, um dos grandes atores que estão frequentemente no elenco da Sutil, e Arieta Corrêa lidam com o vazio da escrita amorosa em cenário intimista criado por Daniela Thomas.

 Mais radical ainda parece a terceira peça da mostra, Thom Pain - Lady Grey, antes apresentada somente em dois festivais. É formada por dois monólogos escritos pelo dramaturgo nova-iorquino, contemporâneo e badaladíssimo Will Eno, em que as palavras parecem expor demais os atores por não darem conta de traduzir as frustrações, a emoção.

 Sutil Companhia - Abertura com os espetáculos Avenida sie (de quarta a domingo, às 20h) e Não Sobre o Amor (sexta e sábado, às 20h). No Teatro do Sesi São Paulo - Av. Paulista, 1.313. Tel.: 3146-7405. Ingr.: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Grátis às quartas. Recomendação: 14 anos. Temporada até 5 de abril.




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