Economia Titulo Brasil
Sadia perde R$ 760 milhões

A crise financeira norte-americana começou a mostrar as garras para as empresas brasileiras

Bárbara Ladeia
Do Diário do Grande ABC
27/09/2008 | 08:57
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A crise financeira norte-americana começou a mostrar as garras para as empresas brasileiras. A queda razoável de 2,02% registrada na Bolsa de Valores de São Paulo é mínima ao lado das perdas registradas por algumas das maiores companhias do País.

As maiores perdas foram da Sadia, maior exportadora de alimentos brasileira, cujas ações derreteram 34,19%, A empresa, além de possuir investimentos no Lehman Brothers, banco norte-americano que pediu concordata em 11 de setembro, estava envolvida em operações de hedge sem a segurança necessária.

O especialista Wagner Caetano, de Diadema, afirma que uma operação de hedge envolve muitos riscos. "É preciso não só ter conhecimento, como muito talento para realizar esse tipo de operação. Se o volume financeiro envolvido na negociação for maior que o necessário, os prejuízos podem ser imensos", afirma.

Em comunicado oficial, a Sadia afirmou que, de fato, errou na dose e, para evitar maiores perdas, preferiu se desfazer de suas posições no mercado. As perdas totalizaram R$ 760 milhões e já estão equilibradas por meio de um financiamento de R$ 1,5 bilhão concedido à empresa alimentícia.

Aracruz - Do mesmo mal sofreu a Aracruz Celulose, que despencou 15,57% no pregão de ontem. Junto consigo levou sua controladora, a Votorantim Celulose e Papel, que acumulou perdas de 8,88% no dia.

Apesar de terem detectado a vulnerabilidade financeira, as perdas ainda não foram estimadas. O mercado especula prejuízos da ordem de R$ 60 milhões para a Aracruz.

Wagner Caetano, proprietário da Top Traders, escola de assuntos do mercado financeiro situada em Diadema, afirma que essa é uma operação comum a empresas que trabalham com exportação. "As vendas são feitas em dólar, se a moeda se desvalorizar no futuro, o resultado da empresa será inferior ao estimado", comenta.

Essa característica comum levou o investidor do mercado brasileiro a se desfazer das ações de boa parte das exportadoras nacionais. Embraer e Perdigão, por exemplo, amargaram baixa de 7,70% e 5,74% respectivamente. "Os investidores temem pela mesma operação", aponta Caetano.

Vale - A Vale também teve problemas com suas exportações, ainda que não fossem associados ao hedging. Depois de longo período em debate com os chineses, em torno de um reajuste de 11% a 13% no valor da matéria-prima que exportam, especulações apontaram a possibilidade de interrupção do fornecimento de minério ao país oriental. No entanto, Roger Agnelli, presidente da empresa, nega a informação afirmando que não passa de um "oba-oba". (Com agências)

Entenda como funcionam as operações de ‘hedge'

Exportadoras nacionais recebem o pagamento de seus produtos em dólar e, mais tarde, convertem os recursos adquiridos para Real. Na expectativa de queda no valor da moeda norte-americana frente à brasileira, a companhia parte para a venda de derivativos cambiais, que são opções de venda com valor atual, porém com vencimentos futuros. Essa operação de proteção, chamada hedge, é uma forma de compensar possíveis perdas com uma variação cambial.

No entanto, a expectativa não se cumpriu e, com a crise vinda dos Estados Unidos, a fuga de capital estrangeiro da bolsa diminuiu a oferta de dólares no mercado, impulsionando seu valor. Com isso, empresas que investiram nesse tipo de operação tiveram perdas, uma vez que são obrigadas a honrar vendas em um valor inferior ao do mercado.




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