Economia Titulo Trabalho
Mulheres conquistam
novos segmentos

Até em áreas em que ainda predominam homens crescem
os exemplos das profissionais que conquistam um espaço

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
03/03/2013 | 07:07
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As mulheres seguem superando preconceitos no mercado de trabalho e mostrando a cada dia que, independentemente de gênero, a competência é o que importa. Até em áreas em que ainda predominam homens, como na construção civil, na indústria automotiva e no setor de petróleo, crescem os exemplos das profissionais que conquistam espaço e mostram que podem fazer a diferença. Keila Cristina Lacerda Ribeiro, 31 anos, é um exemplo. Ela é a primeira e por enquanto a única na Recap (Refinaria de Capuava), em Mauá, que atua na área de refino como paineleira, ou seja, a profissional responsável pela operação do painel da Casa de Controle.  Depois de ingressar na companhia em 2008, por meio de concurso, e iniciar suas atividades como operadora júnior, ela já está há dois anos em sua função atual, com a responsabilidade de garantir o funcionamento seguro e eficiente dos equipamentos, por meio dos controles virtuais, nas telas dos computadores. Além de verificar o painel, ela também dá coordenadas para o pessoal em campo, que vai lidar diretamente com bombas e válvulas. Com curso técnico em química e formada em Biomedicina, Keila se surpreendeu quando foi chamada para atuar no refino, junto com equipe de nove homens. "Mas gosto do dinamismo e dessa área físico-química. E me tratam com muito carinho e respeito", afirma. Ela revela ainda o ‘instinto materno', ao falar de sua atenção com os detalhes, em uma área em que há altos riscos se algo sair errado. "É um cuidado de mãe, para ver se todos vão ficar bem", afirma. Outra profissional que atua em área de maioria masculina é a engenheira civil Natália Costa Arneiro, 23 anos. Ela não sente problemas em gerenciar construções, supervisionando cerca de 50 homens por obra. Atualmente tem duas construções sob sua responsabilidade. "Se existe preconceito, não acontece comigo. Acho que o importante é entrar para somar e não para concorrer com eles; sempre procuro fazer amizades, com respeito", diz.  Natália conta que sempre gostou da área de Exatas no ensino médio e acabou optando por engenharia na hora de prestar o vestibular, "por eliminação", mas se apaixonou por sua escolha. Há quatro anos, ingressou como estagiária na M.Bigucci, e, depois de dois anos e meio, foi efetivada. CARREIRA A escolha da profissão, para Claudia Luchesi Reichel, 40 anos, veio cedo. Ela conta que, desde criança, via seu pai, que gostava de ‘mexer' no carro, e também se interessou por isso. "Ele me ensinou a dirigir e me fez tirar o estepe e trocar o pneu várias vezes", afirma. Formada em engenharia mecânica, Claudia está há 18 anos na Ford. Atualmente é gerente de marketing avançado de produtos, responsável pelo planejamento de carros que chegarão ao mercado só nos próximos anos.  Em sua trajetória, comandou muitos homens. "Comecei na manufatura e fui para a engenharia, que é uma área mais técnica, mais masculina; e cheguei a liderar equipe de 50 pessoas", cita. Trabalhou por três anos nos Estados Unidos e depois participou do grupo que desenvolveu o EcoSport e que montou a área de engenharia em Camaçari (BA). Sentiu preconceito? "Contratei muitas pessoas na Bahia. No começo, havia desconfiança, mas foi por pouco tempo. Ao provar que tinha qualificação, ficava fácil", diz. 
Scania tem primeira funcionária na pintura
Ana Paula Vogler, 27 anos, é pioneira na Scania, de São Bernardo: é a primeira mulher na área de pintura de cabines da fabricante.  Há quase três anos na empresa, ela passou, antes disso, por curso técnico de automobilística no Senai e foi contratada pela montadora inicialmente para a inspeção da qualidade.  Ana Paula relata que, desde o período do curso, havia muito mais homens do que mulheres. "Nas aulas só havia eu e outra moça, que era proprietária de uma oficina", diz.  O interesse pela profissão já vem de alguns anos. Antes de ingressar na montadora, trabalhou em oficina mecânica, no atendimento técnico. A escolha pelo segmento, dessa forma, se deu naturalmente.  Na área da pintura da fabricante, ela passou inicialmente, como é de praxe, por um processo de apadrinhamento - que é a fase em que um funcionário mais experiente a orienta -, para fazer a aplicação da tinta, com segurança e qualidade. Para se aprimorar e subir na carreira, começou neste ano a fazer engenharia química. Ela diz que não tem sentido preconceito em sua profissão. "A Scania apoia a diversidade; sinto, pelo contrário, muita colaboração e respeito", afirma.
Trabalhadoras representam 45% dos ocupados
É cada vez mais comum no mercado profissional haver engenheiras, mecânicas, policiais, por exemplo, o que é bem diferente da realidade de algumas décadas atrás. De modo geral, a mulher, além de conquistar novas áreas, também tem ampliado sua participação no mundo do trabalho. Segundo dados da pesquisa do Seade/Dieese, no Grande ABC, as mulheres somam 45,2% do total de pessoas ocupadas. Em 1999, eram bem menos, 41%. Isso significa que não existe mais preconceito de gênero? Para a consultora de Recursos Humanos Cíntia Bortotto, infelizmente, não é possível dizer isso. Ela cita que em cargos executivos ainda há muito mais homens e, além disso, em muitas companhias, quando a mulher está numa mesma posição e função, ainda tende a ganhar salários menores em relação aos homens. De acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios) 2011, elas ainda recebem, em média, 70% do rendimento de trabalho deles. Isso embora tenham mais tempo de estudo: 7,4 anos, frente a 7 dos homens, conforme levantamento do instituto Ethos. Outra vantagem: apenas 13% do total do quadro de executivos são do sexo feminino. "Ainda há muito espaço para se conquistar", afirma a consultora. No entanto, Cíntia assinala que as empresas só têm a ganhar valorizando a diversidade de gênero ou raça. "Quanto mais há grupos diversos, há mais formas de pensar diferente e há mais ganhos; mesmo que seja difícil gerenciar, a solução vem mais robusta", avalia. Além disso, a competência da liderança existe tanto em homens quanto em mulheres, observa a consultora.




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