Do calor de Santos para o rigoroso frio do inverno japonês. Não bastasse fuso horário e adversários complicados, o Peixe sofre para adaptar-se à baixa temperatura do palco do Mundial de Clubes da Fifa. Ontem, o técnico Muricy Ramalho coordenou treinamento noturno com os atletas em horário semelhante ao do jogo de quarta-feira (19h30 horário local, 8h30 de Brasília) - contra o vencedor de Monterrey e Kashiwa Reysol - com termômetros marcando 4ºC e sensação térmica de 2ºC.

Gorros, luvas e cachecóis viraram itens obrigatórios nos vestuários dos atletas, e não apenas fora do campo. Durante o treino, Neymar, por exemplo, só exibia os olhos e o moicano.

"Olha, está bem complicado. Nós, que não estamos acostumados a temperatura tão baixa, sofremos muito. Estou usando camisa térmica por baixo, mas o pior são os extremos, mãos e pés, que ficam muito gelados", afirmou o lateral-direito Danilo, que sofreu ao ficar parado durante entrevista na zona mista.

Alguns atletas, acostumados a temperaturas inclusive piores, se arriscaram a utilizar shorts ao invés de calça, casos do meia Ibson e do atacante Borges. "Já peguei frio bem pior. Em Sendai até nevava", relembrou o artilheiro do Campeonato Brasileiro, referindo-se à época em que defendeu o Vegalta Sendai, em 2006.

O zagueiro e capitão Edu Dracena definiu a importância da atividade nas condições adversas. "Estamos sofrendo agora, mas é importante esse trabalho para que no jogo estejamos habituados."

CURIOSO

O técnico Muricy Ramalho não transparece preferência em enfrentar Monterrey ou Kashiwa Reysol. Na visão do santista, as equipes têm qualidade, apesar de os anfitriões não terem demonstrado todo potencial no triunfo por 2 a 0 contra o Auckland City, confronto acompanhado de perto pelo treinador.

"O time japonês não mostrou tanto a sua força porque encontrou muita facilidade. A equipe da Nova Zelândia é quase amadora. Então, fiquei curioso para ver como eles vão se comportar na próxima partida. Como a dificuldade vai ser maior, eles vão estar melhores", afirmou Muricy Ramalho.

O futebol mexicano o treinador conhece por experiência própria. "Joguei seis anos no México e sei o que o Monterrey representa. É um time grande, acostumado a brigar por títulos. Certamente fará bom jogo contra o Kashiwa. Qualquer um que passar vai ser um adversário duro para o Santos", concluiu.

TERRA DE REIS

O Peixe apresentou aos jornalistas internacionais que fazem a cobertura do Mundial encarte com um pouco da história do clube, dados e informações sobre o time. Na capa, mensagem impactante em letras garrafais com a Vila Belmiro de fundo: Santos Futebol Clube Land of Kings (Terra de Reis, em inglês). Abaixo, as fotos de Falcão (do futsal), Neymar, Pelé, Ganso e Marta.

Neymar espera sofrer menos faltas

Os holofotes e flashes estão nele. Cada passo seu é registrado por câmeras e jornalistas. E tanto assédio extracampo deve se repetir dentro das quatro linhas, afinal todos os possíveis adversários santistas sabem da qualidade de Neymar, principal esperança do time. Por outro lado, o próprio atacante admite: não deve sofrer tantas faltas.

"Se os nossos adversários me derem um pouco de espaço será bom porque eu estou sempre recebendo faltas.Mas este é o Mundial de Clubes. Há muitos times bons aqui e sabemos que os jogos serão difíceis", afirmou a joia santista.

A atenção com a qual Neymar é recebido por onde vai surpreendeu o jogador. "Ser reconhecido do outro lado do mundo me deixa muito feliz. Agradeço a todos pelo carinho, a todos os japoneses. Fui recebido muito bem aqui", exaltou o camisa sete, que sentiu a prova do sucesso na pele: ao deixar o hotel onde o Peixe está hospedado para ir a um shopping de Nagoya, foi rapidamente cercado por fãs em busca de fotos, autógrafos ou pelo menos um contato com o astro, e precisou voltar.

Disfarçado com um chapéu e acompanhado por dois seguranças, conseguiu sair, mas teve marcação cerrada durante todo o passeio. Dentro do centro de compras, até os funcionários das lojas tietavam o popstar.

ELANO

Quando se lembra da Copa América de 2011 e da eliminação brasileira contra o Paraguai a primeira coisa que se vem à mente é o pênalti bizarramente batido por Elano. Talvez por ter sido o primeiro da série, os erros de Thiago Silva, André Santos e Fred ficaram em segundo plano. No retorno ao Peixe, desperdiçou nova penalidade no jogaço vencido pelo Flamengo por 5 a 4 em plena Vila Belmiro.

Além disso, sofreu duas lesões musculares, terminou o namoro com a atriz Nivea Stelmann, o pai sofreu tentativa de sequestro e, com toda essa situação, passou a ser criticado pela própria torcida santista. Assim, o Mundial é visto como a redenção para Elano.

"Estou encarando a competição como o desafio mais importante da minha vida", declarou o meia por mais de uma vez desde que chegou ao Japão. "Eu posso dizer que os meus quatro primeiros meses foram brilhantes, mas depois aconteceu uma série de fatos negativos. Nada melhor do que disputar um grande Mundial para terminar por cima e é apenas nisso que eu penso de três meses para cá", emendou

DIS compra mais 10% de Ganso por R$ 5 milhões

Enquanto todo o foco santista está no Japão e na disputa do Mundial de Clubes, nos bastidores as ações estão em alta. E o mais recente movimento foi feito pela DIS - ligada ao Grupo Sonda - que comprou mais 10% dos direitos econômicos de Paulo Henrique Ganso e agora tem 55% contra 45% do Santos. A parte adquirida por R$ 5 milhões pertencia ao jogador e não interessou ao presidente Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro nem aos integrantes da Teisa, a empresa de investimento formada por empresários santistas.

Por contrato, o Santos teve um mês a partir do momento em que foi comunicado da intenção da DIS para decidir se pagava os R$ 5 milhões para Ganso. O prazo venceu no dia da reeleição de Luis Álvaro, a 48 horas do embarque para o Mundial de Clubes da Fifa, e a resposta foi "não".

Com toda essa situação, justifica-se o fato de Paulo Henrique Ganso ter sido o único jogador blindado pela assessoria do clube a dar entrevistas desde que chegou ao solo japonês.