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Liv Ullmann relembra Bergman
10/10/2008 | 07:25
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A passagem do tempo está presente em algumas linhas de seu rosto, mas, prestes a completar 70 anos em dezembro, Liv Ullmann continua uma mulher deslumbrante. A atriz e diretora chegou na manhã de anteontem a São Paulo, com a missão de, durante cinco dias, prestigiar uma pequena retrospectiva em sua homenagem que ocorre na Cinemateca. "Vim disposta a conhecer melhor essa cidade que me encantou nas outras breves passagens", disse Liv.

Descoberta aos 19 anos, quando sua beleza juvenil estonteava, ela se tornou mundialmente famosa pelos filmes em que foi dirigida pelo sueco Ingmar Bergman. A convivência deixou marcas profundas em suas vidas, além de uma filha, Linn. "É claro que Ingmar foi decisivo em minha carreira, como atriz e também como diretora", conta. "Alguns ensinamentos são úteis até hoje. Ele escutava os atores, reagia aos seus gestos e isso transmitia uma enorme confiança."

A certeza do benefício dessa proximidade veio quando filmaram Saraband (2003), o último longa de Bergman. "Foi utilizada uma tecnologia digital, da qual ele e tampouco eu tínhamos conhecimento. Assim, Ingmar não pôde ficar no lugar de sempre pois a câmera estava rodeada de outras câmeras menores - ele não teve escolha senão ficar ao fundo, acompanhando a cena por monitores."

A atriz lembra-se da angustiante sensação de solidão que sentiu, interpretando sem seu principal interlocutor. Mas a química entre eles se estabeleceu, de uma certa forma. "Tão logo ele disse ‘gravando', percebi que estávamos conectados, como se falássemos por sinais de fumaça", conta. "Depois de ter rodado a cena, comentei com ele sobre misterioso laço que nos unia e Ingmar, curiosamente, disse ter sentido algo semelhante."

Saraband foi o último filme dirigido por Bergman, que morreu em julho do ano passado. E o derradeiro dia de trabalho ainda está vivo na memória da atriz. Ela conta que as cenas finais foram dois monólogos, rodados em Estocolmo. "Como já se sabia que ele não mais dirigiria, foi preparada uma grande festa em sua homenagem. Mas, tão logo encerramos o trabalho, Ingmar dirigiu-se à porta, virou-se e disse adeus a todos. Em seguida, embarcou em um avião para sua casa, na ilha de Faro, deixando aquela imagem como a última. Eu ainda voltei a vê-lo pouco antes de sua morte."

A relação entre eles, no entanto, nem sempre foi amistosa. Ainda em Saraband, Liv conta que se irritou quando Bergman insistiu em rodar uma cena em que ela e o ator Erland Josephson estariam nus. "Eu sabia qual era intenção dele (mostrar que eu envelhecera), mas não aceitei. Tivemos uma grande discussão até que ele começou a atirar objetos em mim, latas, manuscritos."

Surpresa com a reação e ciente de que não seria alcançada em uma corrida, Liv desandou a correr, com Bergman no seu encalço. Percorrem várias salas do estúdio, para surpresa de técnicos e atores até se refugiarem na sala dos figurinistas.

"Ingmar mandou que todos saíssem e, tão logo estávamos sozinhos, desatamos a rir. Foi muito divertido. No dia seguinte, nossa falsa briga estampou todos os jornais suecos."




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