Política Titulo Entrevista com Kassab
‘Faltou parar o Senado para defender S.Paulo’
Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
08/08/2014 | 07:20
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Andréa Iseki/DGABC


Ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab não poupa críticas aos atuais representantes do Estado no Senado. O candidato do PSD à única cadeira em disputa entre senadores paulistas diz que faltou à bancada brigar pelos interesses de São Paulo, comparando o trabalho do grupo eleito pelo Estado ao dos blocos de Amazonas e Rio de Janeiro.

“O senador tem condições de parar qualquer Estado para buscar a solidariedade de suas partes”, defende Kassab, em entrevista exclusiva ao Diário, citando os debates para prorrogação do funcionamento da Zona Franca de Manaus e pela garantia dos royalties do pré-sal para o Rio de Janeiro.

Kassab evita rotular como será a disputa contra o ex-governador José Serra (PSDB), seu padrinho político e que também concorre à cadeira no Senado. Entretanto, não deixa de alfinetar o tucano – assim como os senadores que abdicaram do cargo no Congresso Nacional para exercer outras funções. “Estou pedindo voto para ser senador, portanto eu vou ser senador”, discorre, antecipando que não tentará, se eleito, retornar à prefeitura paulistana, a qual comandou até 2012.

O presidente nacional do PSD também cita que bandeira de mandato será Segurança, principalmente fixando percentual de investimento mínimo na área e redução da maioridade penal. Porém, evita taxar números a respeito dos dois temas. “Como é que pode São Paulo ter o mais baixo salário de policiais, onde há maior índice de qualidade de vida? Está no limite.”

O postulante ao Senado nega que alto volume de insatisfação com sua administração no fim de 2012 vá contaminar a campanha deste ano. Quando Kassab entregou o cargo, em dezembro, 42% dos paulistanos consideravam seu trabalho ruim ou péssimo. “Com o tempo, a cidade está relembrando a boa gestão.”

A pesquisa do DGABC mostra o senhor em terceiro lugar. Como o sr. avalia?
O jornal tem credibilidade e os números apresentados são o que representam o momento. A campanha está no começo e até há alguns dias eu não era candidato. Nunca fui candidato a senador. Minha candidatura representa a renovação e candidatura assim sempre começa menos representativa, por ser nova, sem muito conhecimento. As pesquisas que nós estamos tendo acesso por todo o Estado apresentam números que oscilam para cima e estão compatíveis com que o Diário realizou.

De que maneira sua candidatura se encaixa no discurso de renovação?
Nós temos candidatura que está há 24 anos (Eduardo Suplicy, do PT) e outra de quem já foi senador (José Serra, do PSDB). Então, o eleitor que quer renovar vai olhar com muito carinho e atenção as nossas propostas. O Estado de São Paulo precisa hoje renovar sua representação no Senado, porque nas últimas décadas perdeu peso político muito grande. É evidente que essa perda refere-se à atuação equivocada da nossa representação no Senado. Como exemplo, vou citar a Zona Franca de Manaus. Sem entrar no mérito de quem é a favor e de quem é contra, mas a bancada de senadores do Amazonas parou o Congresso enquanto não foi aprovada a prorrogação da Zona Franca. Em outro exemplo, os senadores do Rio de Janeiro também pararam o Congresso nacional enquanto o Congresso não atendeu às reivindicações dos royalties do petróleo.

Até os últimos dias do prazo eleitoral o sr. estava colocado como candidato ao governo do Estado. Como se definiu esse projeto ao Senado?
Tínhamos decisão no partido de apresentar candidatura a governador que pudesse ser traduzida no projeto de renovação do Estado de São Paulo. Iniciamos caminhada como pré-candidato ao governo, representando essa renovação. Ao longo do caminho, identificamos outra candidatura também de renovação, que é a do Paulo Skaf (PMDB). Ele nunca ocupou cargo público. Perante à sociedade, ao eleitorado ele representou a renovação de maneira mais efetiva esse espaço.

Como é enfrentar o Serra, seu padrinho político?
As circunstâncias nos levaram a essa situação. Eu saí candidato, ele ainda não era (candidato). Desejo boa sorte a ele na campanha. Que ele contribua para que tenhamos campanha propositiva, trazendo suas ideias, propostas, que eu farei da mesma maneira. E tenho certeza que o Suplicy o fará.

De alguma maneira surpreendeu essa decisão do Serra?
Não. Acho que ele deve ter feito suas reflexões e decidiu sair, mesmo sabendo que eu era candidato. Estou muito motivado, confiando muito na vitória, na proposta de renovação. E espero com isso ter a oportunidade de ser durante oito anos o senador de São Paulo. O eleitor pode ter certeza que eu quero ser senador. Meu projeto é ser senador.

