Literalmente sobre andaimes, dois atores, na pele de limpadores de vidros, filosofam. No espetáculo Andaime, banalidades transformam-se num registro sobre a desigualdade social, criado por quem vê a realidade ‘dos que deram certo' de perto, mas do lado de fora. Pela segunda vez na cidade, a montagem estrelada por Cláudio Fontana e Elias Andreato é encenada neste sábado e domingo, no Teatro Municipal de Santo André.

Na trama de Sérgio Roveri, vencedor do Prêmio Funarte em 2005, dois limpadores de janelas falam da família, da passagem do tempo, do medo que sentem de algum dia serem substituídos por robôs, questionam sobre como é a vida no Japão e nos Estados Unidos, tudo isso enquanto trabalham do lado de fora de um edifício empresarial.

"O Sérgio criou o texto com muita simplicidade. Ele estava andando um dia na Avenida Paulista, viu alguns desses trabalhadores e questionou qual era a relação deles com quem está dentro dos prédios", explica Cláudio Fontana. "A grande discussão é a sensação de invisibilidade de profissões como essa".

Durante a produção do espetáculo, as impressões do autor foram confirmadas. "Nós entrevistamos vários limpadores para compor os personagens. E isso acontece mesmo: quem está do lado de dentro dos edifícios, sequer olha para eles. É como se não estivessem ali", conta o ator. "Eles reclamam, mas assumem que gostam daquilo que fazem. Dizem que preferem trabalhar com o vento no rosto do que ficar trancado dentro de um escritório."

Labirintite - Durante toda a peça, os atores permanecem sobre um andaime com dois metros de altura, montado no centro do palco. Segundo Cláudio, o mais difícil é acostumar ficar tanto tempo longe do chão. Ele demorou mais de 15 dias para deixar de sentir sintomas de labirintite. "No começo, era deitar para dormir e o quarto todo rodava."

Em cartaz desde janeiro de 2007, Andaime já teve uma troca no elenco: Cássio Scapin. Elias apenas dirigia. "O Cássio deixou a gente no começo deste ano porque estava gravando a novela da Record (Os Mutantes) e porque estava envolvido com o projeto da (peça teatral) Irma Vap", relembra o ator.

Com isso, Elias Andreato, que ainda continua assinando a direção, assumiu o posto. "É sempre bom quando o diretor entra no espetáculo porque ele vê como o ator sofre", brinca Cláudio Fontana. "Uma das reclamações que a gente fazia, era justamente sobre a labirintite e o Elias achava que era besteira. Quando retomamos a temporada, ele que veio até mim reclamar".

Andaime - Teatro. No Teatro Municipal de Santo André - pça. IV Centenário. Tel.: 4433-0789. Ingr.: R$ 25 (meia-entrada) e R$ 50. Hoje, às 21h; amanhã, às 19h.