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Exportador prevê demora para receber

Com calote argentino, negócios ficarão ainda mais difíceis; hoje pagamento já leva até 120 dias

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
05/08/2014 | 07:16
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O calote ''técnico'' da Argentina deverá dificultar a vida dos exportadores, que preveem demora ainda maior para receber os pagamentos resultantes de vendas efetivadas para o mercado vizinho.

Mesmo empresários do Grande ABC que têm relacionamentos comerciais duradouros com companhias daquele país avaliam que devem sentir os reflexos desse cenário – o governo da presidente Cristina Kirchner não conseguiu pagar parcela da dívida externa, apesar de ter dinheiro para isso, por causa de decisão da Justiça norte-americana, que bloqueou os recursos para que pague também dívida com fundos especulativos, chamados de “abutres”.

Segundo especialistas, isso deve fechar as portas do setor bancário para empresas argentinas importarem. Também deve fazer com que a demanda esfrie e o peso (a moeda) se desvalorize, além de gerar o bloqueio de vendas ao Exterior, por parte desse governo, para promover superavit comercial (exportações maiores que importações).

“A expectativa é de dificuldade ainda maior”, relata Anuar Dequech Júnior, que é vice-diretor da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Diadema e tem indústria que faz cadinhos (um tipo de recipiente que resiste à alta temperatura) para o segmento da fundição.

Ele acrescenta que desde o início do ano já observa problemas em receber. O cliente deposita o dinheiro, mas o Banco Central argentino leva até 120 dias para liberar os recursos. Normalmente, seu prazo era de 60 dias. Por causa da confiança no cliente, não espera calote, mas esse atraso deve atrapalhar. O país vizinho representa 20% das vendas de sua companhia.

Outro empresário, o vice-diretor da regional do Ciesp de São Caetano, William Pesinato, que é diretor de fábrica de artigos hospitalares em São Caetano, também teme que as barreiras para a importação de produtos do Brasil aumentem. “Já tivemos a experiência de ficar retidos na alfândega.”

Sua empresa, embora não tenha vendas frequentes para esse mercado, pretendia intensificar o comércio com a Argentina. No entanto, o momento parece não ser muito bom para isso. “Agora, com o problema do default (o calote), a coisa se agrava”, diz Pesinato.

A questão é especialmente complicada no Grande ABC, por causa da forte relação comercial das empresas da região com o mercado platino. Do total exportado por São Caetano, por exemplo, 75% vão para esse destino. No caso de São Bernardo, representa quase 45% (ou US$ 767 milhões). E em relação a Santo André, 23% (US$ 82,6 milhões) da receita com encomendas a clientes internacionais vêm desse país. Somando as sete cidades, a participação de nossos hermanos fica em 39% das vendas externas da região.


Brasil poderia ajudar com linha de crédito, diz AEB

A criação de linha especial de financiamento das importações de produtos argentinos, com prazo amplo de carência, seria a única ajuda possível do Brasil à economia da Argentina, avalia o presidente da AEB (Associação Brasileira de Comércio Exterior), José Augusto de Castro. O governo brasileiro também teria de assumir o risco soberano das operações.

Castro defende essa iniciativa não apenas como ajuda ao país vizinho, mas especialmente como meio de o Brasil concorrer com a presença crescente da China na Argentina.


Sandra Rios, diretora do Cindes (Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento) e sócia da Ecostrat Consultores, avalia, no entanto, que a ajuda brasileira estará limitada à seara governamental. Do setor privado pouco se poderá esperar, afirma ela, por causa do ambiente de insegurança jurídica construído nos últimos anos pelo governo argentino, que não favorecerá iniciativas de empresas privadas brasileiras. (do Estadão Conteúdo)
 




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