O frio e a garoa fina que caiu durante a manhã de ontem no Jardim Santo André, em Santo André, espantaram curiosos que pretendiam assistir, ainda que de longe, a reconstituição do mais longo caso de cárcere privado do País, no qual morreu a estudante Eloa Cristina da Silva. Com isso, a expectativa de comerciantes e ambulantes em aumentar o faturamento foi por água abaixo.

Por volta das 9h30, a dona-de-casa Maria das Graças Almeida, 45 anos, andava de um lado para o outro com uma caixa térmica nos braços tentando vender salgados. "Fiz coxinha e bolinho de carne. Até agora não vendi nada", disse.

O dono da Padaria Gravatá, Augusto Nunes, 39, que fica bem em frente ao bloco 24 da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), local do crime, também estava decepcionado. "Para mim, as vendas estão péssimas. Costumo vender cerca de 2.000 pães por dia. Até agora, não vendi metade."

A comerciante Creusa Gonçalves dos Santos, 72, improvisou uma pequena lanchonete em sua papelaria. Fez coxinha e cachorro-quente para aumentar o faturamento, mas não estava muito animada com o movimento. "A chuva atrapalhou. Não vendi quase nada", disse.

ALUGUEL
Mesmo com poucos curiosos, a rotina dos moradores da CDHU, principalmente dos prédios ao redor do bloco 24, foi alterada. Foram eles quem mais lucraram com a reconstituição do crime. Especula-se que equipes de reportagem alugaram as residências por preços que variaram de R$ 500 a R$ 2.000. Sem se identificar e revelar o valor cobrado, um morador disse que os repórteres dormiram em sua casa. "Fiz café e ofereci bolachas. Foi a maneira que encontrei de ganhar dinheiro."

As aulas da EE Professor Engenheiro Celso Augusto Daniel, a poucos metros do local da reconstituição, não foram suspensas. No entanto, grande parte dos alunos ficou nas janelas observando a movimentação de policiais.