Política Titulo Entrevista
'Vazar dossiê foi ato de legítima defesa', diz ex-ministro
Sérgio Vieira
Do Diário do Grande ABC
19/05/2008 | 07:53
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Ex-ministro da Educação do governo Fernando Henrique Cardoso, o deputado federal Paulo Renato de Souza (PSDB-SP) acredita que o fato de o dossiê sobre os gastos da gestão anterior - montado por um funcionário do Ministério da Casa Civil - ter vazado por meio de um assessor do senador tucano Álvaro Dias pode ser encarado como um contra-ataque aos petistas. "Vazar foi um ato de legítima defesa. Queremos dizer: ‘estão nos matando e usando o poder do Estado'."

Para o tucano, a criação do dossiê foi um ato para "chantagear a oposição". Sobre o envolvimento de seu nome na CPI dos Cartões, ele falou: "Vários deputados me disseram ‘se cuida que seu nome está lá'. Disse que não tinha nenhum problema e abri todos os dados do período em que estive no Ministério da Educação. Sei que não fiz nada errado".

Paulo Renato também disse que a candidatura do tucano Geraldo Alckmin para a Prefeitura de São Paulo enfraquece o partido para a disputa ao governo do Estado, em 2010. "O PSDB não tem um nome óbvio para a eleição. Pessoalmente, acho que o partido deveria tê-lo guardado para a disputa. Deveríamos ter pensado mais estrategicamente. Mas isso é uma discussão vencida."

DIÁRIO - Como encarou a denúncia de que o sr. tinha usado recursos públicos para gastos com supermercados e hospedagens para sua mulher?
PAULO RENATO DE SOUZA - A imprensa decidiu apurar casos de mau uso dos cartões corporativos. Qual foi a posição do governo? Em vez de explicar, determinou a construção de um dossiê contra o governo anterior para chantagear a oposição. E nesse processo incluíram meu nome. Vários deputados da base governista me disseram: ‘Se cuida que seu nome está lá'. Disse que não tinha nenhum problema e abri todos os dados do período em que estive no Ministério da Educação. Sei que não fiz nada errado. Além disso, nunca tive cartão corporativo. Sobre a hospedagem, estava com minha mulher, que é funcionária da Vale do Rio Doce. Qual é o problema? Ela estava comigo e não teve gasto extra ao governo.

DIÁRIO - Mas não foi um erro o fato de o assessor do senador Álvaro Dias ter vazado o dossiê com esses dados?
PAULO RENATO - Vazar foi um ato de legítima defesa. Você está sendo atacado. Queremos dizer: ‘Estão nos matando e usando o poder do Estado'. A divulgação acho legítima.

DIÁRIO - O envolvimento, então, de um político do PSDB neste episódio não fez com que a oposição pisasse no freio na CPI dos Cartões?
PAULO RENATO - Não tenho conhecimento de nenhum acordão. Mas há um certo cansaço em relação às CPIs. E este tipo de investigação ou você descobre algo realmente grande ou fica uma discussão um pouco menor, sobre um gasto aqui, outro ali. Não se descobriu nada até agora. É preciso ouvir o ex-funcionário (José Aparecido Nunes) da Casa Civil, que passou o dossiê.

DIÁRIO - Como o sr. avalia a decisão do ex-governador Geraldo Alckmin de sair a prefeito de São Paulo?
PAULO RENATO - Ele tem o direito de ser candidato e é um dos melhores quadros do partido. Para nós é um luxo tê-lo como candidato, com o currículo que ele tem. Mas o partido deveria tê-lo guardado para a disputa ao governo do Estado, em 2010. O PSDB não tem um nome óbvio para o governo, a não ser o Geraldo. Mas isso é discussão vencida. O partido quer que ele seja e ele quer ser candidato. Mas deveríamos ter pensado estrategicamente.

DIÁRIO - Mesmo que ele seja eleito prefeito, o sr. acha que ele poderia seguir o caminho de Serra, em 2006, que deixou a Prefeitura para disputar o governo do Estado?
PAULO RENATO - As circunstâncias partidárias eram diferentes e isso não se repete. Certamente há algum desgaste de você se eleger prefeito e um ano e meio depois ir para outra eleição. O partido errará se repetir o gesto.

DIÁRIO - Essa decisão não inviabiliza a continuidade da aliança com o DEM?
PAULO RENATO - Não. Essa aliança em plano federal está se consolidando cada vez mais. A atuação na Câmara é muito coordenada. Junto com o PPS, somos (PSDB e DEM) os três partidos de oposição. Disputar eleições não atrapalha essa aliança.

DIÁRIO - Mas tucanos ficaram incomodados com a pergunta do senador José Agripino Maia (DEM-RN) à ministra Dilma Rousseff sobre o período da ditadura. Para o sr. foi uma declaração infeliz?
PAULO RENATO - Muito infeliz. O Agripino comparou situações absolutamente incomparáveis. As circunstâncias eram diferentes e ele deixou de reconhecer o fato de termos tido regime militar e as pessoas, para sobreviver, tinham de mentir.

DIÁRIO - O sr. não acha que a oposição hoje é um pouco mais suave do que era o PT na época do Fernando Henrique Cardoso?
PAULO RENATO - É mais responsável. O PT é um partido que joga muito para a torcida e desenvolveu muito a questão do marketing. O PSDB é mais responsável e faz sua ação política a partir de um projeto. O governo do PT age muito sob pressão, sem ter uma linha estratégica. Nossa linha é mais coerente e muitas vezes somos obrigados a acompanhar medidas do governo, o que eles nunca fizeram conosco.

DIÁRIO - A oposição conseguiu uma vitória contra o governo, a rejeição da CPMF. O partido errou em rejeitar o imposto?
PAULO RENATO - Foi um grande acerto. Neste ano, sem a CPMF, o governo já arrecadou mais no primeiro trimestre do que o mesmo período no ano passado, quando o imposto estava em vigor. O que demonstra que ela não era necessária. Há recursos para Saúde. É só uma questão de conseguir racionar os gastos. A história demonstrou que estávamos certos.

DIÁRIO - O presidente Lula disse que poderá disputar a Presidência novamente se tiver um ‘inimigo' no poder. O sr. acredita nisso?
PAULO RENATO - Se o Lula puder ser candidato em 2010 ou 2014, será. Ele demonstra um apego ao poder muito grande. Acredito que vá ser candidato, mesmo que faça o sucessor. Encontrará um jeito de voltar.

DIÁRIO - Quais as chances reais de o PSDB conquistar prefeituras na região?
PAULO RENATO - Temos perspectivas, especialmente, em São Bernardo, com Orlando Morando; em Diadema, com o José Augusto; e em Rio Grande da Serra, com a reeleição do Kiko. O Newton Brandão, em Santo André, é forte, apesar das dificuldades na cidade, já que o PT é muito forte. A política do Grande ABC sempre foi multipartidária. Sempre fizemos parte dessas frentes. Temos atuais prefeitos que são ex-tucanos, como o Clóvis Volpi (PV), em Ribeirão Pires, e o Leonel Damo (PV), em Mauá, além do José Auricchio Júnior (PTB), que é muito próximo ao PSDB.




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