Economia Titulo Dinheiro
Comércio implementa
inflação da moedinha

A cada 200 em compras deixando R$ 0,05 para comerciante,
são R$ 10 a menos, que pesam mais no bolso do consumidor

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
28/10/2011 | 07:22
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A falta de moedas para o troco nos estabelecimentos da região é comum. Mas nem sempre isso é problema para os consumidores, que aceitam balas e doces em vez de dinheiro. O troco é direito do consumidor. E o empresário é obrigado a garanti-lo, e não forçar a compensação com doces. Ainda mais porque as agências bancárias são pontos de troca de notas por moedas, informa o Banco Central. "É possível que alguns locais tenham balas para dar como troco, e acabam tendo lucro com isso", opinou o professor de Finanças José Ricardo Escolá de Araújo, do MBA da Universidade Municipal de São Caetano.

A questão é que algumas empresas não querem perder. A cada 200 compras deixando R$ 0,05 para o comerciante, são R$ 10 a menos, que pesam mais no bolso do consumidor do que negativo nas empresas. "Eu sempre peço o troco. Quando eles não têm a moeda de R$ 0,05, peço para descontar o valor do preço (e retornar R$ 0,10). Mas após esse pedido sempre surge, como mágica, uma moeda", contou a estudante de Diadema Mariana Mesquita. "Eles nunca têm moeda. Sempre acontece isso, ainda mais quando você vai comprar pão", criticou a técnica de enfermagem de Diadema Nair Peres.

Em algumas situações o consumidor sofre o constrangimento de ter que trocar as próprias notas. "Quando você vai pagar com nota de R$ 50, alguns comércios não aceitam e você tem que ir trocar", disse o autônomo de Diadema Cláudio Jomar Kuzolitz.

Por outro lado, há consumidores que preferem evitar o próprio estresse. "No ônibus, só algumas vezes eles alegam que não têm troco, mas não vai mudar minha vida", afirmou o aposentado são-bernardense José Romão de Oliveira Romano. O conferente Cláudio José do Nascimento, da mesma cidade, prefere aceitar a bala. "Mas nunca calculei quanto perco com isso."

 

Entidades desconhecem, mas dinheiro some no 5º dia útil

As associações comerciais da região não registraram reclamações sobre falta de moedas nos últimos meses. Mas isso acontece, afirmou a proprietária de comércio de materiais de limpeza em São Bernardo Soraia Sakhr, principalmente no início do mês. "As moedas de R$ 1 e notas de R$ 2 somem nos períodos próximos ao pagamento (5º dia útil do mês)."

Ela não sabe explicar o fenômeno, mas lembrou que os consumidores só aparecem com notas de R$ 20 e R$ 50 para fazer pequenas compras.

A solução da empresária é trocar as notas nas agências bancárias. "A última vez eu pedi, no banco, que queria trocar notas por moedas. Me pediram para voltar após meia hora. Voltei, não tive que pegar fila, e trocaram o dinheiro", contou Soraia.

O comerciante Ismat Mohamad tem loja em Diadema. Ele cobrava R$ 1,99 por vários produtos, mas elevou o preço para R$ 2 pela falta de moeda de R$ 0,01 no mercado. Para se precaver, mantém cerca de R$ 30 em moedas de R$ 0,05. "E os amigos sempre vêm pedir para eu trocar. Quando preciso, vou atrás dos outros comércios. Nunca vou ao banco."

Existe uma agência do Banco do Brasil, na Rua São Bento, 483, centro, em São Paulo, com pronto atendimento para fornecer troco. Porém, os comerciantes não tinham conhecimento dessa alternativa.

 

Brasileiro tem cultura da poupança

O professor de Finanças José Ricardo Escolá de Araújo explicou que o brasileiro tem a cultura de guardar moedas em casa. E esse fenômeno cultural pode atrapalhar na Economia, criando escassez no mercado.

O especialista destacou que em períodos próximos ao pagamento, as moedas do brasileiro são poupadas. "Como os pais têm notas, eles esvaziam os bolsos para encher os cofrinhos dos seus filhos", disse Araújo.

A cada dez moedas que o brasileiro tinha em 2010, 2,7 eram guardadas em casa ou no trabalho, contra 2,5 em 2007, revelou o BC. E, no ano passado, 38% das pessoas afirmavam manter as moedas paradas por mais de um mês.




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