A madrasta da menina Isabella, Anna Carolina Jatobá, 24 anos, revelou nesta quarta-feira, durante depoimento ao juiz Maurício Fossen que durou cerca de três horas e meia, no Fórum de Santana, que foi pressionada pela delegada do 9º DP (Carandiru), Renata Helena Pontes, a acusar Alexandre Nardoni, 29, pela morte de Isabella. Ela afirmou que foi coagida a confessar que estaria protegendo Alexandre, seu marido, "por amor".

Segundo a madrasta de Isabella, na madrugada do crime, Renata teria dito a ela: "Eu vou colocar você em uma (prisão) temporária. Você não tem faculdade, mas Alexandre tem. Você não tem noção do que é cair numa prisão". A delegada estaria se referindo à prisão especial a que Alexandre teria direito por ter curso superior (é formado em Direito) e Anna não.

Ainda na madrugada da morte de Isabella, Anna Carolina contou ter sido levada por investigadores do 9ºDP para fazer uma reconstituição do crime. Ao chegar ao local do crime, a madrasta disse ter encontrado dez policiais tomando café e comendo chocolate na mesa de sua sala. Eles também a teriam pressionado a incriminar Alexandre.

Anna Carolina afirmou ainda que Alexandre, ao ver a menina caída no pátio do prédio, "perdeu a cor" e gritou: "Isabella está lá embaixo". Quando foi inquirida pelos advogados de defesa, Anna Carolina reafirmou a insegurança do prédio em que morava e afirmou que, no dia do crime, Alexandre Nardoni tentou socorrer a filha e pegá-la no colo, mas foi impedido pelos vizinhos. Depois do depoimento, a madrasta retornou à carceragem do Fórum.

Ciúmes - Jatobá também confessou que sentia muito ciúme da mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira, 25. Segundo ela, o ciúme seria motivado pelo fato de ambas possuírem o mesmo nome e serem parecidas.

"Sempre perguntava para o Alexandre: 'Você ainda gosta dela?' Ele respondia que não", afirmou. A madrasta de Isabella disse, porém, que os ciúmes só diminuíram quando nasceu Pietro, primogênito dela e de Nardoni.

Personalidade forte - Anna Carolina definiu-se hoje como alguém "de personalidade forte, meio geniosa". Ela afirmou que, no início do ano, sentia-se muito esgotada e estressada com os cuidados que os filhos exigiam e, por isso, procurou um médico, que lhe recomendou o calmante Lexapro, que ela achou muito caro (R$ 90) e o substituiu por outro remédio que custava R$ 3.

Fórum - Acompanham o interrogatório o promotor Francisco Cembranelli e a assistente de acusação Cristina Christo Leite, advogada contratada pela mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira. A defesa do casal está representada pelos três advogados que atuam no caso - Marco Polo Levorin, Rogério Neres e Ricardo Martins. Participam também dois advogados da Comissão de Prerrogativas da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil).

Os pais de Alexandre e Anna Carolina, Antonio Nardoni e Alexandre Jatobá, também estão no Fórum, mas não tiveram autorização do juiz Fossen para acompanhar o interrogatório. Antonio Nardoni disse, ao chegar, que seu filho está abalado e com saudades da família, mas estará bem durante o interrogatório. "Ele manterá o que disse até agora. Vai continuar falando a realidade. A verdade é uma só, não tem como mudá-la", afirmou.

Segurança - Foi montado um forte esquema de segurança nos arredores do fórum, com cerca de 50 Policiais Militares. A avenida Engenheiro Caetano Alves, em frente ao fórum, teve uma das três pistas interditadas para facilitar a atuação da imprensa.

Foi feita ainda uma interdição nas imediações do fórum para impedir o acesso da população, que deve ficar a um quarteirão de distância.