Prestes a perder a vida, um escritor que vive em meio a um regime totalitário se desespera para salvar seu pescoço não para sobreviver, mas para ver suas obras não serem queimadas. Assim resume-se a trama de 'The Pillowman - O Homem-Travesseiro', que é levada à cena no Sesc Santo André hoje e amanhã.

O texto do inglês Martin McDonagh vem para discutir a responsabilidade que cada artista tem com sua obra e a possibilidade que a arte traz de interpretar e redefinir a realidade do mundo. Cheia de perguntas, mas não tantas respostas, a peça soa como um tributo à arte de contar uma história.

Pode um artista ser culpado pelo sentimento que sua obra provoca nos outros? Uma acusação pesa sobre o protagonista. Há um tenebroso infanticídio na cidade. A relação entre o escritor e as mortes é estabelecida através dos seus escritos, considerados pelos outros tão grotescos como os assassinatos.

Humor negro e drama se alternam na narrativa, que flerta com a mistura de teatro e cinema em uma proposta cênica em que a agilidade da ação, repleta de reviravoltas, agrada a gregos e troianos. A estética grosseira toma conta da montagem, mas não é só de horror que vive a narrativa. Momentos de ternura também ganham vez na saga do escritor incompreendido.

A escolha do texto recai sobre o desejo dos diretores - Bruno Guida e Dagoberto Feliz - de falar sobre o senso do politicamente correto, que há um tempo vem podando e pasteurizando a vida e tornando marginais várias formas de expressão artística. Muitas vezes por interesses escusos que atrapalham qualquer forma de debate e pensamento que o verdadeiro exercício livre da arte pode produzir.

The Pillowman - O Homem-Travesseiro. Teatro. Hoje e amanhã, às 19h. No Sesc Santo André - Rua Tamarutaca, 302. Tel.: 4469-1200. Ingr.: R$ 5 a R$ 20.