Há alguma semelhança nesta candidatura com a disputa eleitoral pela prefeitura de São Paulo em 2008?
Sim. É candidatura de renovação. Na candidatura de prefeito, tinha de um lado o Geraldo Alckmin (PSDB), que tinha sido governador, candidato a presidente da República. Hoje é o Serra. E do outro lado tinha a Marta Suplicy (PT), que tinha sido prefeita de São Paulo, com o apoio do presidente Lula e toda a popularidade do PT. Hoje não é a Marta, é o Eduardo Suplicy. Portanto são circunstâncias bastante semelhantes que nos permitem na nossa coligação se apresentar como uma candidatura de renovação.

Hoje temos três senadores por São Paulo: Um que está há 24 anos, no caso do Suplicy, a Marta, que está licenciada para ser ministra da Cultura, e o Aloysio Nunes (PSDB) concorrendo a vice-presidente da República. O sr. acha que o cargo no senado acaba sendo de suplentes?
Eu sou candidato para ser senador por oito anos. Eu quero ser senador. Em São Paulo, temos visto que o senador quer ser governador, presidente da República ou ministro e acaba deixando de lado o seu compromisso quando pediram o voto para ser senador. E estou pedindo voto para ser senador, portanto eu vou ser senador.

É algum recado para o Serra, que desde a década de 1980 não encerra mandato?
Não. Senão seria também recado para a Marta, que deixou a função de senadora. Também para o Aloysio, que deixou para ser candidato a vice. O Mário Covas deixou a função, o Fernando Henrique Cardoso deixou a função...

O sr. eleito senador não disputará a prefeitura de São Paulo?
Não disputo a prefeitura de São Paulo em 2016, mas gostei muito de ser prefeito e acho que fui um bom prefeito.

As pesquisas indicam altos índices de rejeição da sua administração na prefeitura. Essa rejeição já se dissipou?
São coisas diferentes. Nos últimos meses da gestão, em função da eleição, sete candidatos da oposição e os candidatos na fase eleitoral apontam os problemas que não foram solucionados. Não caberia a eles apontar o que foi feito. E eu não era candidato. Então, com o tempo, a cidade está relembrando da boa gestão.

Há algum projeto que o sr. vai encampar caso seja eleito?
Nós vamos criar verba vinculada à Segurança pública, porque chega de ouvir governador pedir dinheiro. Qualquer pesquisa que se faça no Grande ABC vai apontar a Segurança como a maior preocupação. E qualquer pesquisa por todo Estado. Se é prioridade, depois veremos quais gastos serão cortados, mas vamos colocar mais recursos na Segurança para pagar melhor os policiais, para contratar mais policiais, para investir em tecnologia e infraestrutura, para recuperar a capacidade de investigar da Polícia Civil. Serei o candidato da Segurança.

O senhor defende a redução da maioridade penal? Para quantos anos?
Defendo. Sobre a idade, precisa ser analisado ao longo da discussão do projeto.

Qual o percentual que deveria ser destinado à Segurança?
O necessário para que a gente possa atender todas essas demandas. E com isso possa ter Segurança melhor. Como é que pode São Paulo ter o mais baixo salário dos policiais, onde há o maior índice de qualidade de vida? Está no limite. A Saúde e Educação estão no limite. E esse é o papel do Senado. O senador tem condições de parar qualquer Estado ou o Senado para buscar a solidariedade de suas partes. Que cada Estado defenda seu interesse.

O sr. não acredita que, assim como na Câmara, os interesses sejam partidários e não para o Estado?
Se não pensam assim (em união), estão errados e no lugar errado e não merecem estar lá.

Há alguma projeção em lançar candidato a presidente e em que ano?
Quando grupo de pessoas resolve se associar e criar empresa quer o mais rápido possível liderar o mercado com a posição da empresa, do faturamento, vendas. O PSD quer, sim, um dia chegar à Presidência da República. Se em 2018 tivermos condição, lançaremos. Temos bons nomes, como o Henrique Meirelles, (Guilherme) Afif Domingos e outros com condições e experiencias.

Como o sr. tem visto a disputa pela Presidência? O PSD está apoiando a presidente Dilma e na nossa pesquisa mostra aqui na região empate técnico com Aécio Neves.
A eleição ainda não começou efetivamente. Começou para os meios de comunicação, para os políticos, mas o eleitor e a sociedade, ela começa a se preocupar quando começa o horário eleitoral gratuito. Então, no fim de agosto é possível fazer nova avaliação. Todos sabem que a presidente Dilma teve início de mandato com muita dificuldade. As circunstâncias da economia não eram as mesma do presidente Lula. Porém, nessa segunda metade ela vem recuperando.

O sr. acredita que haverá vitória no primeiro turno?
Todo candidato se esforça para ganhar no primeiro turno, mas todos têm de estar preparados para o segundo.

Como sr. avalia a gestão do prefeito Haddad em São Paulo?
Ele ainda não chegou na metade do mandato e eu só vou avaliar quando chegar nesse período. Então, em janeiro de 2015 vou emitir minha opinião. 




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