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A falta que faz um aeroporto de verdade
Wilson Marini
Da APJ
18/08/2014 | 07:00
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Santos não tem aeroporto e nunca terá. Não há espaço territorial. A cidade inchou até ocupar todas as áreas e agora não há lugar para construir um empreendimento desse porte. Isso contrasta com as necessidades cada vez maiores da Baixada Santista, que tem status de região metropolitana e compreende também os municípios de São Vicente, Bertioga, Cubatão, Praia Grande, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá e Peruíbe. Dois terços da área continental de Santos são protegidos ambientalmente devido aos limites da Serra do Mar e a Mata Atlântica nativa nas escarpas. Não há brecha para crescer horizontalmente. Só é possível crescer com prédios verticais. Um exemplo bem-sucedido é o cemitério vertical, o maior do mundo, segundo o Guiness Book, e que não para de esticar para o alto. Quando pronto, o novo prédio terá 108 metros de altura, equivalente a um edifício de 40 andares. Desse jeito, a cidade não corre o risco de se transformar em uma cidade horizontal sem freios, devendo se estabilizar no patamar atual de menos de 500 mil habitantes. Mas sem aeroporto para chamar de meu.

Falta a concessão
Em 2012 foi feito o anúncio público da construção de um terminal anexo à base aérea. A projeção é para um aeroporto que possa atender 750 mil passageiros por ano de empresas aéreas de médio porte e aviação executiva. Dos mais de 2 milhões de metros quadrados da instalação militar, o aeroporto civil usará cerca de 200 mil metros quadrados. Estacionamento para 300 vagas. As obras ficariam prontas antes da Copa do Mundo de 2014, mas foram adiadas, como outras. O projeto do chamado Aeroporto Civil de Guarujá ainda depende de concessão pela Secretaria de Aviação Civil.

Problema escancarado
A tragédia em Santos que vitimou Eduardo Campos e outras seis pessoas escancarou aos brasileiros o problema da falta de aeroporto na Baixada Santista, um desafio permanente para empresários, turistas, políticos e todos os perfis de passageiros, inclusive os que embarcam em cruzeiros. Durante muito tempo, a construção de um aeroporto na região não foi considerada prioritária devido à distância relativamente curta com a Capital, menos de 60 quilômetros. No entanto, após o baque de quarta-feira, a questão poderá ganhar outros contornos entre lideranças regionais e autoridades estaduais.

Faltam instrumentos
Na Base Aérea de Santos pousa uma aeronave civil a cada três dias em média, um sossego nos céus. Não há voos comerciais de carreira. A pista tem 1.390 metros de comprimento e os equipamentos para comunicação com os pilotos são antigos, do tempo do radioamador. Um dia após a fatalidade, o piloto Paulo Rogério Ortega afirmou ao jornal A Tribuna que a aproximação por instrumentos (manobras para pouso às cegas, apenas por sinal de rádio) não é tão simples em Guarujá, especialmente com chuva. “Tem muitos obstáculos na reta final para pouso, que obrigam (o piloto) a se aproximar (em voo) um pouco mais alto. No caso de uma aeronave como essa, com mais velocidade (mais de 200 km/h para pousar), fica pouco espaço para o procedimento”. O comandante da base, major-aviador Olympio de Carvalho, disse ao mesmo veículo que “é possível efetuar o pouso mesmo em condições adversas: é uma questão de obedecer aos limites do nosso equipamento”.

Um dia antes
Na terça-feira, dia 12, o vice-presidente da República, Michel Temer, abriu o Fórum Internacional para a Expansão do Porto de Santos, no Guarujá, dizendo que o Porto de Santos poderá ser comparado no futuro ao de Roterdã, na Holanda. E que o projeto de construção de um aeroporto no Guarujá é pensado especialmente com vistas ao desenvolvimento da Baixada Santista. “Santos é há muito tempo a porta da economia externa do País e vai sempre merecer uma atenção especial do governo”, disse Temer. No dia seguinte, Eduardo Campos deveria fazer uma palestra no mesmo evento.

Horas antes
O climatologista Rodolfo Bonafim, diretor da ONG Amigos da Água, é uma espécie de guardião voluntário do clima na Baixada Santista. Ele interrompe o sono todos os dias para dar uma espiada técnica no tempo. Na quarta-feira, 13, constatou que havia uma instabilidade provocada pela frente fria. Ventos fortes sopravam desde as 2h15. Na praia das Pitangueiras, a 12 quilômetros da pista da base aérea onde deveria pousar a aeronave com Eduardo Campos, as rajadas atingiam exatos 68 km/h. Às 3h08 ele disparou boletim para a sua rede de contatos avisando sobre as condições meteorológicas adversas. Comentou inclusive que “ultimamente, tem havido episódios de ventos fortes na Baixada Santista com frequência” e que esta era a quarta ventania forte em 25 dias. Nas horas seguintes, o tempo prosseguiu ruim para voar e exatamente às 10h02 o Cessna com Eduardo Campos caiu de bico portando uma bola de fogo no bairro Boqueirão, em Santos.




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